quarta-feira, 31 de agosto de 2016

A Construção da Base Leitora


Todas as pessoas que escrevem e que começam do zero lutam com um problema terrível: “E se ninguém gostar do que eu escrevo?”Falo isso porque eu mesmo passo por isso e, não por acaso, criei este blog onde, além de contos, falo sobre minhas dúvidas em relação à escrita. Este aqui é meu diário, meu confessionário e meu divã. É aqui que eu jogo minhas inseguranças, rumino as ansiedades e compartilho um pouco do que vou aprendendo pelo caminho. Não é formal, não é como se eu estivesse aqui para dar aulas de algo, mas sei que minha experiência vai ajudar em alguma coisa. E, no divã de hoje, os meus anseios são sobre a construção da base leitora.

Acho que a coisa que mais preocupa um autor iniciantepelo menos, é o que mais me preocupaé ter uma base de leitores. Afinal, tirando alguns poucos seres iluminados e utópicos, todos escrevemos para sermos lidos. Oras, eu não criaria um blog se não quisesse que as pessoas lessem o que eu escrevo. Eu posso até tratar meu espaço como um diário, mas é um diário aberto ao público e sem horário fixo para visitação. E eu faço isso porque quero leitores.

Criei este espaço imaginando que pessoas com os mesmos questionamentos que eu viriam até meu blog, leriam o que posto, indicariam a seus amigos e que, com o tempo, eu teria cada vez mais leitores. Não vou mentir, porque é o que quero. Por outro lado, sei bem que o meu tipo de blog é de crescimento lento, já que é voltado para um público muito específico, que são pessoas que querem escrever. Acreditem, isso não foi intencional. Eu adoraria ter um blog grande, em que todos entrassem, lessem comentassem, etc. Seria muito legal, mas este blog é algo que eu preciso fazer neste momento. Eu preciso falar sobre escrever, porque estou escrevendo.

Eu estou com meu livro na fase de revisão. Por questão de alguns percalços no caminho (boa parte deles questionamentos internos sobre como fazer e refazer o trabalho), o livro demorou muito tempo para ser escrito, mas estou torcendo para terminá-lo no próximo ano e partir para a fase da busca por editora (outro assunto demorado). Eu não pretendo a autopublicação e não tenho interessemuito menos rios de dinheiroem pagar para ser publicado. Durante o longo processo de preparar e escrever meu livro, muitas coisas surgiram e eu fui me fazendo várias perguntas, uma delas foi sobre ter uma base de leitores. E ainda estou no processo, descobrindo como fazer.

Para tentar descobrir como formar uma base de leitores, estou testando algumas teorias. Uma delas, foi criar este blog. Eu já falava sobre o processo de escrita há tempos no meu Facebook, mas aquele é um espaço em que eu posto até imagens de cachorros e gatos fazendo coisas engraçadas. Ou seja, não é um espaço profissional, é pessoal. Eu poderia criar uma página lá, mas ainda não tenho conteúdo relevante, então estou esperando este blog dar frutos para começar com isso lá. Também tenho uma conta no Twitter em que compartilho as agruras da minha escrita, cada passo dado e desafios vencidos ou obstáculos que me atrasam. Ambos são coisas pequenas, mas vão ajudando. E tento ficar presente em outros espaços, como o Wattpad. Enfim, talvez eu comece a postar vídeos no meu canal do Youtube. Só que, ao estar presente em tantos espaços, tem apenas uma coisa que não desejo: me afogar. É claro que acho importante conseguir leitores, mas eu também preciso me dedicar de maneira que os espaços sejam geridos com qualidade.

Como eu disse, não sei bem como e não tenho o toque de Midas de formar uma base leitora do nada, mas estou tentando e fazendo isso aos poucos, para fazer com qualidade. O que acho é simples: começar com calma, não se atrapalhar e não tentar estar em todos os espaços de uma só vez. É importante preparar uma página no Facebook, estar presente em um número administrável de redes sociais e sempre ser você mesmo, fazer o espaço com a sua cara, pois os frequentadores vão perceber se você estiver fingindo. E, se isso acontecer, eles vão debandar. Portanto, é melhor mostrar sua face verdadeira logo de cara. Acredito que ajudará muito. Quanto aos frutos, creio que virão, é uma questão de tempo e, por que não?, de esforço.

terça-feira, 30 de agosto de 2016

Como melhorar na escrita?

(You should work, work, work, work, work.)

