quinta-feira, 24 de março de 2011

A Guerra é Cruel

Olá, pessoal. Eu aqui de novo com mais um texto, este falando sobre a guerra.
Tem gente que acha que o texto que criei é um pouco depressivo e um colega me disse uma vez, brincando, que alguns dos meus textos são "um convite ao suicídio". Sinceramente, espero que não sejam, pois do contrário eu fico sem leitores.
Enfim, este texto é, ou espero que seja, atemporal. Escrevi há mais de dez anos, mas o assunto ainda é atual. Guerras, quantas já existiram e quantas mais ainda existirão?
Aviso logo que a minha descrição de algumas partes foi um pouco crua, mas não acho que tenha sido muito exagerada.
Enfim, apreciem e me deem algum feedback, ok?

PS: Sim, meus textos são vem variados e eu costumo ser bem versátil. Então meus temas são amplos e eu falo de quase tudo. Adivinhar o que vou escrever a seguir é parte da graça.



Memórias de uma guerra que não deveriam ser contadas.

Bruno Leandro


           
            Que estas folhas que estão em branco logo sejam preenchidas. As lágrimas que derramo sobre o papel secarão rapidamente. Entretanto, isso não apagará a triste memória que tenho daquele dia...
Era uma madrugada de verão como todas as outras madrugadas. Exceto por um acontecimento: a guerra.
Eu estava despertando no acampamento uma hora antes do que deveríamos, quando ouvi as metralhadoras. Lá fora todos os meus companheiros eram fuzilados. Mesmo levando vários consigo, o fato é que morreram. Fomos emboscados pelo inimigo e só restava reagir. Foi o que fizemos.
Todos saltaram de suas camas e, mesmo seminus, pegamos nas armas e atiramos como loucos. No meio de tudo alguns de nós, os mais jovens e assustados, olhavam para os lados, esperando o movimento inimigo. Dentre eles, um jovem que nunca esquecerei. Não direi seu nome, mas ele me tomou por seu melhor inimigo e acho que também o tomei por meu. Naquele momento olhei em seus olhos e vi sua alma. Era terror. Ele estava aterrorizado e eu via isso em seus olhos. Olhos que não veria mais.
Na confusão que se formou, não se sabia quem era amigo ou inimigo. Balas e morteiros voavam por todo lado. Corpos eram atravessados por tiros e mesmo nossos inimigos eram trucidados pelas minas terrestres. E eu lá, no meio de tudo, por um tempo que não saberia dizer. Talvez fossem poucos minutos, mas para mim pareceram horas, dias e até anos.
Depois nossos reforços chegaram e acabamos com o inimigo. Infelizmente, para muitos já era tarde. Quase me desesperei ao vê-los: cabeças estouradas, braços descolados do corpo, pernas soltas, vísceras expostas... tantas eram as formas de suas mortes e os estados de seus corpos, que não se podia reconhecer a quem pertencia esta ou aquela parte do corpo. Nada parecia encaixar. No meio daquilo estava o meu amigo.
Seus olhos tão expressivos não revelavam nada além do horror da morte e, apesar de estarem na minha direção, não me viam e nem a mais nada. Sua boca balbuciava algumas últimas palavras de agonia, mas logo se fechou, expelindo um pouco de sangue do seu último suspiro. Ainda assim não reagi em desespero. Reagi como um soldado e, embora meu coração desejasse gritar e chorar toda a agonia que senti, deixei minha dor para mais tarde e fechei seus olhos, que permaneciam abertos.
Algum tempo depois a guerra acabou, com a nossa vitória. Meus companheiros mortos puderam, enfim, ser enterrados dignamente e receberam o devido reconhecimento pós-morte através de suas famílias. Eu assisti a cerimônia impassível, também recebendo as medalhas que me eram devidas pela minha atuação na guerra. Apenas  outros dois companheiros meus estavam vivos para receber as suas também.
Ao chegar em casa naquela noite, não mais me contive e chorei. Chorei todas as minhas lágrimas por meus amigos mortos naquela triste guerra. Chorei como qualquer um deles teria chorado. Chorei com toda a tristeza que havia acumulado até aquele momento e gritei até quase estourar minhas cordas vocais e meus pulmões. Depois, em meio aos meus prantos, dormi. Não me lembro o que aconteceu a seguir, mas creio ter vivido esperando me chamarem novamente. E isso aconteceu.
Escrevo agora sob a luz de uma lanterna o que talvez sejam minhas últimas letras, pois estou no meio de mais uma guerra. Outra, já que elas são intermináveis. A esta talvez eu não sobreviva. Se sobreviver, terei de ver mais companheiros e amigos serem mortos e mutilados e enterrá-los novamente, esperando para poder chorar por eles depois. De qualquer forma não importa. Afinal, eu sempre estive esperando por isso. E se morrer será apenas um alívio.

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