quarta-feira, 26 de setembro de 2012

O Artesão das Imagens e Palavras

Hoje resolvi ambientar minha história em um mundo de fantasia que ainda irei criar. Como assim? Bem, este texto é sobre um ser que criei há algum tempo e que dá título ao conto de hoje. Aliás, é errado dizer que escrevi um conto, o que fiz foi apresentar este personagem e pedir a ele que falasse brevemente sobre sua história. Então, em vez de "conto", vamos dizer que meu personagem escreveu uma espécie de mini-autobiografia.
Um pequena observação: esta não é a primeira aparição do personagem no blog, ele pode ser visto aqui e a cidade de Leandor também já existe, mas não um mundo onde eu possa colocá-la, ainda. Quem sabe eu a coloque em algum mundo já criado? Bom, ainda vou decidir isso. Questão de tempo. Por enquanto, fiquem com a biografia de:


O Artesão das Imagens e Palavras.
Bruno Leandro

Não me tornei o Artesão das Imagens e Palavras à toa. Eu o fiz porque tinha um sonho. E um dom. Eu o fiz porque tive quem acreditasse em meu sonho. E em meu dom.

Nasci e passei grande parte de minha infância na cidade de Leandor, governada pelo prefeito Gandar, um dos homens mais inteligentes e gentis que qualquer pessoa na face da terra poderia conhecer. Gandar sempre fora um homem que amava a tudo e a todos e que era amado por tudo e por todos. Também era um homem que sabia reconhecer a grandeza, por ser ele próprio destinado a ela.

Não usarei de falsa modéstia ao falar de meus dons, pois isso seria desmerecê-los. O que posso dizer é que sou capaz de costurar a tinta ao papel de tal forma, que posso criar mundos inteiros a partir de minha própria imaginação. Meus mundos ganham vida própria e meus personagens parecem querer fugir de sua limitada prisão de duas dimensões. Sempre tive tal habilidade e graças a Gandar pude desenvolvê-la. Graças a nosso prefeito, que viu em mim não um órfão que precisava de ajuda, mas um artista, um artesão.
Ao observar minhas palavras, que descreviam coisas impossíveis como se fossem corriqueiras, ao ver minhas imagens, que criavam uma realidade própria, Gandar se deu conta do que eu poderia fazer e, assim, me enviou para estudar as técnicas de artes dos Nove Reinos. A partir daí, estudei e conheci pessoas incríveis, tive magníficos mestres e me tornei um especialista em minha arte.

Estudei as técnicas de criação de dragões de esmeralda com os monges de Saifin. Mergulhei com golfinhos do Pérsico em Goltran. Os aviadores de Larcar me mostraram seus céus. As damas do fogo me ensinaram as suas artes sagradas de purificação na bacia de Argelam. Taiqueras de Aguarrás, o mestre silencioso, me explicou sua habilidade de comunicação com sinais e percebi que as palavras têm muitas formas. Os eremitas de Xzion me ensinaram a respeitar as vida e a natureza e seus druidas me mostraram as verdadeiras cores das plantas e animais. As amazonas da Terra Escondida me mostraram segredos ocultos a que poucos seres do sexo masculino foram expostos. Os guerreiros de Amarante me ensinaram canções que apenas os puros de coração e de vontade inquebrantável são capazes de reproduzir. E os mestres de metal de Nânia me revelaram misturas incríveis que apenas os alquimistas de sua terra sabiam desenvolver.