Escrever sobre escrever, por mais que pareça bobo, é algo que me anima. E digo isso pelo simples fato de que eu relaxo ao poder colocar minhas dúvidas e anseios fora da minha própria mente. Este espaço não se pretende nada mais do que um lugar de questionamentos e desabafos, sem respostas prontas e sem obrigatoriedade de respostas ao final da postagem. E, por conta disso, o assunto que eu quero abordar hoje é como melhorar na escrita.
Escrever é algo difícil, mesmo para quem tem rompantes criativos, um português impecável e nasceu com um tablet na mão. Apesar de ser criativo e ter um nível muito bom de português, estou longe de ser perfeito e podem ter certeza de que não nasci com nenhum aplicativo de escrita a meu alcance. Sou da época (na minha época…) em que a internet estava começando. Eu posso, inclusive, dizer que cresci junto com ela, que nos desenvolvemos juntos e fomos aprendendo a lidar um com o outro. A tecnologia também evoluiu junto conosco, mas o que eu tinha ao alcance era apenas lápis e papel (só recentemente eu tenho trocado o lápis pela caneta, acho tinta muito definitivo).
Quando pequeno, o que eu mais fazia era desenhar histórias em quadrinhos que eu mesmo escrevia. Escrever e desenhar são coisas que tenho no sangue (quase de tinta), e sua prática vem de longe. Até onde me lembro, aprendi a ler e escrever sozinho para entender os quadrinhos que tinha em casa. Por causa disso, a escrita e eu somos velhos companheiros. Porém, eu não me acho um companheiro lá muito fiel.
O meu problema é que, ao longo do tempo, tenho largado a escrita algumas vezes, pois tenho a cabeça em mil lugares ao mesmo tempo. Ideias para livros não faltam, tenho trocentos contos iniciados ou ainda no planejamento e sempre tenho vontade de fazer alguma coisa diferente. Com isso, não tenho evoluído como deveria na escrita.
Como qualquer coisa, a escrita só se desenvolve de duas formas: prática e estudo. Estudo, mais por uma questão formal, aprender técnicas e seus nomes, como aplicá-las, etc. Já quando falo de prática, é a coisa mais simples de todas: sentar e escrever. Aliás, deveria ser simples, porque a dificuldade de fazer isso é algo enorme. Parece que, por ter o talento ou a inclinação, ficamos com uma terrível resistência ao ato e vamos sempre deixando para daqui a dez minutos, três horas, um dia, duas semanas, cinco meses… E não falo pelos outros, mas por mim. Nunca passei um ano inteiro sem escrever, mas as desculpas para fugir da responsabilidade sempre foram bem variadas e, por que não dizer, criativas. Há sempre o vídeo no Youtube, o post no Facebook, o tweet que está nos trending topics, aquela vontade de cozinhar de última hora… motivos não faltam, é claro. E de onde vêm essas desculpas, o que elas escondem?
Confesso que as minhas acobertam dois sentimentos: medo do fracasso ou pura e simples preguiça. É, eu sei que não deveriam, mas os dois vivem me perseguindo, ou eu a eles. O problema é que, ao recorrer a artifícios para não escrever, acabo não evoluindo.
Para melhorar na escrita, é preciso prática. É preciso sentarmos todos os dias em frente ao computador ou à folha de papel em branco e fazer as ideias fluírem pelas pontas de nossos dedos. É preciso que reservemos minutos para praticar, para fazer com que nossas ideias ganhem vida, para que se libertem de nossas mentes. No início, é claro, não vamos fazer um trabalho excelente. Me arrisco a dizer que somos capazes de, em um insight, fazer um trabalho bom, até mesmo muito bom. Porém, isso ocorrerá de forma acidental, sem ser resultado de um trabalho duro. Isso torna o resultado ruim? De forma alguma. Entretanto, é possível e altamente provável que não se repita com facilidade. Então, como fazer para ter trabalhos excelentes? (You should work, work, work, work, work.) Simples, precisamos trabalhar ao máximo. Estudar, praticar, enfrentar a tela ou o papel em branco e preenchê-los com palavras, com propósito. Precisamos saber que aquele espaço em branco está ali para ser combatido, enfrentado, e devemos entender que, à medida que o fizermos, ganharemos experiência.
Não acredito que exista uma fórmula para o sucesso, cada um tem seu tempo. No entanto, eu acredito que, com a prática constante, a melhora virá. A velocidade, a fluidez, a capacidade de organizar as ideias, tudo isso depende da prática. E essa prática precisa virar rotina. Então, trabalhe, trabalhe, trabalhe de novo, e mais um pouco e outra vez. Quanto mais você trabalhar, acredito que melhor irá se tornar.

segunda-feira, 29 de agosto de 2016

O conto ou o romance?

Terminei de re-esboçar meu livro e estou a revisá-lo, reescrevendo partes que não funcionavam, cortando outras e acrescentando algo. Isso dá algum trabalho, mas é necessário para que um escrito fique bom, pois a primeira ideia, por ótima que seja, dificilmente é a melhor que podemos ter. Confesso que está sendo um ótimo aprendizado, pois, quando escrevo contos, meu planejamento sempre é mais solto e minha escrita mais espontânea. Com isso, me veio a pergunta: o que é mais fácil escrever, o conto ou o romance?
Acredito que muita gente vá dizer que um conto é mais fácil do que um romance e, embora parte de mim pense dessa forma, confesso que ponho essa parte em xeque ao pensar que um conto tenha uma limitação de palavras para causar um efeito. Eu consigo fazer isso com certa naturalidade e já me considero um bom contista. Quando quero causar raiva, medo, alegria, tristeza, apreensão, acho que cumpro a missão em poucas palavras. Porém, ao contrário dos grandes Edgar Allan Poe e Machado de Assis, eu não me planejo antes, apenas sigo os instintos. No geral, me saio bem, mas tem vezes em que isso me põe em certas armadilhas difíceis. São poucas, mas existem.
Ao escrever um romance, já não me cabe apenas jogar as ideias no papel e fazer o melhor com o que tenho. Ou melhor, me cabe, mas tudo precisa ser mais bem organizado e explicitado, deve haver algum planejamento prévio. Enquanto um conto pode se resolver em poucas linhas, um romance não terá apenas dez páginas (talvez de esboço, claro), precisará de muitas cenas e capítulos para se resolver a contento. Além disso, ao contrário do conto, no romance não se costuma deixar personagens ou ambientes sem descrição. E, no geral, precisamos que nossos protagonistas sejam redondos, profundos. Oras, até personagens secundários podem precisar ser profundos também. Essa análise, que não é feita em contos, pois o espaço é curto, pode — muitas vezes deve — ser feita no romance, pois temos mais espaço para desenvolver nossas ideias.
Creio que desenvolvimento seja uma palavra-chave quando nos referimos a contos e romances. Nos contos, o desenvolvimento da ideia é curto e objetivo. O impacto é imediato e certeiro e temos que ser rápidos como o tiro de um revólver. Já o romance, como exige preparação, nos permite explorar mais de um sentimento, criar diversos efeitos e, de fato, faz com que nos apaixonemos por um mundo, seus habitantes e suas ideias. O romance gera uma identificação, boa ou ruim, que é preparada lentamente, costurada ou cozida aos poucos, um elemento de cada vez. É nesse momento que outra parte de mim prefere o romance e diz que, como o espaço é maior, a facilidade de ocupá-lo também é grande. E aí tenho duas partes confusas, em conflito, debatendo entre si e se debatendo consigo mesmas, sem chegar uma conclusão definitiva.
O Conto ou o romance? O que é mais fácil? O que é melhor? Acho que depende do nosso estado de espírito e de como nós nos sentimos. Como eu disse, tem uma parte de mim que prefere o conto por sua precisão cirúrgica. Porém, outra parte prefere a lenta organização do romance. Ambos, porém, requerem certa sutileza e maestria. Pela velocidade, escolho o conto. Pela possibilidade de explorar, o romance. Ou seja, não escolho. Não há um que seja melhor ou mais fácil do que o outro. E é isso o que me cabe aceitar.

domingo, 28 de agosto de 2016

Devo ou não fazer outline (esboço) da minha história?

