sábado, 3 de setembro de 2016

A Universidade e o Escritor

Hoje o meu questionamento vem de uma dúvida sincera e honesta: se a universidade é feita para formar profissionais e se escrever é uma profissão, a universidade não deveria formar escritores?
Sou formado em Letras pela UERJ, onde me tornei bacharel e licenciado em Inglês, língua e literaturas. Entrei na faculdade com a intenção e aprender a escrever melhor. Não a utilizar a língua, mas pensando, de forma ingênua, que a universidade me apresentaria conteúdos para que eu pudesse me desenvolver como escritor. Aliás, até fiquei em dúvida entre Letras e Jornalismo e muitas vezes me peguei pensando se não deveria ter cursado o segundo. Quando entrei para a faculdade de Letras, tinha uma visão romântica que não se concretizou. É claro, fiz muitas análises literárias e vi como os escritores trabalham sua obra. Porém, posso dizer que o ponto de vista foi o da pesquisa, talvez da crítica, nunca o da produção.
Recentemente, houve na UERJ um evento sobre o Mercado Editorial, muito bem organizado, com a participação de convidados de todas as esferas da produção, fosse acadêmica ou não. Tivemos acesso a tradutores, produtores, editores, escritores, pesquisadores, designers, blogueiros e muitos outros profissionais ligados aos livros. Enquanto eu percebia da parte externa aos muros da universidade um incentivo à produção, não posso dizer o mesmo da universidade em si. Inclusive, fiz esse questionamento e, apesar de entender o ponto de vista expressado pelos que me responderam, discordo.
Em uma mesa sobre a reformulação do currículo da universidade, ao perguntar se havia interesse na formação do escritor, a resposta foi de que talvez a universidade não devesse interferir nisso. Foram citados os americanos, que possuem uma graduação para escrita criativa e até mesmo graduação para best-sellers (assim foi dito). No entanto, e acho esta uma visão por demais romântica, os palestrantes acham desnecessária essa graduação. Explico o motivo pelo qual não concordo.
Acredito que a visão de que a universidade não deve formar escritores é por demais romântica, de que o escritor se faz por suas inspirações. Também acredito que ela venha do fato de que poucos consideram a escrita uma profissão de verdade. Oras, praticamente qualquer escritor tem um segundo emprego, que o paga e sustenta para que possa se dedicar àquilo que ama, mas que tem que ser levado como hobby, já que não gera dividendos. É quase como ser professor no Brasil, algo que se faz “por amor”, já que não se ganha muito com isso. E é como se, ao se almejar riqueza e profissionalização, cometêssemos o pecado de achar que devemos ganhar dinheiro com isso. Vejam que não estou dizendo que essa seja a visão dos palestrantes, é a minha interpretação pela qual, de maneira abrangente, não temos escritores profissionais que não sejam autodidatas.
Você confiaria em um engenheiro autodidata? Você se consultaria com um psicólogo que aprendeu sua profissão sozinho? Você contrataria um professor que não fosse diplomado ou não estivesse estudando para isso? A resposta para todas as perguntas, possivelmente, é não. Estou com isso dizendo que um escritor que não frequentou uma universidade tem menos valor do que um que a tenha feito? Longe de mim. Até porque nós não temos essa formação aqui. No entanto, um escritor que tenha estudado possui mais ferramentas para desenvolver seu trabalho (sim, escrever é um trabalho, sinto tirar a ilusão de quem acredita que as musas entregam tudo sem que nos esforcemos) do que um que não conhece técnicas. Afinal, escrever é uma arte e arte é técnica (de onde vocês acham que surgiu a palavra artesão, afinal?). O que quero dizer com isso é simples, por que escrever não pode ser considerada uma profissão como qualquer outra? É fato que temos cursos livres, assim como temos de teatro e artesanato, mas também temos faculdades para a formação de atores e artistas plásticos. Ou seja, há uma profissionalização dessas artes.
Enfim, creio que seja a hora de deixarmos o romantismo da formação do escritor um pouco de lado, encarar essa arte como trabalho e darmos uma oportunidade para que ela entre na academia. Afinal, a escrita criativa é constituída de técnicas, que podem — e devem — ser aprendidas. Posso estar enganado? Claro, eu vivo com a perspectiva de que possa estar falando algo incorreto. Porém, acredito que, se a universidade permitir que se crie uma faculdade de escrita criativa, teremos um grande aumento de conhecimento técnico e isso, inclusive, facilitaria a vida das pessoas que ficam meses, se não anos, tentando desenvolver suas histórias e falhando por falta de técnica. Fica então meu apelo: vejamos a profissão de escritor por um prisma um pouco menos romântico e muito mais prático.

