quarta-feira, 13 de julho de 2011

A Revolução das Mulheres

E se tudo começasse de novo? E se os homens quisessem ser novamente os donos das mulheres? E se eles conseguissem? E se... E se... E se...
O que essas mulheres poderiam fazer quanto a isso?


Nova Amazônia
Bruno Leandro

Começou em um dia como outro qualquer. Os homens voltaram a tentar mandar em suas mulheres. Discussões eram caladas com agressões físicas. Brigas eram motivos para espancamentos. O sistema de justiça ficou cego a tudo, virando as costas às suas filhas, como se as deserdando de seus direitos.
Mães, filhas, irmãs, esposas e desconhecidas tornaram-se reféns dos homens. Eles recuperaram seus direitos sobre elas, como suas propriedades que eram, fazendo exatamente o que queriam, pois sabiam que nada lhes aconteceria.
 Por anos a situação se manteve assim. As mulheres perderam seus empregos e cargos, direito a voto e voz, direito a olhar nos olhos. As cabeças foram obrigadas a se abaixarem. O preço da desobediência: a morte.
Claro que houve resistências, muitas mulheres foram mortas em passeatas, por reagirem às agressões, ou simplesmente por tentarem fugir do mal que as afligia. Seu mundo agora era puro caos e a vida era incerta, com a certeza apenas da morte.
Um dia, porém, sem que nenhum homem soubesse, um sussurro começou a se ouvir, transformando-se aos poucos em burburinho e culminando em um grito de liberdade: Nova Amazônia!
Era fato que qualquer mulher que tentasse fugir ou reagir seria morta. E a maioria realmente foi. Mas isso não significava que não houvesse mulheres que conseguissem fugir. Essas foram as que se reuniram em um local secreto, desconhecido do mundo em geral, que resolveram chamar de Nova Amazônia, um lugar onde as mulheres seriam livres e nunca mais se submeteriam a um homem novamente em suas vidas.
Nova Amazônia não era mais do que uma lenda entre as mulheres que ouviam falar dela, nenhuma acreditando em sua real existência. E era bom que fosse assim, pois os homens logo começaram a ouvir as conversas e a torturar as mulheres em busca de informação sobre a localidade do refúgio. Mas nenhuma delas sabia, pois as que haviam sido libertas só descobriam onde o local era quando nele chegavam e apenas as veteranas partiam para libertar suas irmãs.
Com o tempo, os homens começaram a acreditar que a localização do lugar seria o estado do Amazonas, pelo nome óbvio, uma vez que a Floresta Amazônica serviria como esconderijo quase perfeito, em vista de sua cerração entre as árvores e de várias de suas partes serem obscuras. Não poderiam, porém, estar mais enganados, uma vez que a Amazônia referia-se não ao estado, rio ou floresta, mas às guerreiras da antiguidade grega que viviam em uma comunidade independente dos homens, onde as mulheres eram vistas como iguais e os próprios homens como inferiores, não sendo permitido a estes a convivência com aquelas.
Meses se passaram e o número de mulheres cativas se tornou cada vez menor. Os homens se tornavam mais e mais violentos com as que sobravam, em sua grande maioria mulheres jovens, pois as crianças e idosas foram resgatadas logo que fora possível, depois que havia mulheres suficientes para lutarem pela causa de suas liberdades.
Muitas das que formam resgatadas choraram e suplicaram para levar seus filhos homens, ainda crianças ou bebês, consigo, mas a ordem era única: nenhum homem era permitido, pois era deles e de sua crueldade que fugiam. As fugitivas, no entanto, não eram cruéis e, quando as que fugiram grávidas davam à luz homens, esses bebês eram devolvidos ao mundo de seus pais e esquecidos para sempre.
Alguns anos se passaram e todas as mulheres que sobreviveram ficaram livres. A comunidade de Nova Amazônia prosperou e um mundo de paz pensou-se possível para elas. Seu mundo permanecia escondido daquele em que os homens governavam com ódio e desprezo pela vida de seus semelhantes. Tudo estava perfeito. Infelizmente, isso não continuaria por muito tempo.