Eu estava na dúvida se escreveria um texto para hoje, pois estou à toda na produção do meu livro. Porém, o que estou fazendo tem muito a ver com esse tema que vou abordar agora, então não tinha como escapar. Digamos que é uma união de oportunidades.
Todas as vezes em que escrevia contos curtos, crônicas e até mesmo quando fazia e desenhava histórias em quadrinhos, a história sempre fluía de uma vez. Eu dificilmente fazia um planejamento prévio. Ou seja, nada de brainstorm (tempestade cerebral), outline (uma espécie de esboço), braindump (jogar o que está na sua mente no papel, não importando o que seja; muito parecido com o brainstorm), mapas mentais ou outra preparação. Era simplesmente escrever, escrever e escrever. Então, eu resolvi escrever um livro.
O primeiro livro que eu tentei escrever não está completo até hoje, apesar de eu ter feito todo um planejamento em mapas, raças, relevos e história pregressa. Sendo um livro de fantasia, eu sabia que não poderia escapar disso e fiz todas essas coisas com o meu método de não ter método. Daí, veio o momento de desenvolver a história. Eu, é claro, comecei a fazer como fazia com meus contos. Mesmo sem planejamento, comecei a escrever. Era uma coisa meio Senhor dos Anéis e, olhando agora, acho que teria virado uma quase fanfic. O problema é que eu sou muito disperso e a escrita em si não evoluiu muito por um bom tempo.
Anos depois, já durante a faculdade, eu voltava para casa quando tive a ideia para o meu segundo livro (na verdade, o segundo que eu me propus a escrever; ideias para livros eu tenho mais do que vou escrever na vida). A ideia veio de supetão e eu me vi registrando mentalmente o que seriam as primeiras 18 páginas da história na cabeça. Quando cheguei em casa, não anotei nada, mas no dia seguinte a ideia estava lá, ainda. Toca a escrever. De novo, um bom tempo escrevendo aos poucos, sem evoluir muito.
Passado algum tempo, troquei de faculdade, fui fazer letras para ver se aprendia técnicas de escrita (sabe de nada, Jonh Snow). A faculdade era de inglês, motivo pelo qual eu aprendi os termos acima em inglês, não em português, sorry. Porém, apesar de não aprender tantas técnicas de escrita quanto eu gostaria, aprendi algumas para a preparação do texto: o brainstorm, que a essa altura eu já usava, e a outline, que nada mais é do que um esboço organizado das ideias que vão ser postas no papel. Sabe quando a professora de português dizia que a redação tinha que ter começo, meio e fim? Então, a outline é isso, a organização do começo ao fim (de forma simplificada) do que você irá escrever a seguir. Se meu texto for argumentativo, por exemplo:
. Introdução, com a declaração de sobre o que irei escrever
. Argumento a favor
. Argumento contra
. Conclusão, parafraseando a declaração inicial e sumarizando os argumentos
O texto também pode seguir o caminho:
. Introdução, com a declaração de sobre o que irei escrever
. Tópico um
. Tópico dois
. Tópico três
. Conclusão, parafraseando a declaração inicial e sumarizando os tópicos abordados
Ou seja, introdução, desenvolvimento e conclusão, não importa o texto.
Fiquei mais uns anos sem usar, escrevendo minha história um pouquinho de cada vez, fazendo cenas que não estavam perto e tentando fazer meu livro chegar a essas cenas e tudo fazer sentido… Confesso que a experiência não foi boa.
Vejam bem, o problema não foi escrever sem a outline, mas escrever de forma espaçada e ficar dando voltas no enredo. Isso mais me atrapalhou do que ajudou. Sendo uma pessoa dispersa, eu não conseguia progredir muito e gerei tantos arquivos diferentes no meu computador e fora dele, que daria para escrever uma série, já que não caberia tudo em um livro só. Porém, eu ainda não tinha um livro pronto.
Recentemente, comecei a usar a outline, brincando um pouco com as estruturas que aprendi em cursos presenciais ou pela internet. Entre elas, a clássica três atos, quatro atos, jornada do herói, leapfrog (pulo da rã), círculo de história Navajo… enfim, muitas formas de contar uma história ou de estruturá-la, como no método snowflake (bola-de-neve), dando um passo adiante e dois atrás, sempre reescrevendo e voltando, reescrevendo e voltando. Em comum? A outline, ou o esboço. Seja qual for a história, sempre há uma outline por trás.
Agora, é claro que existem grandes autores que não estruturam. George R. R. Martin não o faz e Stephen King diz que se recusa a saber o final de sua história antes de começar a escrevê-la. E há aqueles que só trabalham bem se houver uma estrutura bem montada, como é o caso do Edgar Allan Poe. Eu não sou um grande autor (ainda), mas considero que estou em algum lugar no meio, quando falamos do uso de métodos. Para contos, não tem jeito, eu fecho os olhos e quase psicografo o que estou escrevendo. Para histórias maiores? Estou no processo de usar um esboço prévio, nos meus termos, um pouco estruturando, um pouco escrevendo o que me vem à cabeça, método que achei ser o melhor para mim. O que, acho que meio que responde minha pergunta inicial.
Devo ou não usar outline ao escrever? Não vou negar que tenho tido frutos mais rápidos e acho que a decisão e o progresso têm acontecido melhor desde que comecei a estruturar. É claro que eu sou meio escritor de conto-de-fadas, então eu “conto meu conto” antes e depois tiro uma outline disso, mas é o método que me atende. Então, acho que a resposta é: depende, sempre depende. Há vezes em que a outline vai funcionar melhor de cara. Outras? Precisarei fazer um trabalho prévio antes. Quando terei que enfrentar uma ou outra situação? Acho que só devo descobrir na hora.

