Pular para o conteúdo principal

Primeiro de Abril Atrasado.

Este post está semanas atrasado, mas antes tarde do que nunca.
Eu resolvi fazer um conto de primeiro de abril e postar aqui, mas, como eu ainda tinha outros textos a postar na frente, acabei não fazendo isso. Mas não tem problema. Como eu já ouvi por aí: antes tarde do que mais tarde. Porém, um aviso ao amigo navegante: este texto contém cenas fortes, mas, no fim, é tudo uma grande brincadeira de primeiro de abril. Ou será que não? Descubra por si mesmo.
Com vocês:



Um Terrível Conto de Primeiro de Abril.

Bruno Leandro

Devagar. Devagar era bom. Devagar era muito bom. Muito, muito bom. A navalha cortava o pescoço lentamente, abrindo a carne aos poucos, enquanto rompia músculos, tendões, nervos e artérias. O sangue, então, espirrava. Primeiro, devagar, um pequeno fio de sangue escorrendo pela pele. Depois, com maior velocidade, um esguicho tímido, fino, que foi se transformando em um rio rubro, que manchava pele e roupas, se empoçando no chão. O pedaço de carne gritava, mas isso apenas aumentava o seu prazer. Um prazer quase sexual, sublime. O prazer de sentir a dor dos outros.

A navalha também passeava em outras áreas, em outras carnes. Cada pedacinho ia sendo retalhado ou esfolado. Era lindo ver o escarlate por debaixo da pele. Primeiro era o róseo dos músculos, aquela cor pulsante, se contraindo a cada corte. Depois, vinha o vermelho vivo do sangue. Este, mais especial ainda, que se espalhava e alterava o tom do mundo. Por fim, o branco dos nervos, que maculavam aquela cor linda, tornando-a suja, impura.

O prazer daquele momento sublime durou horas, a melodia da dor sendo orquestrada pelos movimentos precisos de cima a baixo e laterais, diagonais algumas vezes. Ele era uma criança com seu melhor brinquedo. Um artista em seu melhor momento. Os desenhos cortados naquela tela incomum eram cada vez mais lindos, perfeitos.

Por fim, para encerrar a sinfonia, o suspiro final da canção de agonia cantada pelas horas a fio como uma valorização de sua obra. A admiração coroada do sofrimento profundo. A dor que chegava ao fim.

Desinteressado, ele largou o corpo sobre a cama, enquanto limpava seu instrumento de arte. Sobre o móvel, a tela já não era mais viva e, portanto, não importava mais.

Os olhos vidrados o encaravam acusatoriamente do além-morte, mas ele não se encolhia de culpa. Ela acreditara nele. Acreditara! Ele havia dito que a deixaria viva, mas como poderia? Será que ela não sabia que era primeiro de abril?

Comentários

Postar um comentário

Postagens mais visitadas deste blog

Como melhorar na escrita?

(You should work, work, work, work, work.) Escrever sobre escrever, por mais que pareça bobo, é algo que me anima. E digo isso pelo simples fato de que eu relaxo ao poder colocar minhas dúvidas e anseios fora da minha própria mente. Este espaço não se pretende nada mais do que um lugar de questionamentos e desabafos, sem respostas prontas e sem obrigatoriedade de respostas ao final da postagem. E, por conta disso, o assunto que eu quero abordar hoje é como melhorar na escrita. Escrever é algo difícil, mesmo para quem tem rompantes criativos, um português impecável e nasceu com um tablet na mão. Apesar de ser criativo e ter um nível muito bom de português, estou longe de ser perfeito e podem ter certeza de que não nasci com nenhum aplicativo de escrita a meu alcance. Sou da época (na minha época…) em que a internet estava começando. Eu posso, inclusive, dizer que cresci junto com ela, que nos desenvolvemos juntos e fomos aprendendo a lidar um com o outro. A tecnologia também evol...

O Artesão das Imagens e Palavras

Hoje resolvi ambientar minha história em um mundo de fantasia que ainda irei criar. Como assim? Bem, este texto é sobre um ser que criei há algum tempo e que dá título ao conto de hoje. Aliás, é errado dizer que escrevi um conto, o que fiz foi apresentar este personagem e pedir a ele que falasse brevemente sobre sua história. Então, em vez de "conto", vamos dizer que meu personagem escreveu uma espécie de mini-autobiografia. Um pequena observação: esta não é a primeira aparição do personagem no blog, ele pode ser visto aqui e a cidade de Leandor também já existe, mas não um mundo onde eu possa colocá-la, ainda. Quem sabe eu a coloque em algum mundo já criado? Bom, ainda vou decidir isso. Questão de tempo. Por enquanto, fiquem com a biografia de: O Artesão das Imagens e Palavras. Bruno Leandro Não me tornei o Artesão das Imagens e Palavras à toa. Eu o fiz porque tinha um sonho. E um dom. Eu o fiz porque tive quem acreditasse em meu sonho. E em meu dom. Nasc...

Ser Homem

O que é ser homem? Muito se discute sobre isso e, além de algumas ideias pré-concebidas e estereotipadas, não existe uma definição oficial. Eu resolvi pensar sobre isso e cheguei à seguinte conclusão: Os Sofrimentos de um Homem Bruno Leandro Homem sofre. Não, não estou falando isso de brincadeira. É verdade, sim. As mulheres pensam que são as únicas afetadas pelos padrões da sociedade atual, mas estão enganadas. Querem um exemplo? Meninos não choram, homens não choram. Se um homem se sente triste, vamos beber pra espantar a tristeza. Se chora, é “sensível” (leia-se gay , no sentido pejorativo e preconceituoso da palavra). Ai do homem que soltar uma lágrima no lugar de um palavrão. Os que não forem próximos a ele vão debochar de seu sofrimento o quanto puderem. Na verdade, até alguns dos que não são tão próximos. Aliás, isso me leva a outro ponto: homem tem que ser macho! Homem não leva desaforo para casa, tem que falar grosso, coçar o saco, cuspir no chão (se for um e...