quarta-feira, 29 de junho de 2011

Catadora de Latinhas

A história de hoje é parte real, parte inventada, parte devaneio. É real, porque já cansei de ver catadores de lata, papelão, lixo, etc. por aí. Também é real porque parte dela aconteceu com um amigo, mas o catador era homem. É inventada porque eu nunca passei pela situação que escrevi, mas por coisas parecidas. É devaneio porque tais situações me fazem pensar sobre muitas coisas.
Espero que gostem da história e que ela também os faça refletir.


A Moça das Latinhas
Bruno Leandro

Ipanema, fim de tarde, já quase noite. Os belos corpos já se levantaram da areia e os poucos que ainda restam, já não tão belos, admiram o mar. Cena de cinema.
Mas algo destoa de tão linda cena: uma moça, já senhora, que vejo recolher latinhas na orla. Ela está aqui, ali, lá e acolá, passa e vem de um lugar ao outro, recolhendo o alumínio que os outros descartam.
Não olho muito, pois nada tenho a ver com sua vida. Logo me aborreço de ficar parado e ando, sem rumo e sem destino.
De repente, uma voz me para. Não, não é um assalto, é a “moça das latinhas” que chega perto e pergunta:
“Moço, tem dinheiro?”.  – Quase tenho vontade de rir. Eu, estudante e desempregado com dinheiro? Quem me dera. A praia é de graça, por isso estou ali.
“Infelizmente, não tenho.” – respondo, quase me pondo a caminho. Sem sucesso, já que ela me interpela de novo:
“Mas tem latinha?” – ela pergunta, saco em mãos e um sorriso meio desdentado, mas esperançoso por completo. Latinha eu tenho, de refrigerante, porque não bebo álcool. Como já ia jogar fora, dou-lhe a latinha. E tento seguir. Ela me interpela de novo:
“Mas não tem nenhum dinheirinho, aí, não? Uma moedinha que seja?”
Já meio injuriado, conto as moedas do bolso. Só dá o da passagem e olhe lá! Acho que me sobram cinquenta centavos, quando muito, que ela olha, desejosa.
Estou prestes a dizer que não dá, que não posso lhe ceder meu troco, quando ela fala:
“Se eu contar uma história, o senhor me dá esse trocado?” – barganha. Acho graça de novo. Ela, mais velha do que eu, me chamando de senhor, com toda a subserviência que não deveria ter. Quase digo que não, mas acabo cedendo. Penso em dar as moedas de qualquer jeito e seguir meu rumo, mas a curiosidade é mais forte neste momento quase mágico de início de noite à beira de uma das mais belas praias do Rio. Eu a escuto.
Ela me conta de sua vida simples e sofrida, de como chegou ao Rio fugida da seca do Nordeste em busca do sonho de ganhar dinheiro. Conta de como juntou tudo o que tinha e o que não tinha para pagar pela viagem que iria lhe abrir as portas. Ouço calado, ainda admirado da ingenuidade dos que ainda hoje acham que cidade grande é terra prometida, terra mágica de oportunidades infinitas.
Ela fala de como tentou trabalhar em casa de família, fazer o que fosse. E me conta de sua má sorte, que a empurrou para a favela, onde morre de fome um pouquinho a cada dia e sobrevive com o que ganha catando latinhas. Dá, também, graças a Deus por não ter tido homem ou filhos que lhe compartilhassem a miséria. É sozinha, com a graça de Deus.
Fico com pena. Não que possa fazer por ela o que não posso fazer por mim, mas me dá pena ver uma pessoa privada do mínimo. Choraria se já não estivesse tão comum ver cenas como a dela por aí. Sua história não é nenhuma novidade. Ela não é a primeira e nem será a última e até sabe disso, mas vive com a pouca dignidade que consegue reunir. Não é uma história boa nem uma boa história, mas é uma história verdadeira.
A moça das latinhas me ganha. Eu dou a ela os merecidos centavos e volto a me preocupar com meu mundo de novo. Um mundo onde a vida é um pouco mais fácil e bem menos dura. Ela vai embora. Eu pergunto, antes que parta: “Qual é seu nome?”.
“Esperança” – ela me responde, se afastando. Eu fico ali, com a ironia de seu destino de ter um nome que talvez seja a única coisa que a faça sobreviver ao desespero de sina tão cruel.
Fecha a noite, não há mais corpos belos e a praia já não é mais tão convidativa. Retorno a casa e saio daquele pedaço de paraíso que chamam Ipanema.
Esperança, quem diria?

