quarta-feira, 25 de maio de 2011

Palavras, apenas... Palavras, pequenas... Palavras, ao vento...

As próximas três semanas serão temáticas. "Por que temáticas?", vocês me perguntam. Bem, eu vou falar sobre palavras, livros, textos... brincar um pouco com metalinguagem. Apesar de o texto de hoje não ser exatamente sobre o "poder da palavra", ele é feito de palavras, com palavras, por palavras... Enfim, acho que vocês entenderam.
Considerem este texto um experimento, pois ainda estou tentando descobrir como brincar com as palavras. Esta foi uma das possibilidades. Haverá outras.
Comente, divulguem e aproveitem este espaço que é tanto de vocês quanto meu!



Palavras
Bruno Leandro


Um bar. Um homem. Uma mulher.
Uma cantada. Uma recusa. Uma insistência. Um repúdio.
Uma provocação. Uma briga. Uma faca.
Uma morte. Um corpo.
Uma fuga.
Um homem. Um morto. Um canalha. Um corpo.
Uma mulher. Uma fuga. Um desespero. Uma culpa.
Um dono. Um bar. Uma preocupação. Um policial. Uma investigação.
Uma mulher. Um medo. Uma cabana. Um segredo.
Um esconderijo. Um tempo. Um depois. Um alívio.
Um cão. Um policial. Um rastro. Um sinal.
Uma cabana. Um policial. Uma descoberta. Uma prisão.
Um choro. Um medo. Uma culpa. Uma prisão.
Um julgamento. Um confrontamento. Uma versão.
Um juiz. Um júri. Uma questão.
Um advogado. Um promotor. Uma confrontação.
Um depoimento. Uma verdade. Uma absolvição.
Uma mulher. Um alívio. Uma libertação.
Um pai. Uma mãe. Um filho. Um irmão.
Uma comemoração.

quinta-feira, 19 de maio de 2011

Um vídeo que foge do tema do blog, mas que vale à pena ser visto.

Olá, pessoal.
Sei que, a princípio, este blog é de contos, mas existem coisas que não devem ser esquecidas ou caladas. Por isso mesmo, fugindo aos posts de contos, estou colocando hoje este vídeo do Youtube, da professora Amanda, do Rio Grande do Norte, que discursou em audiência pública frente a deputados e à secretária de educação daquele estado, calando-os a todos em seus discursos vazios.
Não pude deixar passar e espero que todos vocês entendam como eu me senti.
Sem mais, vejam o vídeo:


quarta-feira, 18 de maio de 2011

Fusão de textos.

Olá a todas e todos. Hoje resolvi trazer uma novidade para vocês.
Lembram-se dos dois últimos textos que eu postei aqui no blog? Máscaras e Maniqueísmo? Bem, o texto de hoje é uma homenagem a eles. Explicando melhor, o objetivo deste texto é, de alguma forma, unir a essência do texto "Máscaras" com o "Maniqueísmo", mostrando, então, como pessoas más usam máscaras "boas", fingindo ser quem não são, assim como pessoas boas são obrigadas, por vezes, a travestirem-se de outras para sobreviver ao mundo.
Aproveitei, também, para brincar um pouco com os tempos verbais, situando os personagens em contextos de momentos diversos, enquanto exemplificava as diferenças entre cada em relação a si e aos outros.
Acho que consegui meu objetivo, mas somente vocês podem me confirmar. Então, o que acham de olhar este novo texto?