Sei que tais lições pareceram incomuns e que, aos olhos de outros, eu deveria ter estudado sobre artes de escrita e pintura, mas nisso os mestres de Leandor eram tão ou mais competentes do que quaisquer outros. E, sim, tive tal educação formal. Mas Gandar percebeu que meus dons não eram apenas voltados para as coisas comuns e que eu precisaria de mais. Por isso, graças a ele, conheci uma parte significativa do mundo e por isso o serei grato eternamente. Minhas palavras se encheram de uma verdade que faz crer aos descrentes e minhas imagens reproduzem anjos e deuses em boa parte de sua glória. Não se enganem, porém. Apesar de minhas palavras, não sou um fanático religioso e minha arte é livre para representar o que for de minha vontade. É por isso que sou o Artesão de Imagens e Palavras, por que vivo pela e para a arte e porque respiro a própria arte.

quarta-feira, 19 de setembro de 2012

Asa Branca

A música Asa Branca, de Luiz Gonzaga, fala da vida difícil dos moradores do Nordeste. Apesar de muitos governos idos e vindos, ou talvez por eles, ela continua atual em uma parte de nosso país até hoje, por mais que seja difícil acreditar. Quando comecei o texto abaixo, a intenção era falar apenas de um velho homem que tocava acordeão e, por isso, mantive o título original. Porém, quando resolvi escrever que o homem tocava Asa Branca em seu acordeão, uma mudança ocorreu e a força da música me pegou em cheio, fazendo com que eu precisasse torná-la parte da minha curta história. A participação dessa música é, de certa forma, bem sutil, mas espero que apreciem a forma que ela acabou moldando para meu texto. Ao final deste post, coloquei a letra da música, para que possam apreciá-la como eu aprecio.

O Velho Tocador de Acordeão
Bruno Leandro

       Quando eu era pequeno, havia um velho senhor que tocava acordeão em uma praça aqui no meu bairro. De semblante um pouco tristonho e um olhar um pouco distante, ele chegava, sentava em um dos bancos e começava a tocar músicas do nordeste do país. Eram músicas de vários tipos, alegres, animadas, tristes, canções de saudade... não tinha um tipo de canção que ele não pudesse tocar. Lembro-me de que uma de minhas favoritas era “Asa Branca”, de Luiz Gonzaga. Uma música muito triste, de muita saudade e que retratava a dura realidade que este país sofria e ainda sofre. Apesar de triste, a música tem um tom de esperança, falando da possibilidade do retorno, da volta ao lar quando a seca passar. Uma das melhores músicas que já ouvi.

          Lembro que aquele senhor fazia daquilo uma rotina diária. Todos os dias quando eu passava de mãos dadas com a minha mãe indo para a escola, aquele senhor estava sentado em um banco da praça com seu instrumento em mãos tirando aquelas notas doces e tristes ao mesmo tempo, falando da saudade de sua terra de uma maneira que tocava o coração de todos. Os animais ficavam perto dele, como se entendessem seus coração. As pessoas passavam e ouviam os sons tirados daquela caixinha de ar mágica e seus dias mudavam, ficando um pouco mais saudosos, verdade, mas muito mais felizes. Eu era uma daquelas pessoas, um pequeno garoto que não sabia nada da vida, mas que me sentia envolvido pelo toque poderoso das canções daquele senhor.

          Minha mãe e eu, assim como outras pessoas, conversávamos às vezes com aquele senhor. Eu nunca soube o nome dele, mas conheci um pouco de sua história. Retirante, havia vindo para o Rio de Janeiro já adulto na boleia de um caminhão pau-de-arara, deixando sua família para trás, pensando em conseguir dinheiro o suficiente para trazê-los depois. A vida não foi fácil, mas ele conseguiu seu intento, trazendo esposa e crianças depois de algum tempo. Porém, quando eles aqui chegaram, ele teve uma surpresa desagradável: corte de pessoal em seu trabalho. Com isso, o dinheiro do aluguel e de seu próprio sustento ficou ameaçado e, mesmo com a ajuda de sua esposa, não conseguiram se manter a contento. Por conta disso, a mulher e os filhos tiveram que voltar para o sertão nordestino, para morar com os pais dela e, assim, tentar sobreviver mais um tempo. Ele ficou, na esperança de fazer sua vida dar certo. Muito tempo se passou, os meses se tornaram anos e aquele senhor não conseguiu mais retornar nem trazer a família uma segunda vez. Ele deixou de participar de suas vidas e perdeu a transformações dos filhos em homens e de sua esposa em uma senhora mais velha e frágil, assim como havia acontecido com ele próprio. Sua história era triste, mas apenas mais umas das muitas vividas por retirantes em todo o país. Era por isso que aquele senhor tocava aquelas músicas tão tristes, para se lembrar de sua história e, de alguma forma, continuar acreditando que era possível retornar ao lar.