sexta-feira, 26 de agosto de 2016

Escrevendo meu primeiro romance fantástico

Este meu espaço aqui no blog novo e todos que os leem têm uma ideia de que estou escrevendo um livro. É um livro de fantasia, que pretendo ser algo juvenil, talvez para jovens-adultos. Gosto da ideia de escrever para um público variado, mas o livro é longo e sei que não será para crianças pequenas mais por conta do tamanho. Não é um Senhor dos Anéis, nem As Crônicas de Gelo e Fogo, mas não é um livro pequeno. O esboço do primeiro rascunho já foi, mas quero fazer um rascunho mais organizado (um segundo rascunho, por assim dizer) e, a partir daí, começar a trabalhar as pontas soltas do livro, fazer os cortes necessários e começar a chamar de livro, mesmo.
Eu comecei esse livro há muitos anos, mas a vida entrou na frente e tive que escrevê-lo aos poucos. Não sei se isso é ruim ou bom, acredito que um pouco de cada, pois fui me profissionalizando com o tempo e as ideias para o universo do livro floresceram bem mais do que se eu ainda fosse aquele garoto que começou a escrever uma história para a qual não sabia o final. Anos se passaram e hoje tenho o final e, mais do que isso, tenho ideias para muitas histórias se passando nesse universo, além de em outros, é claro. O mundo que criei ganhou uma solidez maior, minhas técnicas narrativas foram sendo polidas eu aprendi a ser um escritor melhor, menos afobado.
É claro que perdi algo no caminho. A história que eu contaria quando mais novo está longe de ser a história que o escritor que sou hoje é capaz de contar. O Bruno Leandro de ontem faria uma história que teria muitos aspectos diferentes da que o Bruno Leandro de hoje escreveria. Afinal, eu estou alguns anos mais experiente e não penso do mesmo jeito de outrora. Acredito que, caso eu tivesse terminado a história na época em que a comecei, os rumos dos personagens seriam outros. Se isso é bom ou ruim? Eu diria que é diferente.
Eu acredito que diria essas mesmas coisas fosse meu romance de ficção-científica, cotidiano, histórico ou de qualquer outro estilo. Por acaso, sou apaixonado por fantasia e, talvez por isso, o primeiro romance pertença a essa categoria. O gostoso é saber que, na fantasia, os desafios são outros.
Ao escrever fantasia, eu crio meu mundo e imerjo (soa estranho, mas existe) nele. Ao escrever fantasia, eu me vejo conversando com fadas, cavalgando em mulas-sem-cabeça, colocando pó de cachimbo nas mãos do saci, afiando a espada de uma guerreira e soprando magias para o vento, que levará meus comandos até um céu multicolorido em um mundo que não existe fora das páginas tecidas por minhas palavras. Quando escrevo fantasia, me sinto um artesão de realidades cuidadosamente construídas, um arquiteto de um mundo de sonhos, que precisa ser sonhado junto por meus leitores, ou poderá ruir a qualquer ínfimo momento. Eu danço nos ponteiros do tempo e faço cambalhotas na ponta do alfinete que segura uma dimensão à outra. Eu crio, e isso me basta. Eu realizo sonhos. Por isso é tão importante estar escrevendo esse meu primeiro romance fantástico (é um processo contínuo, não pude fugir do gerúndio).
A fantasia, como eu vejo, é algo muito importante, capaz de nos tirar um pouco do mundo onde vivemos e cansamos, enquanto nos ajuda a lidar com ele e nos ensina como vencer nossos problemas ao transpô-los para personagens que podem ou não se parecer conosco. Quando bem executada, ela nos ajuda a ver o mundo com outros olhos. E esse é mais um dos motivos pelos quais estou escrevendo.
Como disse antes, não será um livro pequeno, embora eu não queira que fique grande demais. Sei que temos certas regras e limites até mesmo de palavras a obedecer e sou um escritor ainda desconhecido, então pretendo me ater a esses limites, pois quero ser lido e publicado. Mas vou me ater dando o meu melhor e buscando concisão, não apenas fazendo cortes porque “tem que caber”. Se fizer assim, a história pode ficar ruim, tudo o que não quero. A intenção é escrever uma boa história, a melhor que eu puder, e ser publicado. Preciso obedecer a um limite de palavras? E por que não?
Voltando à escrita, está sendo um grande aprendizado. Um romance fantástico em que o mundo é diferente do nosso é algo muito especial — e difícil — de ser executado. É necessário ficar atento a detalhes que talvez nem sequer entrem no livro, como a religião seguida, a política, a arquitetura e decoração, a história pregressa, as divisões territoriais… Fora o fato de que a política e religião de um lugar dificilmente serão as mesmas de outro. E as línguas, os costumes, a tradição, a cultura? Como os habitantes se vestem? Há magia? Como ela é feita? — Essas são apenas algumas das muitas perguntas a que precisamos responder ao criarmos um mundo de fantasia que não reflita o nosso. Fato é, que nunca criamos nada do éter, nossas bases são no mundo real, mas podemos distorcê-las a nosso bel-prazer. Afinal, se não for assim, qual o propósito da fantasia?
Seja qual for o propósito da fantasia, estou empolgado e sei que o caminho está cada vez se acertando mais. A história está fazendo sentido e o universo está cada vez mais coeso e coerente, mesmo a parte que não aparece na história. Acho que será um livro interessante e divertido, não só para mim, mas para os leitores também. Como eu disse antes, estou escrevendo para ser lido, então espero que aqueles que me leiam se divirtam no processo. Afinal, é para isso que que estou criando uma história fantástica.