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Se você não vê, não existe?

Olá, pessoas!
Hoje vou falar sobre homens invisíveis. Vocês já viram algum? Eu, já. Vários, aliás. Como eu fiz isso? Descubram a seguir.
PS: Este texto foi publicado na primeira edição do jornal do Instituto de Letras da UERJ: o "Jornal Sujo" durante o mês de maio. Primeiro passo na dominação mundial.


Os Homens Invisíveis
Bruno Leandro




Estava eu dia desses passando pelas ruas do Rio de Janeiro, quando encontrei um homem invisível. Estava lá, na minha frente, eu juro! Daí, vocês vêm e me perguntam: mas como, de que maneira, você conseguiu ver um homem invisível? Se é invisível, não dá para ver, não é mesmo? Mas eu explico:

Quantos de nós já vimos os homens que colocam e tiram os cartazes dos “outdoors”? E os letreiros dos teatros e cinemas de bairro? (Sim, eu sei que quase não existem mais cinemas de bairro, mas ainda estão por aí.) Ou, quem sabe, os montadores de vitrines? São essas as pessoas invisíveis de quem falo. Pessoas que fazem um trabalho importante, que não somos acostumados a ver.

Alguns invisíveis, pelo menos hoje em dia, já se tornaram visíveis, como por exemplo, os garis, os funcionários da limpeza, os responsáveis por obras dentro de shoppings e, pasmem, até mesmo os entregadores que, se antes entravam pelas portas dos fundos e só eram vistos pelos funcionários, hoje em dia estão aí, para quem quiser, ou não, os ver.

Eu mesmo nunca havia me perguntado quem fazia a maioria desses trabalhos. Quer dizer, obviamente nunca acreditei que tudo ficava pronto em um passe de mágica, mas também nunca me preocupei em descobrir mais sobre isso. Até que, pela primeira vez, eu vi um invisível. Na verdade, três. Eram os responsáveis por trocar “outdoors”. Aliás, será que existe um nome pra quem faz isso? Será que essa profissão é chamada de “trocador de cartazes” na carteira profissional do indivíduo? Acho que eu nunca vou saber. A bem da verdade, não sei sequer se me interesso. Afinal, quantos de nós se interessam pelos invisíveis? Acho que eu me interesso, sim, pelo menos um pouco, ao menos o suficiente para escrever este pequeno texto sobre eles, para lembrarmos que existem.

E o meu motivo de escrever, seria acaso um pedido de “salvem os invisíveis”? Ou, quem sabe, “prestem atenção e não esqueçam os invisíveis”? Na verdade, não creio que seja nada disso, pois os invisíveis realmente não são para serem vistos por nós, mortais comuns. Na verdade, o meu brado é mais simples, menos emblemático. Consiste apenas no seguinte pedido: saibam que os invisíveis existem, mas, quando forem tratar com eles, lembrem que, antes de invisíveis, são pessoas de carne e osso, assim como eu e você.

E quanto ao invisível de quem falei no início do texto? Estava nas ruas, fazendo o seu trabalho. E eu, em um ônibus, seguindo até o meu destino. Nós nunca nos falamos, nem chegamos a nos conhecer, e, enquanto eu percebi a existência daquele homem, ele, um dos invisíveis, nunca soube da minha, eu, um dos visíveis.

