quarta-feira, 31 de agosto de 2011

Sacrifício Terapêutico

O texto de hoje nasce de uma antiga revolta minha em relação a como as pessoas tratam seus animais. Para quem não conhece o significado, eutanásia é o termo utilizado para quando os aparelhos de suporte de vida de alguém são desligados, geralmente porque essa pessoa teve morte cerebral e não vai retornar à vida (quando o cérebro morre, não há retorno). Tá, mas o que isso tem a ver com a minha revolta? Leiam meu texto a seguir:

A Eutanásia Terapêutica
Bruno Leandro

Sei que o termo parece estranho, já que não há como eutanásia ser terapêutica, mas a verdade é que não estou para falar de seres humanos, apesar do título. Este texto é sobre animais. Sim, animais. É verdade que reservamos o termo “eutanásia” para o desligamento de aparelhos de seres humanos que sobrevivem (subvivem) ligados a suportes vitais. É também verdade que, quando falamos de animais doentes, utilizamos um outro termo, mais pesado: sacrifício. Mas o que seria o sacrifício de animais, se não uma “eutanásia terapêutica”?
É comum, quando um animal está muito doente, que ele seja sacrificado para “não sofrer”. O mesmo ato, aliás, foi e ainda é muito utilizado quando animais de grande porte, como cavalos, bois, burros, entre outros, que quebram suas patas, são mortos, pois dizem que esses animais nunca vão recuperar seus movimentos e que o membro inútil só lhes trará dor. Quanto aos animais domésticos, quando eles têm alguma doença incurável, que certamente os fará morrer, costuma-se utilizar esse “recurso” para que não sofram até o fim. É aqui que entra minha revolta.
Eu me pergunto: acaso alguém sabe se esses animais sacrificados realmente querem morrer? Por um acaso alguém perguntou se eles não prefeririam, mesmo que com dor, viver até seus últimos dias aproveitando o que lhes resta de vida? Será mesmo que uma mísera pata quebrada seja o suficiente para matar um ser desses?
Fico pensando na cena: um homem anda com sua esposa pela rua, quando um dos dois escorrega na calçada e quebra o braço. Essa pessoa fica ali, na rua, sofrendo e morrendo de dor pelo membro quebrado. O outro cônjuge, ao ver aquilo, e muito choroso, tira um revólver da cintura, aponta para a cabeça do primeiro e atira, eliminado sua vida, mas também acabando com a dor. Simples, não? Resolve o problema e não há mais sofrimento. Já pensaram se fizéssemos sempre assim? Acho que não sobrariam muitas pessoas no mundo.
Outro exemplo: uma tia, muito querida, está com cistos, mas acaba descobrindo que não são cistos, mas um câncer maligno, que não tem cura por meios normais. A família, então, resolve levá-la a um médico que irá lhe dar uma injeçãozinha para “dormir”. Depois disso, eles enterram o corpo e, pronto, acabou o sofrimento, em um passe de mágica! Fácil, não? Inconcebível, isso sim! – qualquer um me diria. E eu concordo, é realmente inconcebível acabar com uma vida, seja ela qual for.
Agora, pensemos nos animais: pata quebrada? Um tiro na cabeça resolve. Doença terminal? Nada que uma injeçãozinha não resolva. Ou seja, é como se fosse uma “eutanásia terapêutica”, só que, se pensarmos bem, por um acaso alguém perguntou ao animal o que ele preferiria? Ah, mas animal não pensa, não tem como dizer nada – diriam alguns. Não pensa? Será mesmo?
Nosso problema de seres humanos é achar que apenas nós pensamos, sentimos dor ou nos comunicamos. Essa cultura de achar que os animais existem apenas para nos servirem me incomoda profundamente. É o mesmo que descartar um brinquedo velho porque já não me serve mais. O animal não é sacrificado para não sofrer, ele é sacrificado porque eu não quero ver sua dor ou, pior, porque não quero pagar um tratamento decente para curá-lo. Afinal, já que é “só um animal”, qualquer coisa eu arranjo outro, não é mesmo? Mas se fosse uma mãe, um pai, um filho, ou outra pessoa querida, será que alguém faria isso? Dificilmente, afinal é uma vida humana e humanos pensam, sentem dor, se comunicam, não é verdade?
Esta foi minha reflexão e estes foram meus pensamentos. Não acho que se deva “sacrificar” um animal apenas porque você não aguenta olhar para ele. Duvido que, mesmo com a pior da dores a maioria dos seres humanos não lutaria ao máximo para sobreviver. Por que com um animal isso deveria ser diferente? Será que o direito à vida não é para todos? Eu penso que sim. E você?

quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Declare guerra a quem finge te amar, declare guerra...