quarta-feira, 24 de agosto de 2016

Mantendo uma agenda de escrita

Acho que uma das coisas mais difíceis quando se é um escritor de primeira viagem é manter uma agenda de escrita. Não que escrever seja um sacrífico, pois é algo que faço por prazer. No entanto, mesmo que por prazer, a constância é algo complicado de ser mantida.
A princípio deveria ser algo fácil, não? Escrever 30, talvez 40 minutos por dia. Produzir textos sobre diversos assuntos ou, caso esteja trabalhando no primeiro livro — como eu — colocar uma nova sequência de palavras no papel ou tela do computador. E seria, mas nós insistimos em arranjar desculpas para não produzir.
Às vezes, não são desculpas, mas a realidade: “tenho um trabalho para entregar para a faculdade”, “prova amanhã”, “projeto de término de curso”, “relatórios a serem entregues”, “o chefe pediu algo impossível de última hora”… Outras vezes, a necessidade de socializar: “a galera me chamou para um barzinho/boate”, “vai estrear aquele filme que estou louco para ver”, “preciso dar atenção para a família/amigos/gato/cachorro/periquito/papagaio…” Enfim, fato é que nós sempre acabamos encontrando um motivo para não escrever. Sempre acontece alguma coisinha, um probleminha, ou outros tantos inhos e inhas por aí. E tem jeito? Sinceramente? Não.
Nós sempre vamos ter algo “mais importante” para fazer do que escrever, principalmente se não ganhamos para isso. Se somos pagos, a coisa muda muito de figura. Porém, o escritor de primeira viagem nunca está sendo pago por seu produto, exceto se ele já se sobressaiu em outra área e o livro tenha sido encomendado. Os pobres mortais restantes precisamos, aliás necessitamos, entender a escrita não de forma amadora, mas como profissão, ou aquele livro, aquele artigo, aquela nota no blog nunca ficarão prontos. É em não acharmos que há algo mais importante que escrever que iremos, por fim, escrever. E como faremos isso? Mudança de atitude.
Eu falo apenas por mim. Estou em um exercício de mudança de atitude perante a escrita. Comecei a postar aqui no blog, estou fazendo a revisão do meu livro, com a expansão do universo em que ele acontece, e estou tentado, pouco a pouco, manter nem que seja um mínimo de escrita por dia. E não se enganem, nem sempre estou fazendo isso na tela, já que sou uma pessoa que se dá melhor com papel e caneta. Não sei, parece que as ideias fluem muito melhor e não há o som de notificações diversas interrompendo o raciocínio.
Em todo caso, estou me forçando a escrever todos os dias, um mínimo que seja. Eu sou do tipo de pessoa que, desde que sente na cadeira e não seja interrompido, vou escrever por bastante tempo, vou ter ideias fluindo à toda e, quando menos esperar, terei concluído a tarefa do dia. Se fizer o que tiver de ser feito, sem dúvida serei capaz de manter uma agenda de escrita aceitável. Basta não me render às desculpas nossas de cada dia.

terça-feira, 23 de agosto de 2016

Suspensão de Descrença

De uns tempos para cá, tenho lido tanto sobre escrever que, se duvidar, sou até capaz de escrever um livro sobre isso. Um tema, no entanto, que me chama atenção, e é o motivador da minha vida como escritor é a suspensão de descrença. E o que vem a ser isso e como ela afeta meu trabalho?
A suspensão de descrença está em tudo o que fazemos, criativamente falando. Se você escreve sobre super-heróis, você apela para a suspensão de descrença. Um cachorro que voa até a lua? Suspensão de descrença. Uma princesa com cabeça de dragão e cheiro de guerreiro? Suspensão de descrença. Um homem rico que larga todas as riquezas para viver Na Natureza Selvagem? Suspensão de descrença. Aliás, o último exemplo é de um filme/livro baseado em fatos reais. Mesmo assim, se você não “compra” a ideia, se você não acredita no que está lendo ou vendo, a história perde o sentido. Mas, se você acredita no que presencia, se você pensa que, dentro daquele mundo contido, as situações — e ações — são críveis, parabéns! Sua descrença foi suspensa.
Meu maior objetivo como escritor é fazer histórias das quais as pessoas gostem, pelas quais elas se apaixonem. E minha maior aliada — também meu maior empecilho — é suspensão de descrença. Se meus leitores não acreditarem que o que passo a eles em minhas páginas é possível, eu fracasso antes mesmo de começar. Meus leitores precisam acreditar que sou capaz de fazê-los ver o mundo com os mesmos olhos que eu. Eles precisam acreditar que a magia é real nos meus textos de fantasia, que a tecnologia que eu descrevo em minhas ficções científicas do passado e do futuro é aplicável naquele mundo e que as relações entre meus personagens se dão da maneira mais real possível. Sim, pois a verossimilhança (uma palavrinha legal que diz que o que escrevo faz ou não sentido no meu universo criado) precisa ser alcançada, mesmo nas relações entre personagens.
Imagine que você tem dois amigos que caminharam juntos em uma história. Eles sofreram, se machucaram e se protegeram o tempo todo. Agora imagine que, no fim da jornada — e sem ter dado nenhuma pista de suas intenções a qualquer momento — um desses amigos traia e mate o outro. Faz algum sentido, ou você olharia para a história e gritaria: “Ele nunca faria isso!”? Eu acredito que seria a segunda opção. O mesmo se o vilão (de novo, sem pistas do contrário) se mostra um bom homem, que apenas agiu errado pelos motivos certos. Fazer isso seria jogar a história no lixo.
Sei que comecei a falar de verossimilhança no meio deste texto sobre suspensão de descrença, mas, sejamos francos, será que é possível falar de uma sem mencionar a outra? Para que o leitor acredite no que eu estou fazendo, as ações e modos de agir dos personagens precisam ser condizentes. E meu mundo tem que ser coerente com o que se espera dele. Se eu digo que meu mundo é de fantasia, ele tem que se comportar minimamente como o que se espera de um mundo fantástico. Se é uma ficção científica, a tecnologia tem que fazer sentido dentro da história. E, se for terror, romance, folhetim, é o mesmo: ou faz sentido, ou o leitor não irá acreditar.