sexta-feira, 2 de setembro de 2016

Síndrome do Impostor

Até o Mister M tem seu lado impostor
O grande desafio de escrever um livro é achar a história certa e fazer com que ela funcione e siga da melhor maneira. Porém, às vezes o autor não se acha bom o suficiente e pensa: “A quem eu estou enganando? Minha história é uma porcaria! Eu nunca serei um escritor”. - Isso é normal e, acreditem, acontece com todos nós.
Imagine que sua história está indo cada vez melhor. Você já escreveu vários capítulos, sabe exatamente para onde tudo se encaminha e está pronto para fazer o melhor livro de todos. Ou, pelo menos, era o que você pensava. Até que a Síndrome do Impostor se apossa de você e diz que você, além de não ser capaz de seguir em frente, é uma farsa. Isso pode acontecer de infinitas maneiras. Você pode ler m livro ótimo e se comparar com o autor, ou ver um filme, série com um enredo parecido com o seu. Você começa a se sentir cobrado para ser como seus ídolos, embora ninguém esteja cobrando. Ou você pode ver um furo que, no íntimo, só confirma que sua grande ideia não é tão boa assim e que, por conta disso, sua história irá naufragar. Como eu disse, há várias possibilidades.
Eu mesmo me pego passando por essa síndrome com frequência. Como leio muito e gosto de assistir a vários animes, séries, filmes e afins, sempre parece que alguém já pegou minha ideia e desenvolveu melhor do que eu. Sabe aquela coisa de que todas as histórias já foram contadas? Pois é, eu acabo achando que isso aconteceu com a minha. E o que acontece em seguida? Bate o desânimo, eu largo o projeto e digo a mim mesmo que nunca mais vou escrever uma linha na vida.
Na pior das hipóteses, eu volto a escrever um mês depois.
Drama? Não, mas eu sei que as minhas histórias precisam ganhar o papel ou a tela do PC, então eu as escrevo achando que sou merecedor delas ou não, achando que elas já foram escritas antes (e bem melhor do que posso fazer) ou não. E a razão é simples: eu sou feliz escrevendo, mesmo que às vezes eu me sinta uma farsa. Então, sim, eu preciso fazer isso.
É claro, no meio da produção, a Síndrome vai lá e morde a minha perna de novo, paralisa minhas ações e sopra no meu ouvido: você é incapaz, então não seria melhor largar isso e viver sua vida? O ciclo recomeça e, se muitas vezes sou incapaz de detê-lo, há aquelas em que eu apenas abro espaço, vou fazer algo de igual importância e, assim que termino, tento voltar ao que eu estava fazendo. Às vezes funciona. Outras vezes eu sinto vontade de jogar fora tudo o que fiz até aquele momento e recomeçar do zero. Reescrevi, acho, umas seis vezes a história em quadrinhos de um grupo de super-heróis meus. Claro, a cada vez que eu fazia uma nova versão, o trabalho melhorava, mas eu era incapaz de acreditar nisso e cheguei a manter o conceito dos personagens e mudar tudo sobre a história de origem. Ou seja, é complicado.
Apesar de tudo o que falei, acho que a síndrome pode ser só uma fase. Bem ruim, mas uma fase. Não está se sentindo capaz? Se analise, veja seus feitos, o que conseguiu e porque você está pensando que não é merecedor ou que é incapaz de alcançar patamares mais altos. Olhe para o seu livro. Gosta dele? Está tudo indo bem ou poderia ser melhor? Em que fase do projeto está? Se for rascunho, relaxe. Seu livro está horrível mesmo e só vai melhor com muito trabalho. Ninguém faz algo bom de primeira. Hã? Seu problema é achar que fulano, digamos, Stephen King ou Brandon Sanderson escrevem melhor do que você? É verdade, mas pense no tempo que demorou até eles chegarem no patamar em que estão. Ah, entendo, você acha que sua história já foi contada? Verdade, mas ela já foi contada por você? Ela já tem seu toque especial, ou foi outra pessoa, com outra vivência, que escreveu algo? Olha, pode não parecer, mas apenas sua experiência de vida pode temperar as ideias para que floresçam da forma que você as escreveria. Ninguém é capaz de fazer o seu trabalho. E, quanto a julgar se é bom ou não, refaça quantas vezes for necessário. Quem sabe na décima revisão o texto não vira algo brilhante? Um segredo: aquele você que escreveu a primeira versão não tinha as experiências que o você de agora tem. Ele não era capaz de escrever a história que você consegue.
Pensar que não é bom o suficiente é normal. Achar que nunca será bom, também. Escrever é um desafio e, claro, temos muitos tropeços no caminho. No entanto, mesmo que nos paralisemos, há momentos em que a vontade de escrever é maior que tudo. Nesse momento, devemos apenas lembrar que ninguém é perfeito e todos erram. Se o fizermos, poderemos combater essa terrível Síndrome do Impostor e seguir em frente. Vamos nessa?

