quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Enganos

Já tentaram me fazer de santo, mas eu não sabia rezar a cartilha que mandavam.
Já me fizeram pecador, mas eu não conseguia sequer furtar pensamentos alheios, quanto mais confessar crimes que não cometera para uma falsa graça.
Já me disseram idiota e lhes dei razão, por me reconhecerem um igual.
Já me exaltaram salvador, mas fui covarde e fugi do martírio antes que o primeiro prego fosse batido na tampa de meu suposto caixão.
Já me deram por morto, mas eu, vivo, me fingi de tolo e desapareci pelo mundo afora.
Já me anunciaram medroso, apenas por não ter matado aquele que me tiraria a vida sem pensar e por ter concedido o perdão aos que me lincharam moralmente enquanto vomitavam suas torpezas como se minhas fossem.
Já me disseram mulher, sem que eu fosse homem.
Já me disseram menino, quando ainda era velho.
Já me acusaram outro, enquanto não passava do mesmo de sempre.
Já me fizeram acreditar em mim e duvidar da crença dos outros nas minhas capacidades.
Já me fizeram duvidar que os outros eram capazes de reconhecer os meus fracassos.
Já me desmontaram em mil pedaços para encontrar coesão, mas não descobriram a menor menção de coerência em minha existência.
Já me fizeram mil perguntas - e eu lhes dei tudo o que tinha, exceto as respostas, que não eram minhas.

segunda-feira, 21 de julho de 2014

Volta ao lar

Ia andando, caminhando sem um rumo, desesperado por um recomeço. Sua vida, antes tão cheia de alegrias, se apagara em tristeza. Seus traços, marcantes, eram agora nada, como se seu destino se tornasse incerto por sua fuga.


Percebia a atração irresistível e sabia que o inevitável acontecia. De mansinho, sem pretensões, sem saber quanto tempo iria durar, foi se aproximando mais uma vez daquele lugar que, mais do que tristezas, havia lhe dado muitas alegrias.

Atravessou o umbral, tirou o fardo dos ombros e deixou o peso das incertezas para trás. Sabia, em seu íntimo, que seria recebido com alegria uma vez mais. O pródigo completava sua volta ao lar.



É isso aí, pessoal! Depois de tanto tempo sem postar, deixando o blog às moscas e às teias de aranha, resolvi voltar antes que o monstro da inércia terminasse sua digestão e me fizesse vítima de seus caprichos. Sim, aqui estou e, embora não vá postar com muita regularidade, volto mais uma vez a este espaço. Espero ser bem-vindo.