segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O conto ou o romance?

Terminei de re-esboçar meu livro e estou a revisá-lo, reescrevendo partes que não funcionavam, cortando outras e acrescentando algo. Isso dá algum trabalho, mas é necessário para que um escrito fique bom, pois a primeira ideia, por ótima que seja, dificilmente é a melhor que podemos ter. Confesso que está sendo um ótimo aprendizado, pois, quando escrevo contos, meu planejamento sempre é mais solto e minha escrita mais espontânea. Com isso, me veio a pergunta: o que é mais fácil escrever, o conto ou o romance?
Acredito que muita gente vá dizer que um conto é mais fácil do que um romance e, embora parte de mim pense dessa forma, confesso que ponho essa parte em xeque ao pensar que um conto tenha uma limitação de palavras para causar um efeito. Eu consigo fazer isso com certa naturalidade e já me considero um bom contista. Quando quero causar raiva, medo, alegria, tristeza, apreensão, acho que cumpro a missão em poucas palavras. Porém, ao contrário dos grandes Edgar Allan Poe e Machado de Assis, eu não me planejo antes, apenas sigo os instintos. No geral, me saio bem, mas tem vezes em que isso me põe em certas armadilhas difíceis. São poucas, mas existem.
Ao escrever um romance, já não me cabe apenas jogar as ideias no papel e fazer o melhor com o que tenho. Ou melhor, me cabe, mas tudo precisa ser mais bem organizado e explicitado, deve haver algum planejamento prévio. Enquanto um conto pode se resolver em poucas linhas, um romance não terá apenas dez páginas (talvez de esboço, claro), precisará de muitas cenas e capítulos para se resolver a contento. Além disso, ao contrário do conto, no romance não se costuma deixar personagens ou ambientes sem descrição. E, no geral, precisamos que nossos protagonistas sejam redondos, profundos. Oras, até personagens secundários podem precisar ser profundos também. Essa análise, que não é feita em contos, pois o espaço é curto, pode — muitas vezes deve — ser feita no romance, pois temos mais espaço para desenvolver nossas ideias.
Creio que desenvolvimento seja uma palavra-chave quando nos referimos a contos e romances. Nos contos, o desenvolvimento da ideia é curto e objetivo. O impacto é imediato e certeiro e temos que ser rápidos como o tiro de um revólver. Já o romance, como exige preparação, nos permite explorar mais de um sentimento, criar diversos efeitos e, de fato, faz com que nos apaixonemos por um mundo, seus habitantes e suas ideias. O romance gera uma identificação, boa ou ruim, que é preparada lentamente, costurada ou cozida aos poucos, um elemento de cada vez. É nesse momento que outra parte de mim prefere o romance e diz que, como o espaço é maior, a facilidade de ocupá-lo também é grande. E aí tenho duas partes confusas, em conflito, debatendo entre si e se debatendo consigo mesmas, sem chegar uma conclusão definitiva.
O Conto ou o romance? O que é mais fácil? O que é melhor? Acho que depende do nosso estado de espírito e de como nós nos sentimos. Como eu disse, tem uma parte de mim que prefere o conto por sua precisão cirúrgica. Porém, outra parte prefere a lenta organização do romance. Ambos, porém, requerem certa sutileza e maestria. Pela velocidade, escolho o conto. Pela possibilidade de explorar, o romance. Ou seja, não escolho. Não há um que seja melhor ou mais fácil do que o outro. E é isso o que me cabe aceitar.

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