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Autopromoção

No meu último texto, falei sobre a criação de uma base de leitores. Porém, ainda acho que há um pouco mais sobre isso. Sinto que não explorei todos os aspectos que poderia ter abordado. Então, este texto de hoje não é exatamente uma parte dois do outro, mas sobre pensamentos complementares, como eu gosto de chamar.
A autopromoção — ou autodivulgação — é muito necessária para quem está começando em qualquer área que envolva pessoas. E digo isso como escritor, professor e, talvez no futuro, youtuber (vai acontecer em algum momento, só estou adiando). Para ter sucesso e ser conhecido — e, por consequência, ser lido — um escritor precisa saber se divulgar e fazer seu marketing pessoal. E tudo o que se faz, todas as estratégias, precisam ser feitas para que ele consiga alavancar seu número de seguidores e leitores. Para isso, há dois caminhos: gerar seguidores pessoais ou seguidores do seu trabalho.
Confesso que o primeiro não é muito para mim, não sou um rock/pop star, sou tímido e não gosto tanto assim de aparecer (daí as reticências em abrir o canal no Youtube). Então, estratégias de divulgar a minha pessoa, apesar de existentes, serão menores do que as do outro tipo.
Eu prefiro tentar gerar seguidores do meu trabalho pelo fato puro e simples de que é como eu me sinto confortável: mostrando mais o que eu produzo do que a mim mesmo. Porém — Hey! Estamos no século XXI, baby! — Hoje em dia o autor tem que se mostrar e, como estamos na era da informação, as pessoas precisam saber que eu existo. Não tenho problemas com isso e, se precisar fazer com que a divulgação do meu rosto e ideias seja um pouco mais agressiva, que seja. Porém, quero sempre colocar meu trabalho em evidência.
Uma das maneiras de mostrar o seu trabalho, inclusive de forma off-line, é fazendo marcadores do blog e cartõezinhos de visita com suas redes sociais. Não tenho nada disso ainda, mas penso em criar algo do gênero. Outra forma é me declarar escritor, fazer com que as pessoas saibam disso e também que tipo de livros escrevo. Cartazes e banners também são boas ideias, mas acho que podem ficar mais para o futuro. Porém, não basta.
O caso da autodivulgação é que ela tem que ser constante. Não pode ser feita mês sim, mês não. Eu sei que garantir o seu lugar e receber reconhecimento não é algo rápido. Depois de um tempo, os seguidores começam a surgir por indicações e vão ficando. Até lá, no entanto? Uma longa estrada precisa ser percorrida.
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