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A Revolução das Palavras

E se o mundo ficasse sem livros? E se todos os textos fossem destruídos? E se as palavras perdessem seu sabor?
E se um homem resolvesse destruir todo o conhecimento de todas as civilizações de todos os tempos? Não quero nem pensar no que aconteceria. Porém, mesmo não querendo, acabei imaginando esta terrível distopia. Devo dizer que o resultado foi surpreendente.
Aos que possam se sentir ofendidos com o que que escrevi, ou seja, "os senhores das letras", este texto não foi escrito para vocês. Aos que têm o potencial da grandeza: este texto foi feito para vocês.

Saindo do personagem, eu gostaria de dizer que este texto fecha o ciclo de contos e textos sobre palavras. É um texto recente, sobre a capacidade das ideias e palavras. É um texto, também, que homenageia indiretamente Platão e seu mundo das ideias, além da história do Mito da Caverna. Espero que gostem.
Sintam-se à vontade para comentar.
Abraços,
Bruno Leandro (o humilde autor e criador deste blog)


A Rebelião das Palavras
Bruno Leandro


Foi horrível o dia em que começaram a queimar os livros.
Obras completas de Virgílio, Goethe, Shakespeare, Camões, Joyce, Homero, Machado... tantos e tantas outros e outras que não se poderia enumerar.
Obras do passado do presente e até as que visavam o futuro sumiam em segundos, consumidas pelas chamas.
Heróis tentavam, sem sucesso, resgatar e preservar um ou outro livro, mas eram todos eliminados sem dó. Livros, não pessoas.
Àqueles que achem que computadores foram usados para salvar as literaturas em formato digital, ao menos, enganam-se. Vírus específicos foram disseminados muito antes e de muitas maneiras. Estávamos sós com nossa ignorância e desespero.
Homens e mulheres que planejavam ressuscitar os autores de suas memórias foram deportados e exilados para lugares onde se dizia não ser possível produzir pena ou papel. Apenas os que nunca haviam tido contato com nem produzido literatura foram poupados.
Ninguém foi morto, ninguém foi torturado, mas não era preciso. O mundo ficou em silêncio e perdeu sua cor.
O responsável por tais crimes, o novo ditador mundial, calou-se sobre seus motivos e ninguém o questionou. Todos tinham medo do que seria capaz um homem que mandava queimar livros e destruir palavras.
Não se sabe como, nem quando, mas uma pequena resistência de letras começou justamente entre os que não haviam conhecido as literaturas: eles começaram a escrever. Primeiro, timidamente, poesias simples e contos de fadas inventados a partir de suas histórias de vida, de seus medos e anseios. O déspota assumiu a forma de ogros e madrastas, de bruxas e feiticeiras más, dos maiores vilões que poderiam existir. Os que se levantaram contra ele eram heróis erráticos, medrosos a princípio, que iam ganhando formas mais imponentes e poderosas à medida que o medo morria.
Com o tempo, com o passar dos anos, a literatura foi retomando sua cor, força e poder nos subterrâneos. Ávidos, os homens escreviam como se não houvesse amanhã e como se sua religião fosse feita de pena e tinta, do papel escrito.
O mundo foi retomando sua cor e som.
As produções eram feitas em ritmo cada vez mais acelerado, como se nunca tivessem sido abandonadas. A revolução das palavras marchava a passos largos. Os homens atingiram os mais altos ápices de criatividade. Alguns, de sua própria imaginação, fizeram homenagens ao que poderia ter sido o já desconhecido passado: falavam de gregos e romanos como se fossem parentes queridos e de homens das cavernas e de todas as nacionalidades e raças. Criavam e criavam e suas produções não tinham fim.
De uma flor que havia desabrochado um jardim infinito se formara.
Um dia o tirano, já idoso e em seu leito de morte, mandou chamar homens à sua presença. Eles foram e, depois de seu falecimento, saíram de lá chorando. Tanto pelo que haviam descoberto, quanto por ele.
O imperador sempre soubera sobre a rebelião. Na verdade, a havia desejado com todas as suas forças. Ele queria que os homens criassem.