Guerra. Sempre um assunto triste, sempre um assunto delicado, sempre um assunto em que não gostamos de pensar, mas que, queiramos, ou não, a todo momento nos é jogado na cara. Agora mesmo, enquanto digito estas linhas, e nesse outro agora em que elas são lidas por você, meu querid@ leitor(a), há guerras eclodindo ou chegando a seu ápice em algum lugar do planeta. Sabem o quanto isso é triste, saber que há pessoas se matando por motivos que supostamente sejam importantes, mas que não chegam perto de serem? Territórios, religião, política, superioridade de pensamento, raça, etc... É desanimador.
A guerra é cada vez mais um comércio, por isso ela evolui a todo momento. Chegará o dia, quiçá, que não reste mais humanidade por culpa da imbecilidade da guerra. Espero não estar aqui para ver chegar tal dia.


Apesar da introdução melancólica, não é meu objetivo fazer uma crônica de guerra, mas um conto. Espero que gostem do que eu escrevi e podem dar suas opiniões ao final.
Aproveitem!


A Guerra é Cruel
Bruno Leandro

Vejo tantos companheiros mortos, tantas perdas! São tantos, meu Deus, tantos! Tantos corpos que é quase impossível contar um a um. Enquanto passo pelo campo, posso ver as causas de suas mortes e as lágrimas vêm aos meus olhos mais uma vez: membros estourados, corpos esmagados, cabeças arrancadas... Não, não, não! É demais! Eu não consigo aguentar!
Ali! Vejo um pouco de movimento de um companheiro caído e vou até ele. Antes mesmo de chegar percebo que é tarde demais: a parte inferior de seu corpo está esmagada, uma mancha sangrenta sobre o chão.
Ouço baixos zumbidos em volta e vejo alguns poucos companheiros ainda se mexendo. Não, eles estão se contraindo. Seus corpos em espasmos me mostram a verdade de suas mortes: seus fins vieram da nova arma que meus inimigos encontraram para brincar conosco: uma imensa trama elétrica que nos prende e mata com inúmeros volts. Por que tanto ódio?
De repente, ouço um barulho estranho e me escondo. Veneno! Eles lançaram veneno no ar! Loucos! Demônios!
Eu consigo me esconder a tempo e a nuvem mortal passa sem me tocar. Nossos inimigos seguem atrás de outros e eu fico ali, tremendo. Os gritos são horríveis, horríveis! E eu não posso fazer nada! Sou um inútil!
Saio o mais rápido que posso e me escondo sempre que consigo rápido, secreto, morrendo de medo. Lutando por minha vida.
De repente, um dos inimigos aparece, de costas para mim. Enlouquecido, salto sobre ele, penetrando fundo em sua pele. Eu tiro seu sangue e fico bêbado pelo sucesso. Fujo a tempo, antes que outro deles, já com o punho em riste, consigam me atacar.
Agora é tarde e sei que não posso mais me esconder. Fujo e me esquivo, mas eles correm atrás de mim. Eles são muitos, eu sou apenas um. Eles me perseguem até me cercarem. Sou encurralado.
Viro-me para encará-los. Sei que serão eles ou eu e me preparo para o destino final. Não será sem luta!
Fujo de um. De dois. Ataco um terceiro. Mais sangue! Sinto-me invencível, mas apenas por um instante. O quarto! O quarto deles me atinge com suas mãos nuas. E eu caio.
Enquanto caio, eu olho para suas faces. Eles não têm mesmo a decência de se importar com nossas mortes. Somos menos que nada para eles! Somos insetos!
Agora sou eu, no fim da minha vida, que zumbo fracamente. As asas, inúteis, se descolam do meu corpo. Meu ferrão se pendura inútil, assim como as antenas. Duas patas ficaram nas mãos de um dos desgraçados, mas não faz diferença agora. Dentro em breve não fará diferença nenhuma.
Já vejo o pé descendo sobre mim, para completar o serviço. Ele me esmaga, e sou apenas uma mancha vermelha e negra sobre o chão.

quarta-feira, 17 de agosto de 2011

Quem tem medo do Lobo mau?

