Como matei meu primeiro lobo
Bruno Leandro
Eu matei meu primeiro lobo ainda menina. Lembro dos olhos, focinho e das orelhas grandes, das patas enormes e das presas afiadas. Lembro do medo que senti quando aquele animal olhou para mim com intenções assassinas, querendo me matar e devorar minha carne. Mas, pior do que isso, lembro de ver minha pobre avó largada no chão, desfigurada pelo ataque do resto da matilha, pouco mais do que ossos e sangue no chão. O que estava à minha frente era o pior de todos, o mais agressivo, o mais rápido, o mais feroz: o líder da matilha. Um rosnado seu e eu seria dilacerada pelos seus mínions. Eu era apenas uma criança, o que poderia fazer para me defender?
Tentei correr, mas o lobo se pôs no meu caminho. Os rosnados eram cada vez mais furiosos e ele parecia estar gostando da situação. A cada tentativa minha de voltar para a porta o monstro me cercava e eu era obrigada a voltar para o meio da sala. Eu já me considerava morta, quando fui acuada perto da lareira.
Só sei que uma hora o monstro cansou de brincar e saltou sobre mim. Lembro apenas de ter segurado na primeira coisa que vi, fechado os olhos e colocado o objeto á minha frente para me proteger, enquanto gritava e chorava, me derramando em lágrimas.
Esperei a dor, mas ela não veio. Não sei se foi instinto ou sorte ou o que mais pudesse ter sido, mas, quando abri os olhos, o monstro estava sobre mim e havia sangue no chão, mas era o dele. Eu havia puxado o atiçador da lareira, que tinha penetrado no coração da fera.
Os outros lobos ficaram confusos, mas não por muito tempo. Sem líder, não sabiam mais o que fazer ali, pois já não eram mais uma matilha. Ganindo, como se eu tivesse arrancado os corações de todos, eles fugiram rapidamente da cabana, me deixando só, com medo e com um trauma que demoraria anos para ser curado.
Confesso que ficou uma marca em mim. Depois daquilo, nunca mais fui a mesma, mas eu acho que de um jeito bom. De lá pra cá, já perdi a conta de quantos lobos eu já matei. E não os mato por crueldade, só em autodefesa. No entanto, confesso que ainda tenho a pele daquele lobo. Acho que é para me lembrar de por que eu continuo caçando...