          Um dia, eu estava seguindo meu caminho normalmente quando, ao passar pela praça, percebi que o velho senhor não estava em seu lugar costumeiro. Na verdade, não estava em lugar nenhum. Eu não conseguia ouvir sua música e percebi que todos tinham a mesma curiosidade que eu. Onde teria ele ido? Por que não estava ali, como sempre? Eu tinha me acostumado tanto àquela figura solitária tocando os corações e mentes das pessoas e dos animais, que já o considerava parte do cenário. E, pelo visto, eu não era o único. Quando perguntei à minha mãe sobre aquele homem, ela me disse que não sabia, também demonstrando preocupação. Apesar disso, seguimos em frente, assim eu não me atrasaria para minhas aulas. De qualquer forma, pensei eu, aquilo deveria ser apenas uma ocorrência inusitada. Logo aquele senhor estaria novamente na praça, tocando e encantando a mim e a todos. Porém, isso não aconteceu.

          Aquele senhor não retornou à praça nos dias que se passaram. Os dias logo ficaram mais longos e, aos poucos, viraram semanas. As outras pessoas, que se adaptavam rápido às mudanças, logo se esqueceram daquele senhor. Eu, talvez pela minha pouca idade e por não estar acostumado a sair de minha rotina, demorei muito tempo para esquecê-lo. E, ainda assim, não consegui. Vivia perguntando à minha mãe sobre ele. Se, no início, ela aguentava com paciência minhas perguntas, logo ficou irritada com os constantes questionamentos e disse que ele devia ter ficado doente, que talvez tivesse morrido e que, por isso, não tivesse mais retornado. Morte ainda era um conceito estranho para mim, então foi difícil aceitar que aquele homem nunca mais faria parte da vida das pessoas que passavam por aquela praça. Fiquei muito triste, por muito tempo.

          Passou-se mais algum tempo e, um dia, vi alguém muito parecido com aquele senhor sentado no mesmo banco da praça em que ele costumava se sentar, segurando o mesmo acordeão que ele costumava tocar. Tomei um susto com a semelhança, não acreditando em meus olhos. Soltando-me da mão de minha mãe, corri na direção do homem, pensando sabe-se lá o que, e fazendo um milhão de perguntas para ele, por que era tão parecido com aquele senhor, o que estava fazendo ali, por que ele não tinha dado notícias e onde ele estava, o que tinha acontecido com ele. O homem, paciente, esperou que eu retomasse meu fôlego para poder falar. Minha mãe, que a esta altura já havia me alcançado e dado uma bronca, pediu desculpas ao homem e já pensava em me arrastar, quando ele falou conosco.

          Aquele homem explicou que era filho do velho senhor que tocava todos os dias naquela praça e que, por isso, eram tão parecidos. Eu tomei um susto quando ouvi isso, pois não tinha pensado que os filhos daquele senhor já fossem adultos, apesar de isso ser meio óbvio, mas não interrompi sua narrativa. Ele continuou falando e disse que seu pai se comunicava com eles por carta todas as semanas e uma vez por mês por telefone, pois as tarifas eram caras. Era uma rotina, que nunca falhava, até poucas semanas antes, quando as cartas deixaram de chegar e o aguardado telefonema não foi dado. Aquela não era uma família de posses, sua pobreza ainda era grande, mas, desesperados, juntaram o dinheiro que não tinham e mandaram o filho mais velho para a minha cidade, para procurar seu pai. Ele veio em um caminhão de pau-de-arara, da mesma forma que seu velho pai o havia trazido na primeira vez.

