Por
que eu luto?
Bruno Leandro
Vivi muitas vidas e batalhei em inúmeras guerras.
Sempre lutei ao lado dos que achava justos e passei cada uma de minhas
existências desafiando o que eu considerava mau.
Já morri mortes terríveis, já enfrentei torturas
diversas e sempre tive como recompensa de meus atos abnegados o sofrimento.
Cada encarnação foi mais dolorida do que as outras. No entanto, eu sempre segui
em frente, sempre prossegui sem medo e sem olhar para trás. Nunca pensei duas
vezes sobre me sacrificar nas escaramuças, pois eram justas, eram corretas e eu
deveria apoiá-las.
Livrei o mundo de inúmeros tiranos e fiz com que
vários déspotas se arrependessem de seus atos. Salvei inúmeros povos de seres
perversos e malignos e dei a cada ser que fora tocado pela bondade uma segunda
chance de se arrepender de suas vis ações. Não tirei vidas sem motivo e nunca o
fiz por motivos torpes. Sempre preferi dar minha vida para defender os bons e
impedir o avanço dos maus.
Sofri, sofri muito e sofri por muitas eras, de uma
forma tal que meu corpo gritou e minha alma e espírito se arrebentaram e
bradaram, suplicando por descanso. Ainda assim, minha mente, que a tudo que há
em mim governa, mesmo exausta e exaurida, mesmo sabendo que não haveria
recompensas no final, novamente, uma vez após a outra, se levantou e, animando
a mim e aos outros, prosseguiu em frente, me impelindo a lutar contra os
inimigos mais uma vez. Isso me trouxe a mais esta batalha.
Sinto-me tonto pela falta de sono e um golpe errado
faz com que minha guarda se abra. Minha visão nubla e reconheço a dor como uma
velha amiga quando o coração é transpassado. O sangue espirra pelas narinas e
sinto seu gosto de ferrugem em minha boca, enquanto trinco os dentes. Meu corpo
enfraquece, mas reúno forças para um último golpe, que acaba sendo suficiente.
Meu inimigo tomba antes de mim e o mundo está seguro por mais algum tempo. Sei
que serei necessário outras vezes, mas, ao menos por enquanto, posso descansar
em paz.
Meu corpo cai com um baque surdo no solo, mas não
creio que alguém ouviria minha queda, no meio de tantas outras. Sei que, mais
uma vez, morrerei e permanecerei anônimo e que meu corpo será indigente como o
de tantos outros que caíram antes de mim ou que cairão depois; não importando
seus lados, na morte somos todos iguais.
Se o que passei valeu a pena? Posso dizer que sim,
mesmo sentindo a vista escurecendo e sabendo que minha última visão deste mundo
será o pequeno rio que se forma de meu sangue. Minto, essa não será minha
última visão, pois me esforço para olhar para o horizonte e vejo o motivo que
me faz lutar sempre que sou necessário. Vejo montanhas, um lindo céu azul e um
sol que queima como fogo, alaranjando a paisagem enquanto o dia se vai, junto
comigo. É por isso que eu luto, para que o mundo consiga ter pelo menos mais um
nascer do sol, ou um lindo pôr-do-sol como este que acompanha o fim de meu
último dia nesta terra...
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