Meus dois dedos de prosa sobre o pesadelo do fim do mundo dos últimos tempos
De uns tempos
para cá, a IA tomou conta de tudo. É possível vermos desenhos, vídeos,
“fotografias” e, até mesmo, textos e músicas feitos com tais “recursos”. As
aspas se aplicam, pois estão deixando de ser recursos e substituindo, ainda que
mal e porcamente, o trabalho humano.
Sei que a IA
soa como inimiga natural nos últimos tempos, bem mais do que uma simples Skynet
do pavoroso futuro do tal Exterminador, mas ela não deveria ser vista dessa
forma. O problema é que o dinheiro a tudo corrompe. E, com isso, vemos
trabalhos artísticos de pessoas vivas sendo utilizados, sem permissão, para
compor a criação dos mais diversos tipos de obras de arte que, mesmo
desprovidas de alma, ainda se passam por algo realizável. Não nos enganemos, a
IA aprende e, com o tempo, ficará mais e mais difícil distinguirmos o que foi
criado por ela. E isso é muito ruim.
Não sou
contra saltos tecnológicos, nem vilanizo a inteligência artificial em si, mas o
objetivo dela deveria ser o de auxiliar na execução de tarefas dos
profissionais, não substituí-los. Porém, há roubo de propriedade intelectual
para alimentar os binarismos de um computador e, por meio de um pseudo-gerador
de lero-lero, vomitar imagens aleatórias, sejam estáticas ou em movimento, ou
textos com alguma coesão e coerência, além de quiçá, uma melodia mais ou menos
agradável a nossos pobres ouvidos. E, à medida que isso ocorre, perdemos como
artistas e como sociedade.
Afinal, se começamos a achar que obras produzidas sem interação humana têm o mesmo valor que aquelas feitas às custas de sangue, suor, lágrimas e noites sem dormir, perdemos um pouco de nossa alma, pois dizemos que a arte não tem importância. E, se não tem importância, não precisamos de artistas, apenas do produto deles. Isso significa que a IA pode atuar, pintar, dançar, cantar, sapatear, esculpir e fazer virtualmente qualquer coisa que um ser humano se predisponha.
Apesar
disso, este texto não foi escrito por IA.
Uma IA não é
realmente capaz de dar conta de escrever como eu penso, desarticulando e
rearticulando as palavras, buscando sentidos diversos e se perdendo no caminho.
Uma IA é capaz de escrever um texto frio, sem alma. Afinal, ela não possui
mesmo uma. Questões religiosas à parte, a IA é apenas uma lógica matemática que
tenta calcular e desvendar a realidade, mas que não conta com o fator
imprevisibilidade que um ser humano teria capacidade de realizar.
Digamos, por
exemplo, que um certo ilustrador sempre deixa easter eggs nos seus trabalhos,
algo divertido para que as pessoas encontrem. Se houver sempre um padrão, a IA
que copiou o trabalho dele pode conseguir inserir a surpresa em algum pedaço da
tela. Porém, e se o ilustrador resolver mudar o padrão? E se resolver não
colocar nenhum easter egg em uma das obras, quebrando um paradigma? Seria a IA
capaz de prever isso e se antecipar ao fato em uma das obras que “criasse”? E,
se o fizesse, seria por “esquecimento” ou por “vontade”? Nenhum dos dois, é
claro. Afinal, IAs respondem a padrões. Se alguém se reinventa e foge dos
padrões, a previsibilidade cai por terra.
Enfim, este texto não foi escrito por IA e, por isso, vocês podem gostar, ou não, do que escrevi. Vocês podem se ofender, caso sejam entusiastas da Inteligência Artificial e da “morte aos artistas”, ou podem me dar toda a razão do mundo. Talvez, até, ignorem a minha escrita (ou finjam que ignoraram, deixando que ela ressoe apenas dentro de vocês mesmos). A escolha é de vocês, algo que, por serem humanos, são capazes de ter e fazer.
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