quarta-feira, 27 de julho de 2011

O que você faria se só te restasse um dia?

Se o mundo fosse acabar, acho que eu me encheria de chocolates e doces, dançaria até cansar, cantaria alto e pensaria que o mundo pode ser melhor.
Se o mundo fosse acabar, eu não sei como agiria. Eu tentaria continuar sendo eu mesmo até o fim.
Se o mundo fosse acabar, eu NÃO me mataria. Vai que o mundo ainda durasse um pouco mais?
Se o mundo fosse acabar, acabaria bem para mim, pois eu estaria fazendo o que eu gosto.
E você? O que faria se o mundo fosse acabar?


Um Cometa Branco no Céu
Bruno Leandro

O fim do mundo iria acontecer em uma quinta-feira, disseram os cientistas. Não, desta vez não eram os astrólogos com suas previsões Incas, Maias e Astecas, ou algum seguidor ensandecido de Nostradamus. Quem falava isso eram os astrônomos. E eles não estavam loucos, os sinais estavam nos céus: um cometa branco se dirigia para a Terra, em rota de colisão direta.
Dizia-se que o cometa passaria por dentro do planeta, perfurando seu núcleo em velocidade tal, que aqueles que não fossem esmagados ou queimados de pronto também não sofreriam muito, pois a explosão seria imediata e aos restantes pulverizaria instantaneamente. O ponto de contato do cometa com a Terra seria no Brasil, no centro da famosa cidade do Rio de Janeiro.
Na cidade todos se desesperaram imediatamente. Da periferia à Zona Sul, a população em massa da cidade recebeu a notícia quase ao mesmo tempo. Estivessem estivando no cais do porto ou passeando com seus cachorrinhos no calçadão de Copacabana, fossem patrões ou desempregados, todos agora eram iguais e o mesmo destino os colheria sem exceção.
Naquela segunda-feira, portanto três dias antes, todos os serviços pararam: os motoristas de ônibus dirigiram para casa, os padeiros fecharam suas portas, os vendedores não tentaram mais convencer seus clientes. Até mesmo os bandidos baixaram suas armas. A partir daquela cidade, o mundo ficou lento.
Aqueles que não bebiam começaram a beber. Aqueles que bebiam imediatamente ficaram sóbrios. Na Praça Afonso Pena, alguns idosos continuaram seus dominós, damas e baralhos. Um deles, já quase surdo e que havia ouvido a notícia gritada pelos filhos, já tinha passado por tantos pretensos fins do mundo desde que havia nascido que não acreditava em mais nenhum.
Surpreendentemente, não houve notícias de saques. As guerras pararam, pois logo não haveria mais territórios a serem conquistados. Nenhum homem matou a si ou aos outros nos dias que se seguiram. A sensação de inevitabilidade a todos tinha serenado os ânimos. O mundo, enfim, alcançava a paz. Era uma pena que isso só fora acontecer em seus momentos finais.
Estavam os homens reunidos e abraçados. Muitos em seus lares, muitos em lugares que julgavam especiais. Fosse com seus amigos, famílias ou quem lhes fosse mais caro, todos esperaram por seus destinos finais. As crianças, inocentemente alheias à tragédia iminente, brincavam alegres, em seus pátios, ruas e playgrounds, livres da supervisão dos adultos. As pessoas se amavam cada vez mais.
O dia chegou. No Largo da Carioca, algumas pessoas cantavam canções de saudades e inocências perdidas, enquanto a contagem regressiva era feita.
Súbito alguém olha para o céu e grita. Lá em cima, algo se movia com velocidade impressionante. As pessoas choraram e se abraçaram. A hora tinha chegado. Todos fecharam seus olhos. O mundo ficou em silêncio.
... Um minuto depois, com tradução simultânea para todas as línguas do mundo, uma voz falava, constrangida: os cientistas haviam se enganado, não era um cometa branco que vinha em nossa direção, mas um meteoro branco, inofensivo, que havia evaporado ao entrar na atmosfera. Repetindo: não havia motivo para pânico. O mundo estava a salvo.
As pessoas abriram seus olhos lentamente, arriscaram olhar para o céu e, então, viram a verdade sobre o objeto que vinha em alta velocidade: era apenas uma nuvem empurrada pelo vento. Uma nuvem veloz, mas uma nuvem. Uma nuvem transformada em cometa pelo medo coletivo. Uma nuvem branca. Que passou.

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