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Fusão de textos.

Olá a todas e todos. Hoje resolvi trazer uma novidade para vocês.
Lembram-se dos dois últimos textos que eu postei aqui no blog? Máscaras e Maniqueísmo? Bem, o texto de hoje é uma homenagem a eles. Explicando melhor, o objetivo deste texto é, de alguma forma, unir a essência do texto "Máscaras" com o "Maniqueísmo", mostrando, então, como pessoas más usam máscaras "boas", fingindo ser quem não são, assim como pessoas boas são obrigadas, por vezes, a travestirem-se de outras para sobreviver ao mundo.
Aproveitei, também, para brincar um pouco com os tempos verbais, situando os personagens em contextos de momentos diversos, enquanto exemplificava as diferenças entre cada em relação a si e aos outros.
Acho que consegui meu objetivo, mas somente vocês podem me confirmar. Então, o que acham de olhar este novo texto?


Máscaras e Maniqueísmo
Bruno Leandro

 
           O relógio tocou. Eram horas. O dia ia começar.
Ele levantou, olhou no espelho e se espantou: estava com seu próprio rosto. Com medo do que poderia acontecer, correu para a mesa de cabeceira e pegou a máscara de reserva na gaveta do móvel. Colocou-a, voltando a ser completo. Aquele tímido e recatado homem agora parecia novamente duro e austero como todo presidente de empresa precisa ser para sobreviver ao mundo negócios.
Em outro ponto da cidade, um empregado acorda. Este é esperto, não tira a máscara nem para dormir. Está um pouco suja e ensebada, mas nada que a água e sabão do banho não resolvam. É assim mesmo quando usamos uma máscara o tempo todo. Às vezes até nós mesmos nos confundimos e acreditamos que somos aquilo que aparentamos.
A secretária do presidente passa e maquiagem sobre a sua máscara. A máscara é sedutora, mas não custa dar uma ajudinha. Quem sabe se melhorando a máscara ela não melhora também o cargo e o salário? Afinal, não é assim que todos melhoram de vida? Colocando as máscaras certas?
Dali a instantes acordará o sócio. Ele levantará calmamente, sem pressa alguma. Tomará seu café-da-manhã tranquilamente e lerá seu jornal do dia, enquanto tudo e todos lhe servem como se fosse o centro do universo. Mas, pelo menos para si mesmo, ele é e sempre será. Sairá de casa tarde, sem nem mesmo se preocupar se tem ou não compromissos durante o dia. Só porá a máscara em frente a seu sócio, mostrando-se solícito, em seguida, quando o mesmo não estiver próximo, tirará a máscara, para tratar os empregados como acha que eles merecem.
O porteiro acordara bem cedo. Não gostava do emprego, mas era grato por ao menos ter um que sustentava a sua família, ainda que mal. Sempre fora o primeiro a estar a postos, pois seu trabalho dependia disso. Era ele quem abria as portas a todos, dos patrões aos empregados, de chefes a subordinados. Ele sabia que seu trabalho não era importante para os outros, mas era seu ganha-pão e nada podia fazer quanto a isso. Sendo assim, levantara cedo, cedo demais para qualquer ser humano. Tomara o parco café-com-leite aguado e o amanhecido pão com manteiga comprado de véspera, já que nem os padeiros tinham coragem de acompanhar-lhe os horários. Ao chegar à portaria seu dia começara e pusera a máscara da subserviência em seu rosto, pronto para o começo de um novo dia.
Teríamos também o contínuo, que se arrumaria cedo, mas não tanto quanto o porteiro. Ele comeria, escovaria os dentes e até sairia a trabalhar. Chegaria à empresa, sempre cheio de alegria e disposição calculadamente fingidas e sairia para a entrega das correspondências e os pagamentos de banco do dia. Mas, ele não acordou a tempo. Por isso, assim que acordar, ele vai colocar sua máscara, ligar para a empresa e avisar que não vai, pois está “doente”.
Por último nesta história, temos o ex-chefe do almoxarifado. Ele era o responsável pelo estoque da empresa. Nem mesmo uma simples borracha ia de um ponto a outro sem que ele tomasse conhecimento. Todas as manhãs, se preparava para um novo dia, se julgando importante por ter um cargo bom, mas sem se tornar prepotente apenas por isso. Ele cuidava de tudo, lidava com todos, mas não abaixava a cabeça para nenhum. Mas agora ele não é mais chefe, não é mais nada na empresa e poucos se lembram dele. Não é importante para mais ninguém. Não pensem que há algum motivo secreto ou obscuro, que ele tenha sido demitido por justa causa ou que tenha morrido. O motivo era porque ele já estava aposentado. Esta foi a razão pela qual sua máscara não era mais usada, ficando jogada todos uns dias em um canto qualquer, acumulando poeira e parecendo tão inútil quanto ele se sentia agora...

Comentários

  1. Bruno, sempre achei seu dom lindo. Você não escreve. Você é um encantador de palavras. Lembro-me do primeiro semestre, em que, em meio à aula de Linguística você me fez um belo texto e fiquei maravilhada com tamanha sensibilidade. Eu apoio seu dom. Continue!!!!

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  2. é um texto bastante complexo, e um dos melhores que li até agora. mas ainda quero ler aquele sobre o sumiço dos textos!

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