quarta-feira, 18 de julho de 2012

O que me causa mal-estar

O que me causa mal-estar
Bruno Leandro

Sabe o que me causa mal-estar? É algo bem simples, mas de uma profundidade terrível: o desprezo pela juventude. Me causa um mal-estar horrendo ver como os mais velhos desprezam os mais jovens apenas por serem jovens. Se é jovem, é imaturo. Se é jovem, não tem qualidade. Se é jovem, não saber o que quer da vida. “A juventude é desperdiçada pelos jovens” – repetem a citação como papagaios, sem sequer saberem sua autoria ou propósito.
Não sou mais tão jovem (29 anos, quase um balzaquiano!), mas não posso deixar de me revoltar com tais afirmações. É como se um jovem não tivesse capacidade, posto que jovem. É como se um jovem não tivesse inteligência, já que jovem. É como se um jovem não tivesse potencial, ainda que jovem. Isso me irrita.
As pessoas têm uma tendência enervante de olhar para seu passado e achar que tudo era melhor em suas respectivas épocas. Se isso é mesmo verdade, as ditaduras e a época da escravidão devem ter sido maravilhosas, uma vez que já foram o passado de alguém. Eu não consigo concordar com essa mania de achar que o presente é enfermo e que o futuro é apenas um buraco negro que suga a esperança e a felicidade. Parece até que o daqui pra frente é apenas um degrau em direção ao fim de tudo. É muito triste esse tipo de pensamento. E hipócrita.
Acho incrível a hipocrisia das pessoas que criticam os jovens. São pessoas que, se não o são em suas vidas diárias, estão naquele momento amargas, desgostosas da vida e acham que precisam humilhar alguém para serem melhores e mais felizes. Quem são as vítimas escolhidas? Os jovens. No entanto, são essas mesmas pessoas as que dariam tudo para voltar ao passado e fazer tudo de novo, talvez até do mesmo jeito. Teriam cometido os mesmos erros, feitos as mesmas besteiras, falado as mesmas bobagens e vivido suas vidas da mesma maneira que viveram no passado. Quando alguém diz que “a juventude é desperdiçada pelos jovens”, está dizendo que faria melhor, que viveria melhor, que seria um melhor jovem do que os que aí estão. Será? Acredito que não. Eles tiveram suas chances. Claro que podem usar a desculpa: a maturidade nos trouxe mais sabedoria e por isso seríamos melhores jovens. Eu duvido. Se não são melhores pessoas de sua própria idade, por que seriam melhores jovens?
Então, este é meu mal-estar: a maldade e a negatividade jogadas por sobre os ombros dos jovens, a dúvida que desejam que os jovens tenham sobre suas capacidades e essa mania que as pessoas têm de achar que são superiores umas às outras por motivos que sejam: mais dinheiro, mais poder ou, no caso aqui mencionado: mais idade. Porém, se tal idade não trouxe compaixão, benevolência e tolerância, porque os faria melhores, já que não trouxe mais sabedoria?

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Os Dez Direitos do Leitor

Tudo bem, pessoal? Hoje o post é em formato diferente e não vai ser um texto meu.
Recebi esta imagem muito interessante no Facebook e achei legal compartilhar com vocês. Espero que gostem!


Eu pratico quase todos os direitos, exceto o primeiro e o segundo. Para mim, é quase impossível não ler, não gostar de ler, ou não querer ler. E, sim, confesso que tenho livros que não terminei até hoje, mas eles estão apenas em repouso. Mesmo os piores livros que já li na vida foram terminados por mim. Parece estranho, mas é bom ler coisas ruins, às vezes. Isso ajuda a desenvolver espírito crítico. O que não podemos e nos deixar levar pelo que é ruim. Devemos é entender porque eles foram ruins e seguir adiante, evitando cometermos os mesmos erros. Uma dica importante, aliás, para pessoas que querem ser escritores um dia. Exatamente o meu caso.
Bem, eu já disse o direito que eu pratico. E vocês? O que vocês fazem, ou não, como leitores?

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Cordão Umbilical

Quantas vezes já não ouvimos a expressão "cortar o cordão umbilical", em artigos que falavam de pais que tinham filhos muito dependentes ou de filhos que tinham pais controladores demais? O cordão umbilical é um laço tão forte entre mãe e filho que se tornou um símbolo do laço entre os dois, uma laço de certa forma eterno e inquebrável, apesar de o cordão ser cortado logo nos primeiros segundos de vida do bebê. Mas, e se não fosse?



