quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Chapeuzinho Vermelho... de novo?

Eu tenho duas certezas: Uma, meu eu-lírico está muito feminino nestas duas últimas semanas. Duas: eu gosto muito de contos-de-fada, em especial o da Chapeuzinho Vermelho. Acho que já é a minha terceira versão! Prometo que mudo e falo de outras coisas, mas é que nunca vi um texto que me desse tanta vontade de escrever sobre...


Como matei meu primeiro lobo
Bruno Leandro

Eu matei meu primeiro lobo ainda menina. Lembro dos olhos, focinho e das orelhas grandes, das patas enormes e das presas afiadas. Lembro do medo que senti quando aquele animal olhou para mim com intenções assassinas, querendo me matar e devorar minha carne. Mas, pior do que isso, lembro de ver minha pobre avó largada no chão, desfigurada pelo ataque do resto da matilha, pouco mais do que ossos e sangue no chão. O que estava à minha frente era o pior de todos, o mais agressivo, o mais rápido, o mais feroz: o líder da matilha. Um rosnado seu e eu seria dilacerada pelos seus mínions. Eu era apenas uma criança, o que poderia fazer para me defender?
Tentei correr, mas o lobo se pôs no meu caminho. Os rosnados eram cada vez mais furiosos e ele parecia estar gostando da situação. A cada tentativa minha de voltar para a porta o monstro me cercava e eu era obrigada a voltar para o meio da sala. Eu já me considerava morta, quando fui acuada perto da lareira.
Só sei que uma hora o monstro cansou de brincar e saltou sobre mim. Lembro apenas de ter segurado na primeira coisa que vi, fechado os olhos e colocado o objeto á minha frente para me proteger, enquanto gritava e chorava, me derramando em lágrimas.
Esperei a dor, mas ela não veio. Não sei se foi instinto ou sorte ou o que mais pudesse ter sido, mas, quando abri os olhos, o monstro estava sobre mim e havia sangue no chão, mas era o dele. Eu havia puxado o atiçador da lareira, que tinha penetrado no coração da fera.
Os outros lobos ficaram confusos, mas não por muito tempo. Sem líder, não sabiam mais o que fazer ali, pois já não eram mais uma matilha. Ganindo, como se eu tivesse arrancado os corações de todos, eles fugiram rapidamente da cabana, me deixando só, com medo e com um trauma que demoraria anos para ser curado.
Confesso que ficou uma marca em mim. Depois daquilo, nunca mais fui a mesma, mas eu acho que de um jeito bom. De lá pra cá, já perdi a conta de quantos lobos eu já matei. E não os mato por crueldade, só em autodefesa. No entanto, confesso que ainda tenho a pele daquele lobo. Acho que é para me lembrar de por que eu continuo caçando...

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