          Aqui chegando, o filho não demorou a encontrar o pai, que estava muito doente, motivo pelo qual não conseguia mais escrever e, sequer, ligar. Cuidado por vizinhos, sua saúde não estava nada boa. Porém, e você pode chamar isso de milagre, divina providência ou o que achar melhor, ao ver seu filho, já homem feito, ali na sua frente, o velho senhor pareceu recobrar a força e a vontade de lutar, vencendo sua doença.
Achei a história muito bonita, mas nada daquilo explicava o porquê daquele homem estar sentado naquele banco, no lugar de sue pai. Eu já ia perguntar isso, quando ele apareceu. Saindo de um dos quiosques da praça, aquele velho senhor caminhou vagarosamente na direção de seu filho e, ajudado por este, sentou-se novamente no banco que eu considerava seu por direito. Tinha um brilho especial nos olhos e seu semblante, antes algo triste, agora tinha uma leveza e uma alegria incontestáveis.  Falando comigo, me contou um segredo: estava voltando para sua terra! Seu filho, ao vê-lo aqui no Rio e percebendo que o pai não tinha mais condições de viver sozinho, já havia arranjado tudo e, trabalhando em alguns pequenos bicos aqui e ali, havia conseguido o dinheiro que pagaria as passagens de ônibus para os dois. Demorariam menos tempo e sua volta seria mais confortável para o senhor de saúde frágil.

          Saí daquele lugar quase atrasado com minha mãe, que sorria secretamente com aquela bonita história. Enquanto prosseguíamos em nosso caminho, o senhor tomou de seu acordeão uma última vez e tocou novamente a música de que mais gostávamos: Asa Branca. Mesmo pequeno, fiquei pensando em como agora aquela música teria um significado diferente: não seria mais a história de um homem que, expulso pela seca de sua terra, havia se separado dos entes queridos e arriscado nunca mais vê-los. Aquela música não seria mais uma crônica de saudade ou de esperança. Agora, aquela canção teria um novo significado para o senhor e sua família, ela traria a mensagem do retorno, do fim do sofrimento (mesmo que não do fim da seca) do fim da tristeza e do começo de uma nova vida para todos aqueles que faziam parte da vida daquele homem.

          Nunca mais ouvi falar daquele senhor ou de sua família, mas acredito, do fundo do meu coração, que ele tenha voltado com seu filho para a sua terra e que, mesmo diante das adversidades naturais do sertão, eles tenham sido felizes por estarem juntos. Por muito tempo, ao passar por aquela praça, meu peito doía de saudade daquele velho senhor, mas esse sentimento era logo substituído pela alegria de pensar que, talvez, e só talvez, aquele homem estivesse naquele mesmo momento a vários quilômetros de distância dali, em outra cidade, em outro bairro, em outra praça, sentando em um bando diferente, mas com o mesmo acordeão, tocando várias músicas de seu já conhecido repertório, a principal delas sendo Asa Branca, agora como uma música não de tristeza, mas de felicidade.

E agora, a letra da música:

Asa Branca

Luíz Gonzaga

Composição: Luiz Gonzaga / Humberto Teixeira

Quando oiei a terra ardendo
Qual a fogueira de São João
Eu preguntei a Deus do céu,ai
Por que tamanha judiação
Que braseiro, que fornaia
Nem um pé de prantação
Por farta d'água perdi meu gado
Morreu de sede meu alazão
Inté mesmo a asa branca
Bateu asas do sertão
"Intonce" eu disse adeus Rosinha
Guarda contigo meu coração
Hoje longe muitas légua
Numa triste solidão
Espero a chuva cair de novo
Pra mim vortar pro meu sertão
Quando o verde dos teus óios
Se espalhar na prantação
Eu te asseguro não chore não, viu
Que eu vortarei, viu
Meu coração

Resolvi deixar a letra no original, com os "erros de português", pois foi assim que ela foi composta e é assim que tem de ser lida e ouvida.

Bem, este foi meu post da semana. Espero que tenham gostado. Até a semana que vem!

quarta-feira, 12 de setembro de 2012

O Assassinato do Português

Juro que não sou purista, mas tem horas em que dá vontade de ser... 