Muitos podem se perguntar por que, então, ele havia destruído todas as obras. Os que se fizeram essa pergunta ficaram chocados com o que descobriram. Dentro do palácio, em inúmeras câmaras secretas em seu subsolo, que abarcava uma parte considerável do mundo, as versões originais e digitalizadas de todas as obras estavam guardadas, sãs e salvas. Mas esta não foi a descoberta mais chocante. Isso ainda estaria por vir.
Os homens, ávidos por saber sobre o passado, começaram a ler os livros que lhes haviam sido devolvidos. Seu espanto foi enorme: eles conheciam aquelas obras. Eles as haviam escrito em sua rebelião. Não uma ou duas, mas todas. “Fausto”, “Romeu e Julieta”, “Os Lusíadas”, “A Odisséia”, “Dom Quixote”, “Acordai e Cantai”, “Branca de Neve”, “Sagas Irlandesas”... Estas e outras, e muitas outras, e todas as outras, foram escritas por aqueles homens. Como poderia aquilo ter acontecido? A resposta havia vindo da boca do próprio soberano, que a gravara em vídeo quando ainda era jovem, para que não restassem dúvidas:
“Sei que parece que cometo um crime”, iniciava ele. “Mas este é um experimento em nome da própria humanidade. O que faço é tentar provar que somos seres cíclicos, que somos sempre capazes de produzir o novo, mas também de reproduzir o antigo sem muletas.
Estou dando ao mundo a oportunidade de aspirar ao melhor, de se reinventar. De se reescrever. Quero provar com isso que somos capazes e, também, que as obras são maiores do que seus criadores. Quero provar que as ideias sobrevivem aos nomes e que todos possuem dentro de si a grandeza de alcançá-las.
Digo, também, que por isso fui obrigado a banir os literários e os estudiosos e os que já escreveram. Eles poluiriam sua capacidade de serem grandes, pois sempre os comparariam com seus antecessores, como se vocês fossem incapazes de ter valor próprio. Porém, não se preocupem com eles, todos continuam produzindo em uma sociedade à parte, onde ainda discursam sobre os benefícios do passado sobre o presente. Com minha morte eles estarão livres para voltar, se assim o desejarem.
Quero, no entanto, deixar para vocês um recado final: vocês se provaram capazes e produziram obras maravilhosas sem a ajuda e sem as muletas do passado. Foram tão capazes que até o refizeram. Não deixem que ninguém lhes diga que são inferiores.” – com estas últimas palavras o testamento havia terminado.
Ao entenderem a grandeza do que lhes havia sido dito, os homens choraram.
Se os teóricos voltaram? Sim, em parte. E, dentre estes, alguns ficaram maravilhados com o que havia sido produzido em suas ausências. Outros, porém, tentaram restabelecer uma ditadura do pensamento, queriam julgar os méritos das produções dos que ficaram e, até mesmo, acusá-los de plágio e cópia. Mas os homens haviam aprendido com seu bondoso monarca e se recusaram ao julgamento. As palavras do que os inferiorizavam foram jogadas ao vento como se não tivessem validade alguma.
Aquela sociedade aprendeu a reconhecer seu próprio valor e nunca mais os homens se importaram com as críticas que visavam destruí-los e adestrá-los. Por muito e muito tempo continuaram a produzir e o mundo floresceu mais e mais.
A liberdade das palavras havia retornado. Ironicamente, graças ao homem que fingiu prendê-las.
  

PS: Às vezes a vida imita a ficção. Eu nunca tinha ouvido falar de "Acordai e Cantai", (Awake and Sing, de Clifford Odets) e, por brincadeira, resolvi pesquisar na internet. Não é que existe mesmo? Mistérios da natureza humana... 

domingo, 12 de junho de 2011

Feliz Dia dos Namorados!

Àqueles que amam, um feliz dia! Àqueles que ainda não amam, um feliz dia! Àqueles que já amaram... bem, vocês me entenderam, não é mesmo?
Este texto é uma quebra de protocolo, eu sei, mas não resisti a postá-lo, já que o escrevi durante a semana que passou, sem saber o porquê. Acho que agora entendi, foi para dar um presente de dia de namorados para todos nós.
Sim, é piegas, mas é bonitinho, confessem!
O texto é longo, não vou enganar, mas acho que ficou gostoso de ler. Leiam e me digam o que acharam, ok?
Feliz Dia dos Namorados, novamente!


