quarta-feira, 22 de junho de 2011

Se você não vê, não existe?

Olá, pessoas!
Hoje vou falar sobre homens invisíveis. Vocês já viram algum? Eu, já. Vários, aliás. Como eu fiz isso? Descubram a seguir.
PS: Este texto foi publicado na primeira edição do jornal do Instituto de Letras da UERJ: o "Jornal Sujo" durante o mês de maio. Primeiro passo na dominação mundial.


Os Homens Invisíveis
Bruno Leandro




Estava eu dia desses passando pelas ruas do Rio de Janeiro, quando encontrei um homem invisível. Estava lá, na minha frente, eu juro! Daí, vocês vêm e me perguntam: mas como, de que maneira, você conseguiu ver um homem invisível? Se é invisível, não dá para ver, não é mesmo? Mas eu explico:

Quantos de nós já vimos os homens que colocam e tiram os cartazes dos “outdoors”? E os letreiros dos teatros e cinemas de bairro? (Sim, eu sei que quase não existem mais cinemas de bairro, mas ainda estão por aí.) Ou, quem sabe, os montadores de vitrines? São essas as pessoas invisíveis de quem falo. Pessoas que fazem um trabalho importante, que não somos acostumados a ver.

Alguns invisíveis, pelo menos hoje em dia, já se tornaram visíveis, como por exemplo, os garis, os funcionários da limpeza, os responsáveis por obras dentro de shoppings e, pasmem, até mesmo os entregadores que, se antes entravam pelas portas dos fundos e só eram vistos pelos funcionários, hoje em dia estão aí, para quem quiser, ou não, os ver.

Eu mesmo nunca havia me perguntado quem fazia a maioria desses trabalhos. Quer dizer, obviamente nunca acreditei que tudo ficava pronto em um passe de mágica, mas também nunca me preocupei em descobrir mais sobre isso. Até que, pela primeira vez, eu vi um invisível. Na verdade, três. Eram os responsáveis por trocar “outdoors”. Aliás, será que existe um nome pra quem faz isso? Será que essa profissão é chamada de “trocador de cartazes” na carteira profissional do indivíduo? Acho que eu nunca vou saber. A bem da verdade, não sei sequer se me interesso. Afinal, quantos de nós se interessam pelos invisíveis? Acho que eu me interesso, sim, pelo menos um pouco, ao menos o suficiente para escrever este pequeno texto sobre eles, para lembrarmos que existem.

E o meu motivo de escrever, seria acaso um pedido de “salvem os invisíveis”? Ou, quem sabe, “prestem atenção e não esqueçam os invisíveis”? Na verdade, não creio que seja nada disso, pois os invisíveis realmente não são para serem vistos por nós, mortais comuns. Na verdade, o meu brado é mais simples, menos emblemático. Consiste apenas no seguinte pedido: saibam que os invisíveis existem, mas, quando forem tratar com eles, lembrem que, antes de invisíveis, são pessoas de carne e osso, assim como eu e você.

E quanto ao invisível de quem falei no início do texto? Estava nas ruas, fazendo o seu trabalho. E eu, em um ônibus, seguindo até o meu destino. Nós nunca nos falamos, nem chegamos a nos conhecer, e, enquanto eu percebi a existência daquele homem, ele, um dos invisíveis, nunca soube da minha, eu, um dos visíveis.

7 comentários:

  1. Uau cara... q texto lindo =)Tb ja vi uns invisiveis trocando os outdoors.... muitas perguntas mesmo ficam no ar ne... xD

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  2. Valeu pelo comentário, Paulo! Realmente ficam. Afinal, não é porque você não vê que não existe, não é mesmo? ;)

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  3. Oi, Bruno.
    Adorei seu texto, principalmente o final. Somos tão invisíveis quanto qualquer outro "homem invisível" por aí, apesar de chamados visíveis. Quantas coisas fazemos sem que os outros saibam? Mesmo com profissões notáveis, garanto que todos nós fazemos pequenos gestos que não são notados... e essa é a graça.
    Seu texto me fez pensar em um monte de coisa, não ligue para minhas palavras tortas, rs.
    Beijos,
    Viviane

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  4. Oi, Vivi!
    Bom, acho que é sobre isso, mesmo. Eu gosto de escrever alguns textos de reflexão às vezes e meu final é sobre a nossa invisibilidade, também. Gostei que você captou a sutileza.
    Bjs!

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  5. Muito interessante mesmo sua crônica, a começar pelo título... Se você não vê, não existe. Isso nos faz pensar em um monte de coisas, como por exemplo em como nós existimos mesmo sendo invisíveis para os outros - e vice e versa. Você escreve muito bem, parabéns!

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