Máscaras e Maniqueísmo
Bruno Leandro

 
           O relógio tocou. Eram horas. O dia ia começar.
Ele levantou, olhou no espelho e se espantou: estava com seu próprio rosto. Com medo do que poderia acontecer, correu para a mesa de cabeceira e pegou a máscara de reserva na gaveta do móvel. Colocou-a, voltando a ser completo. Aquele tímido e recatado homem agora parecia novamente duro e austero como todo presidente de empresa precisa ser para sobreviver ao mundo negócios.
Em outro ponto da cidade, um empregado acorda. Este é esperto, não tira a máscara nem para dormir. Está um pouco suja e ensebada, mas nada que a água e sabão do banho não resolvam. É assim mesmo quando usamos uma máscara o tempo todo. Às vezes até nós mesmos nos confundimos e acreditamos que somos aquilo que aparentamos.
A secretária do presidente passa e maquiagem sobre a sua máscara. A máscara é sedutora, mas não custa dar uma ajudinha. Quem sabe se melhorando a máscara ela não melhora também o cargo e o salário? Afinal, não é assim que todos melhoram de vida? Colocando as máscaras certas?
Dali a instantes acordará o sócio. Ele levantará calmamente, sem pressa alguma. Tomará seu café-da-manhã tranquilamente e lerá seu jornal do dia, enquanto tudo e todos lhe servem como se fosse o centro do universo. Mas, pelo menos para si mesmo, ele é e sempre será. Sairá de casa tarde, sem nem mesmo se preocupar se tem ou não compromissos durante o dia. Só porá a máscara em frente a seu sócio, mostrando-se solícito, em seguida, quando o mesmo não estiver próximo, tirará a máscara, para tratar os empregados como acha que eles merecem.
O porteiro acordara bem cedo. Não gostava do emprego, mas era grato por ao menos ter um que sustentava a sua família, ainda que mal. Sempre fora o primeiro a estar a postos, pois seu trabalho dependia disso. Era ele quem abria as portas a todos, dos patrões aos empregados, de chefes a subordinados. Ele sabia que seu trabalho não era importante para os outros, mas era seu ganha-pão e nada podia fazer quanto a isso. Sendo assim, levantara cedo, cedo demais para qualquer ser humano. Tomara o parco café-com-leite aguado e o amanhecido pão com manteiga comprado de véspera, já que nem os padeiros tinham coragem de acompanhar-lhe os horários. Ao chegar à portaria seu dia começara e pusera a máscara da subserviência em seu rosto, pronto para o começo de um novo dia.
Teríamos também o contínuo, que se arrumaria cedo, mas não tanto quanto o porteiro. Ele comeria, escovaria os dentes e até sairia a trabalhar. Chegaria à empresa, sempre cheio de alegria e disposição calculadamente fingidas e sairia para a entrega das correspondências e os pagamentos de banco do dia. Mas, ele não acordou a tempo. Por isso, assim que acordar, ele vai colocar sua máscara, ligar para a empresa e avisar que não vai, pois está “doente”.
Por último nesta história, temos o ex-chefe do almoxarifado. Ele era o responsável pelo estoque da empresa. Nem mesmo uma simples borracha ia de um ponto a outro sem que ele tomasse conhecimento. Todas as manhãs, se preparava para um novo dia, se julgando importante por ter um cargo bom, mas sem se tornar prepotente apenas por isso. Ele cuidava de tudo, lidava com todos, mas não abaixava a cabeça para nenhum. Mas agora ele não é mais chefe, não é mais nada na empresa e poucos se lembram dele. Não é importante para mais ninguém. Não pensem que há algum motivo secreto ou obscuro, que ele tenha sido demitido por justa causa ou que tenha morrido. O motivo era porque ele já estava aposentado. Esta foi a razão pela qual sua máscara não era mais usada, ficando jogada todos uns dias em um canto qualquer, acumulando poeira e parecendo tão inútil quanto ele se sentia agora...

quarta-feira, 11 de maio de 2011

Maniqueísmo.

O bem e o mal. O mal e o bem. E algo estranho no meio!
Este texto de hoje é curto e vai direto à ferida.
Eu gosto muito da simplicidade do que escrevi, pois o objetivo é só mostrar um pouco de pensamento livre. Sobre o que pensamos ser o mal e sobre o que achamos ser o bem. É, também, sobre como julgamos os outros com base em nossas próprias crenças. É claro que vocês podem não concordar comigo. Ou podem. Vocês são livres para decidir e a escolha é toda sua.
Para sua apreciação, senhoras e senhores:



Maniqueísmo
Bruno Leandro

Vinham juntos o bom, o mau e o feio.
O bom consolava o feio de sua feiura.
O mau acusava o feio de todos os males do mundo.
O feio era infeliz, pois dele só tinham horror ou compaixão, nunca sentindo carinho, amor ou amizade.
O bom confortava o feio. O mau debochava dele. O feio chorava por si mesmo.
O bom dizia ao feio que tudo ia melhorar, que agora havia plásticas e cirurgias, que ele não precisaria mais ser feio.
O mau ria da cara do feio, falava que sua feiura não tinha cura, que nada poderia mudá-lo.
O feio se perguntava se haveria plástica de alma, ou se nada mudaria nunca, sendo sempre o alvo da pena ou chacota de outros.
O bom acreditava que o feio, apesar de feio, tinha um bom coração.
O mau achava que o feio, por ser feio, não prestava para nada.
O feio, como era feio, sentia-se feio.
O feio se suicidou. O bom chorou por ele. O mau também chorou por ele, pois não tinha mais a quem atormentar.

quarta-feira, 4 de maio de 2011

Máscaras

A sociedade é feita de máscaras. Isso é um fato, não uma suposição. "Eu" sou uma pessoa em casa, outra no trabalho, ou ainda na faculdade e mais alguém com os amigos, dependendo de quais amigos sejam.
Pensando nisso, resolvi escrever este texto, que fala sobre como a sociedade nos vê e a obrigação que ela nos impõe. Aliás, como gosto de brincar com os amigos: "essa entidade chamada sociedade". Afinal, sempre que falamos da sociedade, parece que não fazemos parte dela, não é mesmo?
Bom, meus prefácios são tão grandes que eu corro o risco de escrever mais do que o meu texto, que foi mais pensado e planejado do que o que estou escrevendo aqui. (Ou será que não?).
Sem mais delongas, apresento:



Máscaras.
Bruno Leandro



Existia um homem que era chamado de "Eu". "Eu" andava para todos os lugares com o rosto descoberto. As pessoas achavam "Eu" estranho, pois todos usavam máscaras e não mostravam nunca seu verdadeiro rosto, suas máscaras sempre mostravam uma aparência externa que não era a sua. Então, vendo que não seria aceito, "Eu" decidiu que colocaria uma máscara e foi a uma loja comprar uma. A primeira que "Eu" viu e decidiu usar foi uma máscara colorida, alegre, alto-astral. Então "Eu" saiu na rua com essa máscara e todos começaram a olhar para "Eu" com mais naturalidade, aceitando "Eu" como parte daquela comunidade e sociedade. "Eu" então decidiu que iria usar outras máscaras e comprou várias: a do respeitável, a do esforçado, a do preocupado, a do bom-moço... enfim, "Eu" comprou tantas máscaras quantas pôde carregar. "Eu" sempre levava as máscaras consigo, para usar de acordo com a ocasião, mas era muito complicado carregar nos braços, pois eles ficavam ocupados demais e "Eu" não podia fazer outras coisas. "Eu" decidiu então colocar todas as máscaras de uma vez, mas tinha outro problema: as máscaras caíam e não encaixavam direito umas sobre as outras. Então "Eu" teve outra idéia: Iria colar as máscaras uma sobre as outras, com uma cola fraca, pra que pudesse, então, trocar de máscara sempre que quisesse e o mais rápido possível. Mas "Eu" pegou a cola errada, e as máscaras se grudaram umas às outras. E pior: Um pouco da cola escorreu e prendeu as máscaras ao seu rosto. "Eu" nunca mais poderia tirá-las! Então, "Eu" ficou desesperado e tentou arrancar as máscaras... bateu a cabeça na parede, enfiou unhas e dedos, sangrou por dentro... não adiantou muito. Mas o seguinte aconteceu: pedaços das máscaras caíram, de forma que acabou ficando um pedaço de cada uma das máscaras que "Eu" tinha posto. A situação, então, ficou pior. Agora "Eu" não tinha mais máscaras diferentes e, sim, uma única, um quebra-cabeça de todas as outras. E "Eu" nunca mais poderia tirá-las do rosto...