segunda-feira, 22 de agosto de 2016

Falta de Regularidade

Um problema que eu acabo tendo, seja a rede social que for (exceto Facebook, vai saber por que), é a falta de regularidade com as postagens. Eu não sou nada frequente.
Eis o meu problema: eu tenho meu perfil no Medium, mas não posto sempre, e minha distância entre as postagens é variável. Eu ainda estou pensando em como me organizar, já que escrever um livro e postar em redes sociais e blogs são tarefas que, ainda que não mutuamente excludentes (quero usar isso desde que aprendi isso na Matemática do Ensino Médio, me deixem), consomem tempo de vida. E eu preciso trabalhar, estudar, viver… claro que a última parte é opcional, mas faz bem, não é mesmo?
Como eu não sou uma pessoa muito regular com a vida, estou pensando no que vou fazer — e em como vou fazer — para organizar minhas postagens. Eu também não quero ser obrigado a postar só por postar. E quero que o conteúdo seja relevante para mim e, claro, para quem leia.
Ainda estou pensando, não sei como vai ser, mas prometo me organizar melhor, para que isso aqui não fique largado às traças digitais. Enquanto isso, vou continuar com os livros, contos, postagens aqui, ali e acolá. Aos poucos, não tão aos poucos assim, vou me organizando. E logo, logo, teremos mais regularidade, essa tão necessária ferramenta de quem precisa escrever e lidar com o tempo cada vez mais curto que nossa sociedade atual nos fornece.

domingo, 21 de agosto de 2016

A Ideias Que Não Cansam De Aparecer


Continuo escrevendo, editando, resumindo e expandindo meu livro e, por consequência, o universo em que ele acontece. O interessante, é que as ideias não deixam de aparecer só porque estou focando em um projeto. Isso me deixa bem confuso, pois as ideias podem ser no microuniverso desse mundo, ou no macrouniverso/multiverso que conecta todas as minhas ideias.
Às vezes é apenas uma palavra, ou uma expressão fora do lugar, como “bailarina”, “chapéu de coco” ou “fazer acontecer” (não que eu tenha relacionado essas). Outras, é simplesmente a ideia de misturar dois universos de magia urbana, não fazendo um, mas colocando os coadjuvantes de um livro no outro, mas com abordagens diferentes.
Um dos livros que pretendo fazer no futuro é uma fantasia urbana adolescente, com demônios e possessões. Bem legal, aliás. Outro é uma história de detetives, mas também com magia, porém em uma pegada mais adulta. (Não sei se deu para notar, mas sou meio fascinado por magia.) Não é algo do tipo Deuses Americanos encontra Sherlock Holmes, é adulto dentro do meu universo, uma coisa minha.
A questão é que meu macrouniverso é uma coisa só e, se as minhas histórias acontecerem no mesmo período de tempo, existe uma possibilidade imensa de personagens de livros ou contos se esbarrarem. Tanto porque eu quero, quanto porque, em um Rio de Janeiro atual com uma rede social mística bem-estruturada, alguém sempre vai conhecer alguém que vai conhecer alguém que conhece outro alguém. Brincadeiras à parte, isso significa que mesmo eu não conhecendo um morado de, digamos, Bom Jesus de Itabapoana, pode ser que o cara da loja em que eu compro meus livros tenha um amigo lá que, por um acaso, é primo dele. E minha vizinha pode já ter ficado com esse cara quando eles se esbarraram em Salvador durante o Carnaval. Se na vida real é assim, por que não nos livros?
Então, para resumo, digamos que eu esteja fazendo meu Multiverso (vou usar outro nome, não quero ser processado). Está tudo sempre conectado nos últimos detalhes? De forma alguma. É possível que os personagens de um livro venham a transitar em outro? Totalmente.
Enfim, vamos ver se isso sai do papel, pois estou muito interessado em fazer esse intercâmbio das páginas de um livro a outro.

sábado, 20 de agosto de 2016

A personagem mais injustiçada que já conheci

A ideia para este post surgiu de um comentário em um post do Dia das Mães do Facebook (sim, faz tempo).
Vocês conhecem Hester Shaw, de Mortal Engines? Acho que quem leu os até agora três livros publicados, vai concordar comigo que a personagem é muito injustiçada. Sempre a julgam antes de conhecê-la melhor apenas porque ela tem o rosto arruinado por uma cicatriz que lhe foi causada quando criança, o que é de uma covardia profunda. Tanto é, que existe um momento no livro três, quando uma pessoa não vê seu rosto, em que não há esse julgamento e o homem a acha mesmo atraente.
Eu acho Hester ótima. E não entendo porque o autor a desvaloriza tanto. As pessoas automaticamente desconfiam dela só por causa da aparência e o autor “justifica” isso a corrompendo para que os outros possam posar de inocentes.
E eu acho que é um ciclo vicioso. As pessoas desconfiam dela, ela acaba fazendo algo ruim e segue. Porém, exceto em pouquíssimos casos, quando o personagem é um homem com o rosto arruinado que defende todos à sua volta, ele é “perdoado” de sua feiura e aceito pelo outros. Eu só achei que meio que forçaram a barra com Hester, tanto que a barra quase quebra de tanto envergar. Principalmente no livro três, depois que ela passou anos e mais anos vivendo em determinada sociedade. As pessoas já deveriam ter se acostumado com ela e a tratado melhor. Porém, basta ficarem com raiva dela, que a primeira coisa que surge é uma menção à sua aparência.
Então, estendendo mais o que falei no post original, me vem uma questão: personagens injustiçados até mesmo pelo autor.
Quer dizer, eu entendo um personagem ser injustiçado pelos outros personagens, pelo menos, até que ele se prove, se for o caso. Insistir em injustiçar um personagem com pessoas que não sejam rivais ou inimigas é perda de tempo e um recurso pobre à história. De que adianta insistir nisso? Qual será o objetivo? Converter aquele personagem para o mal, apenas para provar que seus antagonistas estavam certos o tempo todo (apesar de não estarem)? Sinceramente, acho um recurso narrativo muito baixo e falta de imaginação do autor. Há maneiras melhores de se fazer isso.
Enfim, encerro aqui minhas ideias sobre o assunto, antes que eu escreva uma novela sobre o que penso. E quanto a vocês? Quais outros personagens vocês acham que foram injustiçados em histórias que leram?

