No texto de hoje, um conto sobre guerras de um ponto de vista... peculiar.
A Guerra é Cruel
Bruno Leandro
Vejo tantos companheiros mortos, tantas perdas! São
tantos, meu Deus, tantos! Tantos corpos que é quase impossível contar um a um.
Enquanto passo pelo campo, posso ver as causas de suas mortes e as lágrimas vêm
aos meus olhos mais uma vez: membros estourados, corpos esmagados, cabeças
arrancadas... Não, não, não! É demais! Eu não consigo aguentar!
Ali! Vejo um pouco de movimento de um companheiro
caído e vou até ele. Antes mesmo de chegar percebo que é tarde demais: a parte
inferior de seu corpo está esmagada, uma mancha sangrenta sobre o chão.
Ouço baixos zumbidos em volta e vejo alguns poucos
companheiros ainda se mexendo. Não, eles estão se contraindo. Seus corpos em
espasmos me mostram a verdade de suas mortes: seus fins vieram da nova arma que
meus inimigos encontraram para brincar conosco: uma imensa trama elétrica que
nos prende e mata com inúmeros volts. Por que tanto ódio?
De repente, ouço um barulho estranho e me escondo.
Veneno! Eles lançaram veneno no ar! Loucos! Demônios!
Eu consigo me esconder a tempo e a nuvem mortal passa
sem me tocar. Nossos inimigos seguem atrás de outros e eu fico ali, tremendo.
Os gritos são horríveis, horríveis! E eu não posso fazer nada! Sou um inútil!
Saio o mais rápido que posso e me escondo sempre que consigo
rápido, secreto, morrendo de medo. Lutando por minha vida.
De repente, um dos inimigos aparece, de costas para
mim. Enlouquecido, salto sobre ele, penetrando fundo em sua pele. Eu tiro seu
sangue e fico bêbado pelo sucesso. Fujo a tempo, antes que outro deles, já com
o punho em riste, consiga me atacar.
Agora é tarde e sei que não posso mais me esconder.
Fujo e me esquivo, mas eles correm atrás de mim. Eles são muitos, eu sou apenas
um. Eles me perseguem até me cercarem. Sou encurralado.
Viro-me para encará-los. Sei que serão eles ou eu e me
preparo para o destino final. Não será sem luta!
Fujo de um. De dois. Ataco um terceiro. Mais sangue!
Sinto-me invencível, mas apenas por um instante. O quarto! O quarto deles me
atinge com suas mãos nuas. E eu caio.
Enquanto caio, eu olho para suas faces. Eles não têm
mesmo a decência de se importar com nossas mortes. Somos menos que nada para
eles! Somos insetos!
Agora sou eu, no fim da minha vida, que zumbo
fracamente. As asas, inúteis, se descolam do meu corpo. Meu ferrão se pendura
inútil, assim como as antenas. Duas patas ficaram nas mãos de um dos
desgraçados, mas não faz diferença agora. Dentro em breve não fará diferença
nenhuma.
Já vejo o pé descendo sobre mim para completar o
serviço. Ele me esmaga, e sou apenas uma mancha vermelha e negra sobre o chão.
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