Amelie
Bruno Leandro
O que posso dizer de Amelie? A mais bela francesa que já vi em minha vida? Que ela era dona de um sorriso fantástico capaz de melhorar meu dia imediatamente? Que nosso amor era tão leve quanto o ar e tão profundo quando o centro da Terra? Que não poderia viver sem ela e que minha vida perdia sentindo com sua ausência? Sim, eu poderia dizer isso tudo e até mais, pois Amelie não era menos do que a razão de minha existência. Sim, Amelie era minha vida.
Agora pensando, nem mesmo eu sei dizer o quão grande foi minha sorte em conhecê-la e o quanto nosso amor significava para mim durante o tempo em que fomos um só. E, mesmo que os anos cruéis tenham passado rápido, lembro-me de tudo com a vivacidade de um garoto. Acho que sou capaz de descrever nos mínimos detalhes como ela estava no dia exato em que a conheci.
Conheci-a em um daqueles dias que pediam praia. Para meu azar, ou sorte, eu não estava ali por diversão. Era um dia de trabalho e eu havia aproveitado meia hora de meu almoço para andar despreocupadamente pelo calçadão. A camisa social começava a se grudar ao corpo, mas eu não ligava. Minto, ligava, sim, mas estava cansado de seguir tantas regras. Em minha defesa, digo que procurei um quiosque e me sentei à sombra de um dos inúmeros guarda-sóis que lá havia, bebericando uma água-de-coco enquanto meditava sobre voltar ao trabalho. Foi nesse momento, por conta de um despreocupado aceno de cabeça em direção à areia que eu a vi.
Lembro-me dos seus cabelos cacheados tingidos de vermelho que desciam até as costas. Lembro-me dos olhos de um azul celeste tão belo que pareciam feitos de oceanos. Lembro-me da pele macia, amorenada pelo sol do Rio de Janeiro pela frequência assídua à praia que se notava nas marcas do biquíni que usava, com a canga amarrada na cintura e o imenso chapéu que protegia a cabeça do sol de verão. Lembro-me, por fim, do gingado, de como seu corpo rebolava sensualmente em uma divertida e levemente desastrada tentativa de imitar as cariocas. Tudo nela era perfeito. A minha “petite française” era perfeita.
Se eu disser que nossos olhares se cruzaram e foi amor à primeira vista, estarei mentindo. Nossos olhares se cruzaram, sim, mas foi por menos de um segundo e ela não olhou para mim novamente. Eu mesmo não reparei muito nela naquela primeira vez. Fiz o que nós homens costumamos fazer: observei o corpo, não a alma. Ela seguiu gingando desajeitadamente e eu voltei ao meu coco. Tudo teria terminado por ali, se...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Saindo do assunto do Blog novamente...

Saindo do assunto do blog de novo, eu estava navegando na internet hoje, quando assisti a este vídeo motivacional. É muito emocionante e nos mostra que realmente nada é impossível:

terça-feira, 7 de junho de 2011

Sei que vou ser tachado de louco, mas...

Olá, pessoal! Esta semana estou trazendo um texto sobre livros e como eu adoro destruí-los. Mas, acalmem-se, por favor! Nada de chegar perto de mim com tochas, porque o papel é inflamável, ok?
Sinto que exagerei ao falar em "destruir", então vou recomeçar:
O que quero dizer é que adoro mexer nos livros, de tal forma que, de tanto que mexo, que leio, releio, eles vão se desgastando e ficam maravilhosamente acabados. Ai, ai... Você aí de trás, será que dá pra abaixar o forcado? E não, não podem acender nem uma vela, ou já esqueceram que eu falei que o papel era inflamável? Ô gente mais atrasada, viu? Em pleno século 21! Em vez de usarem lanternas...