sexta-feira, 19 de agosto de 2016

A tela em branco ou o temível bloqueio de escritor

Eu não sou uma pessoa dada a muitos bloqueios, pelo menos não no sentido tradicional. Não é comum eu ficar sem ideias diante de uma tela ou papel em branco. Na verdade, mesmo que a ideia não esteja boa, ela está lá e eu a escrevo aos borbotões. Na verdade, senhoras e senhores, meu problema é outro: excesso de ideias.
Eu não acredito que seja o único a ter excesso de ideias por aqui. Será que nunca aconteceu a vocês ficar paralisado, sem saber qual direção seguir, justamente porque tinha umas mil ideias diferentes borbulhando na cabeça? Isso acontece comigo o tempo todo, até criei um nome para essa situação: febre criativa.
Eu considero que estou com febre criativa quando tenho várias ideias tentando se apossar da minha cabeça ao mesmo tempo. Mas e se a heroína fizesse isso? E se, além de ir a tal lugar, meus heróis fosse a outro? E se o vilão na verdade aparecesse um pouquinho antes, para apimentar as coisas? E se meu volume fosse dividido em três partes, para explicar melhor algumas partes da história? Sim, essa é minha vida. E eu não sei bem o que fazer com ela. É mesmo muito raro eu ficar sem ideias, talvez não me venham as mais adequadas à situação, talvez elas surjam para outro livro, no lugar daquele que estou escrevendo, mas elas não deixam de vir. E o que eu faço? Eu travo. Ou eu escrevo. Muito.
O problema é que, quando escrevo, eu não me fixo naquela tela em branco à minha frente, eu vou abrindo arquivos do Word, ou até mesmo do bloco de notas, e escrevo neles as ideias laterais que se apossam de minha cabeça. Eu até mesmo pego papel e caneta, ou lápis, quando a situação pede, já que às vezes os programas de escrita demoram muito a abrir, eu estou na rua, no trabalho, ou em qualquer outra situação que uma telinha não poderia ser sacada. Papel e caneta são sempre seguros, basta tê-los à mão.
Enfim, com toda essa questão, meu bloqueio vem de não concatenar as ideias, de não conseguir o foco necessário para o que está à frente. Aposto que meu livro já deve ter mais páginas escritas sobre ele do que jamais terá na versão final. Se duvidar, este rompante de escrever aqui hoje acabou sendo resultado de uma fuga de responsabilidade aliada à necessidade de escrever sobre um tipo diferente de bloqueio de escritor.

quinta-feira, 18 de agosto de 2016

Tire suas mãos sujas da minha História!

(Com H maiúsculo!) 



Tenho lido ultimamente muitos blogs e sites que falam sobre diversidade. Aliás, estou achando cada pérola mais brilhante do que a outra. São sites ótimos, que falam sobre a diversidade em histórias que se passam nos dias atuais e alguns também tratam da diversidade em histórias ficcionais do passado, como a Idade Média, Era Vitoriana, etc. (a maioria dos sites é em inglês ou fala sobre literatura estrangeira). Porém, uma coisa que me incomoda em alguns desses sites são os comentários. Eventualmente, alguém surge e diz: “mas não havia negros na Europa nessa época”, “o mundo está muito chato com esse politicamente correto”, “guerreiros da justiça social (social justice warriors)”, blábláblá. O que essas pessoas querem dizer é: Tire suas mãos sujas da minha História. No entanto, será que essas pessoas conhecem mesmo a História? E digo mais, será que essas pessoas estão mesmo interessadas em fidelidade histórica, ou apenas no que elas entendem por isso? 
Precisamos lembrar que não estou falando de história europeia, mas de mundos ficcionais baseados nela, quando muito. A quantidade de livros de contos, novelas, romances e afins que retratam o passado europeu é bem vasta. Em alguns casos, a história tenta se aproximar o máximo possível das condições de vida à época, o que acho bastante louvável. Em outros, vemos dragões, sapos falantes, unicórnios e até seres que não pertencem às lendas europeias vagando por um vasto mundo ficcional. Sim, até mesmo em histórias steampunk — geralmente ambientadas na era vitoriana — somos capazes de encontrar materiais de mitos e lendas. E isso não é ruim. Porém, em meio a dragões, unicórnios, grifos, sereias e pégasos, há gente que reclame de fidelidade histórica quando colocamos mulheres com mais falas e “tempo de tela”, que reclame quando colocamos mais personagens negros, asiáticos e até, talvez, indígenas, na história. Se um desses personagens for protagonista, então, Deus me livre e guarde de todo o mal, amém! Afinal, um mundo de fantasia europeu não pode ter personagens etnicamente diversos, uma vez que eles sequer existiam à época, não? Sabe como é, pessoas negras, asiáticas, indígenas e afins só surgiram quando o homem branco colonizou suas terras e não havia contato entre diferentes culturas antes disso. Antes? Todos eram brancos.
A História nos diz que haviam romanos negros (não se nascia romano apenas, as pessoas podiam se tornar), que os mouros tinham contato com europeus (Shakespeare não inventou a raça negra) e que, antes da neocolonização, já havia trocas e comércio entre europeus e asiáticos. Assim sendo, não é como se os mesmos fossem desconhecidos. E, se for verdade que os vikings vieram para a América, até os indígenas já eram conhecidos há séculos. Claro, alguém vai insistir no argumento histórico, dizendo que a Europa não era tão diversa antigamente quanto é hoje em dia. Concordo, não era tão diversa, mas havia diversidade. Porém, me apego ao seguinte fato: a fidelidade histórica só surge quando convém. As pessoas só querem fidelidade na hora de representações raciais e étnicas (ainda assim, vemos loiros, morenos e ruivos em ambientes onde às vezes não se tinha essa mistura toda, mas, como têm todos o mesmo tom de pele…), contudo, quando se trata de dar vida a criaturas que sequer existiram, o argumento de manter a História intacta cai por terra. Alguém pode dizer: mas são lendas europeias! Eu digo: A Terra Média não fica na Europa, Westeros também não e Nárnia nem se fala. E notem que não estou acusando seus autores de não escreverem visando a diversidade, estou apenas dizendo que não faz sentido clamar por respeito ao “passado” quando nenhuma dessas histórias aconteceu em nosso mundo.
Para concluir, quero apenas dizer que, quando alguém clama respeito à História, geralmente está apenas dizendo que a sua visão de mundo tem que prevalecer sobre a dos outros. E que a sua visão, infelizmente, não leva em conta a diversidade por ser mais conveniente não se tocar no assunto.

quarta-feira, 17 de agosto de 2016

Fantasia Urbana x Fantasia Medieval. Qual a mais fácil de escrever?

