quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Quando Chove

Confesso que detesto chuva, que sinto depressão e que não acho andar ou dançar na chuva a coisa mais maravilhosa do mundo. Porém, sem que nos demos conta, às vezes precisamos dela...


A Chuva
Bruno Leandro

O céu despeja suas lágrimas sobre mim. Quanto tempo faz? Eu já quase me esqueci de quem sou. Não, isso não é verdade. Eu sei quem sou. Eu esqueci foi de quem eu deveria ser.
A chuva leva embora meus pensamentos e minhas memórias. Ela lava todas as minhas virtudes e todos os meus pecados, me tornando uma tabula rasa. Estou pronto para que se escreva novamente sobre mim. Minha história é passado e vivo só para o futuro.
Ontem? Já passou. Aliás, o ontem sequer existiu. Eu sei apenas do que virá. Aliás, não sei, mas a incerteza guarda algo de belo em mim.
Chove fora e dentro de mim. Chove de dentro para fora e de fora para dentro. Me renovo de novo. Minha identidade é apagada, meu desejos, fantasias, realidades e falsidades. Quem sou eu? Quem eu fui? Quem serei? Nada disso importa, o que importa é apenas o momento.
A água dança ao meu redor. É bela, pura, inocente, feliz. Parece meu estado de espírito. Já fui o oposto. Já tive sua violência, seus trovões, suas rajadas de vento que entram violentamente como a tempestade e não se recolhem de forma alguma. Já fui uma torrente de emoções e um turbilhão de sentimentos. Hoje sou uma leve garoa que escorre lentamente e que não altera, antes se adapta a, o mundo ao redor.
Continuo a não lembrar, e o esquecimento era uma bênção. Queria que ainda fosse. Queria me esquecer da minha própria pessoa e apenas me deixar levar, me deixar levar, me deixar levar... infinitamente sem rumo, sem objetivos, sem ter que ir para lugar nenhum. Sem dever nada a ser algum.
As águas se espalham, os pingos ficam um pouco mais grossos e o mundo perde sua nitidez. As cores do ambiente se espalham em um borrão. Tudo perde seu contorno e as pessoas perdem suas formas. Os limites ficam indefinidos e meus sentidos ficam confusos, com minha visão turva e a natureza embaçada.
Sinto que a chuva me chama. É difícil resistir, mas sei que não é chegada a hora. Ainda não é o momento de me entregar às suas águas. Não posso ainda flutuar com suas gotas, pois ainda não é chegada a hora de ser totalmente livre. Sei que me libertei do passado, mas ainda há um futuro o qual preciso encontrar.
Talvez um dia, no fim de tudo, eu possa ceder. Mas não agora. Agora é hora de deixar a chuva passar, de liberá-la, de libertá-la. É hora de deixá-la ir. É hora de entrar e ver a chuva partir...

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