Livros
Bruno Leandro


Quando ganho um novo livro, fico logo doido para vê-lo cheio de marcas de dedos e algumas pequenas orelhas. Não sou doido, por isso me explico:
De que adianta um livro na estante, conservado em plástico e espanado periodicamente de sua poeira? Para que uma peça imóvel, que nunca tenha sido lida e que se vai amarelando aos poucos, sem conhecer olhos? De que servem as enciclopédias que não tiram as dúvidas ou os dicionários que não ajudam os burros?
Todo conhecimento aprisionado, engaiolado, é conhecimento jogado fora, desnecessário. Todos os livros não lidos perdem seu valor. Não monetário, posto que alguns se tornam raros, porém intelectual, uma vez que nenhum os conhecerá, que ninguém saberá suas minúcias e reviravoltas, se forem de um qualquer caso que seja.
Não, meus amigos, não sou louco. Sou são em excesso. E é por isso que não posso e não admito um livro impune, imaculado. Livros assim são bons em mostras, exposições. Não precisam nem de conteúdo. Valem pela capa em si. Podem ter todas as folhas em branco que homem não os saberá. São aplaudidos pelo que parecem, não pelo que são. Mas, o que são? Nada, posto que a palavra só existe em dois momentos: um, quando é escrita, saída da cabeça de seu criador ou criadora, como criatura que ganha vida própria, pronta para se lançar ao mundo após o parto. O segundo momento é quando lida. Neste momento a palavra se transforma, muda, adapta, tornando-se aquilo que o leitor acredita que seja, de acordo com aquilo que ele viveu até o momento. Fora disso, tudo é limbo, e as palavras ficam em suspenso, existindo sem existir, como um ser sem propósito ou direção. Perdem até o ânimo que as mantém coesas e se saem do papel para um passeio não notamos, pois nem ao menos temos sua ausência para reparar.
Livro sem marcas é ausência, não de sujeira ou estrago. É ausência de vida, de cultura, de uso. Uso, que traz experiência. Como saber se um livro é bom só pela capa? Há-se que lê-lo, revirá-lo, dobrar suas páginas no ritmo da leitura, como a sinfonia de um músico dobra as notas, ou sujá-lo, não por maldade de quem não quer o livro em boas condições, mas pela avidez dos que têm pressa de adquirir tudo que puderem extrair de seu conteúdo. Afinal, não são os livros para que se lhes leiam?
Um livro se presta, se empresta, se dá, se toma, se vende, se compra, se usa, se estraga, se destrói. Isso é válido. É importante estragar um livro, seja por que se releu várias vezes, seja pelos muitos empréstimos sofridos. O que não vale é deixá-lo parado, tal e qual uma obra de arte enigmática à qual ninguém tem acesso e que, por isso mesmo, não conta.
O livro, meus amigos, não é para ser observado de longe, inacessível. O livro é, antes de tudo, para ser tocado. O livro é para ser usado, não guardado.
Poderia e posso discorrer durante muito tempo, divagando e devaneando, sobre por que os livros não devem estacionar em estantes. Mas não preciso. Os que concordam comigo, não precisaram ler este texto para concordar. Os que não concordam, nem se deram ao trabalho. Pegaram meu texto e o trancaram a sete chaves, avaros em sua necessidade de controle do que acham que vale. Para estes, meu texto está em segurança em uma capa de plástico, sendo espanado em sua poeira em um canto ou estante qualquer, sem que lhe conheçam o conteúdo. Para estes eu nada tenho a dizer, já que não lhes chegaria aos ouvidos mesmo. Mas para os outros, para os meus leitores, aqueles que ousaram compartilhar de minhas ideias e acreditar nelas, deixo o seguinte recado: acreditem, também em seus livros. Sujem-nos, amassem-nos, estraguem-nos de tantos lê-los. Seu cérebro agradecerá. E eles também, por não terem sido esquecidos em um canto qualquer, como o disse Toquinho para os cadernos, mas de quem agora empresto a sentença para os livros.
Leiam seus livros, é só o que peço.

