quinta-feira, 5 de dezembro de 2019

Escrevendo a diversidade

Todos os personagens do seu livro são brancos, independendo o período histórico e localização? Há poucas mulheres na sua história e as que existem vivem em função dos homens que as cercam? O máximo de pessoas com alguma necessidade especial são mendigos ou seres quase tão assexuados quanto anjos? E, falando em sexualidade, sua história não lida com as diversas facetas possíveis? Sua história pode ter um problema: falta de diversidade.
Antes de mais nada, quero deixar claro que eu não acho que uma história precise tratar de todos os temas de diversidade possíveis e imagináveis, ou vamos ter muito personagem para pouca história. No entanto, acho que diversidade é sempre algo positivo, pois enriquece nossos escritos e lhes dão um colorido diferente. Afinal, foi-se o tempo (se é que um dia ele existiu) em que o mundo era masculino, branco, heterossexual, de estatura um pouco mais alta do que a média, não portador de necessidades especiais, com inteligência de bom tamanho, bom vigor físico, magro, musculoso e destro. Inclusive, devo ter esquecido de um ou outro detalhe do que se diz como perfeição e que, queiramos ou não, foi o padrão dominante quando se contava histórias antigamente. Uma novidade: as histórias não precisam, aliás, não devem ser mais assim.
Eu acredito, de verdade, que passamos da época em que mulher não funcionava como protagonista de uma história. E, caso o fosse, era a única mulher com fala e ação em um mar de homens. Acredito que seja possível ter um protagonista feio — e não me venham achar que um protagonista não branco, seja ele negro, asiático, indígena ou de qualquer outra etnia é feio. Inclusive, o que é belo aos olhos de um pode não ser para outras pessoas, tudo dependendo do contexto. Acho que uma protagonista lésbica, gorda ou ambos não é uma desgraça para a sociedade e tenho como convicção que um portador de necessidades especiais pode viver uma história linda, seja ela romântica ou de aventura, não só histórias de superação. Afinal, são todos seres humanos e, como nós, não vivem apenas em torno de suas diferenças. Sua essência é o que os motiva e é uma parte importante do todo.
Eu gosto de pensar que coloco diversidade em minhas histórias e tento fazer com que mesmo personagens secundários tenham força na trama, se isso for enriquecê-la. E a diversidade é uma ótima ferramenta para isso. Eu não vou obrigar outros autores a terem diversidade em suas histórias, mas pode apostar que a terei nas minhas. Escrever pessoas diferentes do suposto padrão é divertido e cria boas histórias. Não estou dizendo aqui que serei perfeito, apenas que pretendo me esforçar nesse sentido, sem deixar que minha história fique monótona por todos os meus personagens serem iguais. E não se engane, não falo iguais no sentido de suas características serem as mesmas, mas iguais porque suas aparências são semelhantes. Eu não busco isso para mim.
Espero que a minha reflexão seja um convide para que vocês também pensem sobre isso. Como o assunto é amplo, talvez eu fale sobre ele outra vez no futuro. Mas o que eu gostaria de deixar claro, mais uma vez, é que não é necessário marcar todos os quadrinhos da diversidade e gritar “Bingo”, ao escrever seu livro, romance, conto, noveleta, etc. Apenas se pergunte se a sua história não ficaria melhor com personagens mais diversos. Se acreditar que ela não ficará por conta do contexto, tudo bem. Porém, eu te garanto que ela ficaria muito mais interessante para muita gente. Um livro com uma história que mostre alguém como eu? É claro que eu gostaria de ler.

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