quarta-feira, 27 de junho de 2012

Mais uma de minhas divagações

De vez em quando eu divago. aliás, de vez em sempre. Isso não é nada difícil para mim. Eis mais um dos resultados de minhas divagações:


Acordado
Bruno Leandro

Abriu um olho. Era quase dia. A noite havia passado como se não tivesse. Havia havido noite? Sono? Não sentira. Fechara os olhos por um instante e acordara. Mas, quando dormira? Por que o sol estava do lado errado do horizonte, se estava no poente há menos de um segundo?
Curioso, olhou para o relógio. Parado. Não, espera, se movia. Mas como as horas eram exatamente as mesmas?
Será que sonhava que havia acordado? Será que sonhava que havia dormido?
Tentou abrir os olhos. Conseguiu. Então, devia estar acordado e não havia dormido, certo? Certo. Errado! Se não houvesse dormido, o sol ainda estaria do lado correto. O que fazer para resolver o dilema?
Checou o hálito. O mesmo sabor da barra de chocolate, ainda meio mordida sobre a mesa e sem formigas ou moscas por cima. Seu hálito não amargava, ainda sentia sabor de doce na boca. Mais um mistério.
E os olhos? Deles não saía areia ou lágrima ressecadas, não saía nada, e estavam olhos espertos, despertos. Não se lhes havia embaço ou sonolência e prosseguia o enigma.
As roupas não estavam amassadas. Não mais que o normal, pelo menos. Nem a roupa, nem a face. Mexeu em tudo e nada estava fora do lugar. Apenas ele.
Fechou os olhos, abriu de novo e fez-se a luz. Desde quando a esquerda havia sido a direita e vice-versa? Quando foi que o “para cima” havia virado para baixo pela última vez? Por que tudo estava fora do lugar e somente ele não havia saído do lugar?
Deu meia-volta na cadeira. O dia virava noite finalmente ou outra vez. O nascente estava no poente e o que acordava, na verdade dormia.
Girou a cadeira mais uma vez, “desgirou” novamente. Tudo, afinal, fazia sentido.

2 comentários:

  1. Ótimo texto! Você é muito talentoso. Bruno Furtado.

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    1. Valeu mesmo, Bruno!
      Espero que goste do espaço e volte sempre.
      Abraços!

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