O Assassinato do Português.
Bruno Leandro

Não, esta não é mais uma piada de português. Aliás, nem uma notícia jornalística nem nada do tipo. Este é mais um dos meus textos-comentários sobre coisas que me deixam pasmo.

Ultimamente eu tenho percebido nas redes sociais uma crescente utilização de erros absurdos de português na rede. Aliás, antes de entrar nesse assunto, quero dizer que não sou purista da língua, não acho que o único português que vale a pena é o da “norma culta” (chamada de padrão, pelos linguistas) e não sou do tipo que enfia o dedo na cara dos outros apontando os erros que eles comentem. Errar é humano e eu erro muito, assim como qualquer pessoa que escreva em um computador com correção ortográfica. No entanto, eu me policio, evitando meus erros e tentando melhorar. E não tem sido isso que tenho visto na internet nos últimos tempos.

Erros são muito comuns, até demais. Na internet tem surgido o tiopês, cujo objetivo é escrever errado de propósito, mas seguindo uma lógica, na qual finais de palavras e sufixos são substituídos por outros, mas sempre com coerência. Assim, um “corram” vira “corrão”, um “foram”, vira “forão” e por aí vai, só para citar um exemplo. Sinceramente? Eu não me incomodo nem um pouquinho com o tiopês, pois você tem que saber muito bem o português para usar o tiopês corretamente, já que ele tem regras. Aliás, eu também não me incomodo tanto assim com os erros que as pessoas cometem quando escrevem rápido (erros de digitação), ou quando não sabem mesmo o que escrevem e se confundem. Como eu já disse, não sou de apontar para o nariz de ninguém e dizer: “Você está errado!”. Até tento corrigir, mas de maneira educada, se a pessoa foi educada, também. Do que eu estou reclamando, então? Dos “defensores do erro”.

Como assim, Bruno Leandro, “defensores do erro”? Bem, alguém aí já viu um post com erros ortográficos? Eu já, aliás, vários. Talvez eu mesmo tenha alguns aqui no blog. Se alguém vir, é só me avisar que eu corrijo na hora e, humildemente, vou agradecer pelo toque. Em blogs de opinião, de contos ou jornalísticos, o padrão costuma ser o de agradecimento. Porém, enquanto isso, nos blogs de humor...

Você já corrigiu algum erro em posts de blogs de humor? Já disse que alguma palavra estava errada, querendo ajudar o dono do blog para que o erro não ficasse evidente. Ou, sei lá, de repente, fez isso com a intenção de criticar, mesmo? Eu nunca, mas cansei de ver isso nesses blogs. Pessoas que, por qual seja a razão, corrigem o que está escrito. Às vezes o dono do blog se manifesta sobre o erro, às vezes não. Às vezes eles corrige, às vezes não. Porém, o problema são alguns (ou vários) dos visitantes que, por alguma razão que desconheço usam a seguinte frase pronta: “o blog é de humor, não é aula de português” ou a outra: “pra ficar corrigindo o post do blog, com certeza não tem amigos”. Ou seja, o que essas pessoas querem dizer é que você é um infeliz que não tem amigos e que erro de português em blog de humor tem que ser desconsiderado justamente porque o blog é de humor. Nossa, fiquei impressionado com tamanha sagacidade (ou falta de), melhor dizendo com tamanha pequenez de pessoas tão tacanhas que julgam os outros (sim, também estou julgando, antes que me digam isso) por umas poucas palavras e por terem corrigido algo que, obviamente, estava errado.

Sabem o que me incomoda? É que tais “defensores do erro” vão se multiplicando, espalhando pelas redes sociais, pela internet, e logo vão escapar para o mundo real. Erro na fala é até algo relativo, mas erro na escrita não é. Ele existe e precisa ser corrigido. Imaginem que cada pessoa escreva a mesma palavra de maneiras diferentes. Uma coloca o x, a outra o s, a outra o ss, uma quarta o ç, há ainda uma que coloca o c e, pode acontecer, uma última que coloque o ch ou o z. O e é substituído pelo i, o o pelo u e por aí vai. Onde isso vai parar? Não sei, e isso me assusta. Sem unidade na escrita é impossível nos entendermos, mas, de novo, não é esse o meu ponto.