Um grande segredo não pode permanecer escondido por muito tempo e isso foi o que aconteceu. Homens descobriram a localização de Nova Amazônia e se prepararam para a guerra. Eles achavam que seria fácil, que derrubariam aquele estado secreto sem dificuldades. Eles se enganaram.
Começou em uma madrugada, a perfeita hora para os ataques furtivos e covardes. Um destacamento de homens se dirigiu ao que seria a localização de Nova Amazônia, uma área florestal que, vista por cima, não dava indícios de sua real natureza.
Com seus tanques de guerra, fuzis e bazucas, os homens, que eram do exército e, portanto, grandes estrategistas, atacaram o acampamento, com a intenção de matar torturar e estuprar suas vítimas. Foi aí que perceberam seu grande engano.
A área invadida não era um refúgio. Era uma armadilha.
As mulheres que estavam no acampamento eram em maior número e muito mais bem armadas que seus inimigos. Não sobrou nenhum deles vivo. Nem inteiros. Os que não foram explodidos pelas minas terrestres foram destruídos em combates à distância, mas também em alguns físicos. Entre as rebeladas havia mulheres com capacidade de combater, com conhecimento de guerra e, sobretudo, com vontade de viver.
Poucas foram as baixas entre as rebeladas. Poucas feridas, quase nenhuma morta. Elas conheciam o terreno. Eles, não.
Para que a informação sobre o que aconteceu na floresta não fosse perdida, a rede mundial de computadores foi invadida, assim como a rede mundial de satélites. Os filmes de guerra e os jogos esportivos foram substituídos por cenas de guerra real e de um esporte sangrento. O mundo todo assistiu, com horror, à dizimação do destacamento. Nenhum homem soube como reagir, exceto que com ódio e fúria. As mulheres teriam que baixar a cabeça. Elas teriam que pagar!
Treinamentos, pesquisas, espionagens. Todos os recursos possíveis foram aplicados à guerra dos sexos. Os homens lutavam, melhoravam suas técnicas de matar. Criavam armas mais poderosas. Aumentavam seu perigo. Mas, seria aquilo o suficiente?
Os homens esqueceram, mas entre as mulheres havia também combatentes, cientistas, mulheres da guerra e da ciência. Mulheres que, ainda por cima, precisavam garantir sua sobrevivência e daquelas que não conseguiriam lutar por si mesmas. Os homens lutavam para destruir. As mulheres, para defender.
Meses, anos e algumas décadas foram se passando. Perdas eram sentidas por ambos os lados, mas, a cada mulher caída, vários homens pereciam. Os homens cresciam com ódio do diferente, as mulheres cresciam com esperança de um futuro melhor para si mesmas.
Então veio o dia, um fatídico dia para os homens e um dia glorioso para as mulheres, onde a situação se inverteu.
Naquele dia, o império viril sofreu sua queda, quando as mulheres cercaram a capital masculina. Não havia homens suficientes para defender o local e todas as bombas foram sabotadas. Inclusive, e felizmente, as atômicas, que envenenariam a terra e não trariam vencedores para nenhum dos lados. O líder varão caiu. E o governo do mundo foi entregue às mulheres. Houve grande comemoração em Nova Amazônia. Houve choro e gritos de felicidade. Houve a crença de que a paz chegaria finalmente. Quanto aos homens, estes temeram por suas vidas, pois não sabiam o que aconteceria com eles dali para frente. Eles estavam certos.
As mulheres se vingaram de tudo o que sofreram. Homens foram submetidos a um regime onde não poderiam abrir suas bocas e onde sua opinião não era tolerada. Aquele que tentasse reagir era punido com a prisão. Casos extremos levavam à morte. Uma ditadura substituiu a outra.
Não era um final feliz e não houve perdão. Mas a história não tratava disso. As mulheres não conseguiram sua liberdade de volta. Pelo menos, não só isso. Aquela era também a vingança perfeita por tudo o que haviam sofrido. E, como todos sabem, a vingança sempre foi melhor do que a paz.

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