Cordão umbilical
Bruno Leandro

Quando Mário nasceu, esqueceram de cortar seu cordão umbilical. O pai ficou muito irritado com isso e quase bateu no médico e nos enfermeiros, mas foi convencido pela mulher a não fazer isso. Ele saiu do hospital jurando que iria processar a equipe médica inteira, mas a mãe acabou não ligando muito, pois acreditava que aquele cordão a deixaria mais próxima do filho. Não deixou de ser verdade, já que mãe e bebê não se desgrudaram por um só momento nos seus primeiros anos de vida.
O pai ficou por muitos anos inconformado, exigindo que a mulher cortasse o cordão. Onde já se vira uma coisa daquelas, uma mulher ligada ao filho por um cordão umbilical? Será que ela não percebia que seriam motivo de chacotas entre seus amigos e colegas de trabalho? Será que ela não percebia que aquilo nunca daria certo? Não adiantavam os argumentos, ela sempre se recusava. Ele tentou uma ou duas vezes cortar o cordão, mas, ameaçado de divórcio, acabou aceitando aquela situação incômoda.
No início, a família, amigos e vizinhos estranharam aquela novidade bizarra. Porém, com o passar do tempo, acabaram se acostumando e acharam aquela estranha ligação entre mãe e filho como algo natural, aceitável e, até mesmo, desejável. Eles passaram a achar lindo o laço natural entre os dois.
Como conseqüência natural de sua inusitada situação, Mário era muito apegado à mãe, assim como ela a ele, e não se separavam quase nunca. Foi um berreiro a primeira vez em que ele teve que ficar na creche com as outras crianças. Sua mãe não agüentou ver seu choro e acabou deixando que Mário voltasse para casa com ela. Nesse dia, ela desistiu de trabalhar, para se dedicar apenas ao filho.
Com o passar do tempo, Mário foi crescendo e, à medida que crescia, seu cordão umbilical crescia junto. Tanto era assim que, quando o menino foi à escola pela primeira vez, sua mãe voltou para casa para cuidar de seus afazeres, deixando-o com uma professora muito espantada pelo que via. Todos os coleguinhas do pequeno Mário se assustaram com o que viram, mas logo a novidade deixou de sê-lo e todos o trataram como se o cordão não existisse.
Alguns anos mais se passaram e a mãe de Mário começou a sentir o peso da sua ligação com seu filho. Mário havia entrado na adolescência e sua rebeldia misturada com seu jeito de menino mimado criado sem limites já cobrava o preço: Mário estava cada vez mais insuportável e queria coisas absurdas a todo momento. Gritava e xingava se sua mãe não lhe desse o que queria, ofendia os mais velhos e não tinha respeito algum pelos pais. O pai teve uma conversa muito séria com a mãe e exigiu que ela cortasse aquele cordão. Ela concordou. Mário, não. Derrotados, os pais se submeteram aos caprichos do filho.
Um dia, já adulto e em suas andanças por aí, Mário conheceu uma linda moça chamada Odete. Ele tentou se aproximar, achando que era um presente dos deuses para qualquer mulher que cruzasse seu caminho, exatamente como mamãe dizia.
Quando o viu, Odete tomou um susto: como podia um homem daquele tamanho ainda ser ligado à mãe pelo cordão umbilical? Ela não reagiu às cantadas do rapaz. Muito pelo contrário, apenas riu – e muito – dele. Ofendido, Mário quis saber o porquê de todas as gargalhadas e Odete não perdeu tempo em explicar. Mário não gostou do que ouviu e foi embora, largando aquela mulher de mão. O problema é que Cupido tem um senso de humor muito estranho, às vezes. A verdade é que, sem saber, Mário havia se apaixonado por Odete naquele instante.
Demorou muito, mas muito tempo mesmo, para que Mário conseguisse conquistar Odete. Para fazê-lo, ele teve que modificar seu jeito, sua atitude e seu comportamento. Mário deixou de ser o mimado arrogante filhinho da mamãe que costumava ser e começou a se transformar em um homem. Sua mãe começou a ficar preocupada com isso.
Um dia, sem mais nem menos, Mário chegou em casa com uma tesoura: havia tomada a decisão de cortar seu cordão umbilical fora. Desesperada, a mãe simulou um ataque cardíaco e foi levada à pressas para o hospital. Arrependido, Mário desistiu de sua idéia inicial. Ia manter o cordão intacto, apesar de isso não mudar seus planos.
Mário já estava decidido: iria casar com Odete. Ele fez o pedido e ela aceitou. Casaram um mês depois, sob as bênçãos dos pais dela e do pai dele. A mãe de Mário decidiu virar sogra.
Quase toda semana, a sogra de Odete ia visitá-los. Ela trazia sempre um sorriso enorme no rosto para o filho e uma cara de desprezo ainda maior para a nora. Rondava os dois mais do que mosca varejeira em pão doce de padaria. Não desgrudava do filho e não dava espaço para a nora. Ela sufocava o ambiente familiar que os dois tentavam construir entre si. Odete foi cansando daquilo, pois Mário não conseguia reagir às investidas da mãe dele, o que tornava o relacionamento entre os dois praticamente impossível. A gota d’água foi quando, durante uma discussão entre as duas, em que Odete estava totalmente certa e sua mãe estava completamente errada, Mário ficou do lado da mãe, em vez de do da esposa. Isso provocou a separação.
Odete se mudou no mesmo dia e Mário ficou inconsolável. Sua mãe, feliz porque seu trabalho ali estava feito, foi para casa e convidou seu filho a voltar com ela. Ele se recusou, mas ela imaginou ser uma questão de tempo.
Triste, Mário ficou deprimido por uma semana, enquanto sua mãe aproveitava para estreitar cada vez mais o tamanho do laço entre eles. Uma linha de costura fazia maravilhas nessas horas. O problema é que Mário já não era mais o mesmo homem. Ele precisava tomar uma decisão.
Menos de um mês depois, com flores e chocolates, Mário bateu à porta de Odete. O coração dela deu um salto ao vê-lo, mas ela disfarçou bem. Ele não. Aliás, como todos os homens.
Mário trazia três presentes consigo: as flores e chocolates já mencionados e um presente que fez Odete dar novo salto em seu interior e um pulo de surpresa no exterior: uma tesoura. Ela não precisou pensar muito para entender o que aquele presente significava, mas recusou-o. Mário ficou desapontado, achando que ela não o queria mais, mas ele havia entendido errado. Odete não estava devolvendo a tesoura, estava dando a ele. Ele entendeu e pegou o objeto.
Sem pensar duas vezes, Mário finalmente cortou seu cordão umbilical.