quinta-feira, 2 de junho de 2011

Poesia de Quinta

Olá, pessoal!
Bem, como vocês podem notar, esta postagem é diferente das demais.
E por que isso?
Bem, eu resolvi colocar, vez por outra, mas sem compromisso, uma poesia, um poema, ou coisa parecida com isso que eu tenha feito aqui no blog. Como eu não produzo muita poesia, e produzo menos do que contos, então eu vou colocar a qualquer momento. No entanto, eu vou deixar esses momentos serem às quintas-feiras, pois vai combinar com o nome sugestivo desta nova seção: "Poesia de Quinta". Irônico? Talvez. Ou, quem sabe, como poeta eu seja um ótimo contista...
Poetas de plantão, aproveitem e deem suas opiniões.
PS: O blogger não me deixa alinhar muito bem o post, então, infelizmente, vamos ter que nos contentar com o arranjo que eu consigo fazer às vezes.


Teu mundo
Bruno Leandro

Todos conversando                                    Tempo tórrido tão tangente
E eu só pensando                                       Enquanto estamos em
Um pensamento qualquer                           Um único universo ultrapassado

Muitas vezes a coisa muda                          Mas mesmo mudados mudamos mais
Uma coisa é outra coisa                              Uma unidade una universal
Nada é o que parece                                  Nada nunca nos nascerá
Dentro de mim tudo muda                          De dentro de debaixo daqui dali
O mundo conversa dentro de mim              O outono outrora outro

É assim?                                                    É estado estável em extremismo efêmero

... não sei                                                       ...
... nada ainda                                                 ... ?
... ficará assim                                                ... ! – Fiquemos em paz.

quarta-feira, 1 de junho de 2011

Até onde vai a criatividade?

Seguindo os posts temáticos, nesta semana estou devaneando um pouco sobre o texto.

Este texto que escrevi é sobre um homem que cria um texto e, sem saber dá origem a uma espécie de movimento de adoração. Mas, será que é tudo de propósito? Será que ele planejou para que tudo fosse daquele jeito mesmo? Que tal descobrirmos?

 
O Texto
Bruno Leandro



               
          Um homem cria um texto. Cria-o por diversão, sem pretensões. Depois, pede a seus amigos que leiam.
            – Coisa de gênio! – falam uns.
            – Maravilhoso! – dizem outros.
            – Por que você não mostra isso a uma editora? – completam mais alguns.
            Ele assim o faz. Os editores ficam impressionados, maravilhados com o texto escrito e concordam:
            – É um texto muito bom! Precisamos publicá-lo imediatamente!
             O texto é publicado o mais rápido possível. Todos ficam apaixonados, hipnotizados. A crítica vai ao delírio. A maioria das pessoas diz que o texto mudou sua vida. As filas para o autógrafo de tão genial escritor são enormes, imensas.
            Passam-se semanas, meses, um ano até. O livro sempre com alta vendagem.
            Um dia, em uma entrevista, o apresentador fala sobre o texto publicado e compara-o aos maiores nomes da atualidade e do passado. Então vem a pergunta: como teria ele pensado em tão maravilhosas palavras, capazes de inspirar milhões? Todos aqueles simbolismos, hipertextos e mensagens motivadoras... Teria ele pensado em tudo aquilo? E aquela parte, a mais importante? Fora colocada de propósito?
            O homem, agora autor, para, pensa, reflete e se lembra: ele se lembra que escrevera um texto sem nenhuma profundidade, o qual julgava muito ruim. Lembra-se de uma expressão que achava tão idiota que não deveria nunca ter sido escrita por ninguém. Lembra, enfim, que seu texto estava horrível e que quase havia rasgado antes de mostrar a seus amigos. Então ele fala algo que se torna verdade instantânea para todos:
            – Claro, eu sempre tive a intenção de colocar aquela frase no texto.
            Todos aplaudem de pé, efusivamente. O apresentador escuta, embevecido, e agradece sua presença, sorrindo para a câmera e encerrando o programa.