Bem, aqui estou eu para um segundo post. Acho que gostei da liberdade para compartilhar minhas dúvidas como escritor. E a de hoje é uma dúvida com uma pegadinha, de certa forma. É mais fácil escrever fantasia urbana ou medieval?
Primeiro, preciso dizer que cresci lendo a fantasia mais medieval e tenho pouco contato com a versão urbana, então ainda estou tentando entender esta última. As regras parecem mais simples, e ao mesmo tempo, mais complexas. Se, ao contrário da medieval, você não precisa necessariamente criar um mundo à parte (embora possa) na fantasia urbana, por outro, parece que ela te convida a explicar mais a magia, a criar sistemas complexos e a explicar, quase que cientificamente, como as coisas funcionam. No entanto, a fantasia medieval costuma exigir um melhor detalhamento do mundo e dos seres que o habitam. Não é possível jogar um personagem em uma zona desconhecida sem explicar um pouco que seja daquele lugar. Afinal, por mais que já estejamos acostumados a vermos filmes que se passam em séculos antigos, nós não vivemos nessa era já ida. Aquele mundo nos é estranho, queiramos ou não. E aí entra outra questão: até onde detalhar?
Na verdade, eu entendo essa segunda questão como um subproduto da primeira. A fantasia urbana precisa de menos detalhes em descrição de lugares. E, exceto quando o lugar é inventado ou adaptado, basta uma pesquisa rápida para que a descrição ganhe vida. Na fantasia medieval, por outro lado, temos, a rigor, um lugar que, mesmo que já tenha existido, não existe mais e não é de fácil visualização. A pesquisa e/ou criação é mais intensa e corremos o risco de pecar por excesso ao mostrar como é o mundo e como ele funciona. É uma questão de equilíbrio.
No post anterior, eu tinha dito que não queria ser o tipo de autor que diz que “a companhia estava passando por uma floresta com a grama inclinando a trinta graus pelo vento que balançava os galhos de uma árvore frondosa, da qual uma única folha caiu e foi carregada suavemente até um lago profundo…”. Esse cara não sou eu. E, por conta disso, experimentando tanto na fantasia urbana, quanto na fantasia medieval, vou encontrando semelhanças e diferenças, estilos que melhor se adequam a uma ou a outra, necessidade de descrições que podem ou não se alongar e a criação de todo um sistema para o correto funcionamento daquele mundo.
De novo, não tenho uma resposta pronta. Não sei dizer qual tipo de fantasia é mais fácil — se é que algum deles pode ser considerado mais fácil. Estou aqui, como sempre, mais pela provocação, dividindo meus anseios e dúvidas. Gosto de ambas as fantasias, escrevo em todas as esferas e me divirto com todas elas. Se é que existe uma que seja mais fácil, só uma maneira de descobrir — escrevendo. Ah! E me divertindo no processo, claro.

terça-feira, 16 de agosto de 2016

Conflitos de um artista iniciante

Sim, a mão é minha mesmo.
Sim, eu sou um artista, embora “iniciante” seja mais para dar um charme. Já escrevo há muito anos e, embora não tenha muitas publicações em meu nome sei que vou chegar lá. Em todo caso, eu estou pensando demais e conflitando de menos. Vamos aos meus conflitos:
Eu estou escrevendo um livro (estou com uns projetos…). É um livro de fantasia, o qual me divirto muito escrevendo, apesar do trabalho que dá. Aliás, talvez por conta do trabalho. Criar um mundo de fantasia é, com o perdão do trocadilho, algo mágico. E não é nada fácil.
Eu comecei a criar meu mundo anos atrás. Até hoje eu acredito que não esteja completo, pois ele é um híbrido entre fantasia clássica (magia, monstros, etc.) e um mundo inventado dentro do cérebro do narrador da história (Alice, você por aqui?). O problema até aqui? Amalgamar tudo sem que fique ridículo (será que eu deveria usar essa palavra? Ridículo parece algo que um artista não deveria usar… — até parece!). Como assim, ridículo? É tudo uma questão de alinhavar o texto da melhor forma possível, mas sem deixar que vire tudo um País das Maravilhas mal acabado. Estou tendo bons progressos nisso e não é aí que entra meu conflito. Ele virá no próximo parágrafo.
Deixei vocês curiosos? Que bom, o objetivo é esse. Mas, falando sério, meu conflito deve ser o mesmo que todo autor de fantasia que construiu seu próprio mundo tem: o quanto mostrar e o quanto deixar rolar?
Eu quero evitar a “Síndrome de Tolkien”. Acho J. R. R. Tolkien um excelente criador de mundos, sei que a fantasia de hoje deve muito a ele, mas nada me convence de que, em vez de usar seu mundo para contar uma história, ele não usou sua história para mostrar o mundo que havia criado. Ele era muito detalhista em suas descrições e, embora eu não veja isso como algo ruim, também não sei até onde é bom. E eu não sei se quero ser assim.
No mundo de hoje, em que a internet nos traz informações a uma grande velocidade, será que vale a pena ser “aquele” autor? Será que vale ser o cara que explica em detalhes seu mundo antes de imergir na história? Ou será que eu devo ser outro tipo de escritor? Aquele que, mesmo tendo um mundo novo, resolve que o apresentará aos poucos? Quero ser esse segundo tipo, mas temo que meu estilo se aproxime mais do primeiro. E então, o que fazer?
Na verdade, não tenho uma resposta pronta, mas meu livro está aí, sendo escrito, e estou pensando na melhor forma de fazê-lo. O resultado? Ainda não sei, mas tenho ganas e esperança de descobrir.