Meu ponto é o seguinte: erros existem, todos erramos, não há nada de mal em errar. Mas, os erros existem para serem corrigidos, pois é corrigindo os erros que aprendemos e crescemos. Se, como dizem, errar é humano e persistir no erro é burrice, o que, então, significa defender o erro? O assassinato de português não é notícia, mas poderia ser. Também não é piada, apesar de que alguns desejem que seja...

terça-feira, 4 de setembro de 2012

Ser Homem

O que é ser homem? Muito se discute sobre isso e, além de algumas ideias pré-concebidas e estereotipadas, não existe uma definição oficial. Eu resolvi pensar sobre isso e cheguei à seguinte conclusão:


Os Sofrimentos de um Homem
Bruno Leandro

Homem sofre. Não, não estou falando isso de brincadeira. É verdade, sim. As mulheres pensam que são as únicas afetadas pelos padrões da sociedade atual, mas estão enganadas. Querem um exemplo? Meninos não choram, homens não choram.
Se um homem se sente triste, vamos beber pra espantar a tristeza. Se chora, é “sensível” (leia-se gay, no sentido pejorativo e preconceituoso da palavra). Ai do homem que soltar uma lágrima no lugar de um palavrão. Os que não forem próximos a ele vão debochar de seu sofrimento o quanto puderem. Na verdade, até alguns dos que não são tão próximos. Aliás, isso me leva a outro ponto: homem tem que ser macho!
Homem não leva desaforo para casa, tem que falar grosso, coçar o saco, cuspir no chão (se for um escarro conta pontos no quesito macheza) e olhar bunda e peito. Rosto pode, mas só pra confirmar se a gostosa não é baranga ou mocreia. Aliás, mulher não pode ser chamada de “bonita”, “linda”, tem que ser “gostosa”, porque homem que chama uma mulher de linda e não de “gata”, já sabem o que é, não é?
Homem tem que olhar a mulher como objeto sexual. Não é homem se não o fizer. Homem tem que saber um repertório de cantadas grosseiras. Homem que é homem tem que ter pegada. Homem tem que isso, homem tem que aquilo, homem tem que aquilo outro...
O que homem não pode ser? Sensível, carinhoso, desprendido, romântico. O momento é das montanhas de músculos suadas e taradas da academia mais próxima. Mulheres dizem que querem homens sensíveis, mas, ficam com os cafajestes.
Eu fico pensando... Será que realmente tudo isso aí em cima define um homem? A sociedade acha que sim. Eu acho que não. Quer dizer, acho que só isso não.
Acho que não existe uma fórmula perfeita para a masculinidade. Digo, não se pode colocar uma xícara de testosterona aqui, uma pitada de machismo ali ou cinco colheres disso, daquilo ou daquilo outro acolá. Não existe essa de “homem de verdade”. Cada um de nós é único, assim como o são cada uma das mulheres. As mulheres reclamam de não serem só corpo e atitudes, clamam serem diferentes. Porém, quando falam mal de suas desilusões amorosas,o bordão inevitável aparece: “homem é tudo igual”. Somos? Somos todos cafajestes, ou temos que ser? Somos todos montanhas de músculos? (Aliás, nada contra, acho que se cuidar e ter um corpo legal faz muito bem à saúde, mas não é o ponto aqui.) Somos todos rudes, grosseiros e uns mal-educados que pegam todas e que traem porque podem? Acredito que não.
Bem, isto aqui não é um manifesto, não é sequer um protesto em prol de que nos vejam de maneira diversa. É, antes, não uma justificativa, mas uma explicação para o título da postagem. Homem sofre se não se adéqua aos parâmetros pré-estabelecido. Contudo, sofre calado. Afinal, homem não chora, não é mesmo?