Quem tem medo do Lobo Mau?
Eu tenho.
Você não tem?
Mas deveria.
Ou será que não?


Quem tem medo do Lobo mau?
Bruno Leandro

O apelido de Chapeuzinho Vermelho veio no ensino médio. Também, o que se poderia esperar quando você namorava alguém com o apelido “Lobo”. Lobo tinha este apelido porque tinha um jeito feroz, selvagem, quase animalesco. Menos comigo. Comigo ele era doce, sensível e fazia tudo para me agradar. Ouvia cada uma de minhas palavras e vivia elogiando meu perfume. Acho que foi isso que me atraiu nele, esta mistura de selvageria e pureza, se é que as duas poderiam coexistir.
Com o tempo o apelido de Chapeuzinho Vermelho foi encurtado e passaram a me chamar de Chapeuzinho. Continuei achando o apelido ridículo, mas parei de ligar para isso.
Não demorou muito e, logo após o colégio terminar, nos casamos. Foi então que descobri a outra face de Lobo, aquela animalesca, que ele nunca me revelava. Começou a me bater, espancar, até sair sangue. Tornei-me vítima de seus caprichos e, não raro, acordava horas depois de desfalecida por suas surras. Era uma situação em que eu me permitia ser a vítima, já que não conseguia reunir as forças para dar um basta.
Nas poucas vezes em que tive alguém para reclamar, foi quando minha querida avozinha me recebeu em sua casa, onde eu me sentia como pessoa novamente. Mas eram momentos curtos e fugazes, pois eu só me permitia ir até minha avó quando o maldito não estava em casa.
Uma vez eu disse que estava grávida. Ele me acusou, dizendo que o filho não era dele. Mas como não seria, se só a ele minha vida era dedicada? Conclusão: levantou suas mãos grandes e pesadas e me espancou tanto que tive um aborto espontâneo. Levei meses para me recuperar de tal violência. Chorei de dor e de vergonha, mas acabei agradecendo por não ter tido um filho daquele monstro. Afinal, que tipo de vida uma criança nossa levaria? Compartilharia das surras da mãe ou seria violenta como o pai?
As surras e humilhações continuaram. Até o dia em que não aguentei e fugi. Meu grande erro.
Meu maior erro não foi ter fugido daquela situação, mas ter fugido para a casa de minha avó, onde ele poderia me achar com facilidade. O que aconteceu.
Não vi sua moto estacionada, escondida perto da casa, nem percebi nada de errado no interior da casa. Apenas o silêncio. Não me dei conta de que ele chegaria mais rápido do que eu a meu destino. Quando entrei, eu entendi porque tanto silêncio.
Gritei, horrorizada! Minha avó, minha querida avó estava largada no chão, em uma piscina feita do próprio sangue. Ela havia sido assassinada pelo Lobo.
Um barulho e olhei para a porta. Lá estava ele, com a faca na mão, falando palavras ininteligíveis e me dizendo que eu o havia obrigado a fazer aquilo, que a culpa era toda minha. Eu corri para longe, perto da mesa da cozinha.
Ele veio, então, enlouquecido, para cima de mim com a faca, enorme e pronta para me tirar a vida. Eu gritei. E ele comigo. Então, a lâmina penetrou a carne, entrando fundo pelo peito e rasgando o coração que pulsava forte.
Olhei-o espantada, para aqueles olhos tão grandes e aquela boca escancarada como se fosse me devorar. Ele me largou e eu escorreguei, empapada em sangue, as lágrimas fluindo em catarata. Meu corpo encharcado de sangue ficou ali, parado, ao lado do da minha querida avó, que o Lobo havia destruído antes de atacar a mim.
Ele permaneceu de pé, seu olhar de surpresa e horror olhando para mim e para todo aquele sangue. Demorou infinitos segundos para que ele percebesse que o sangue não era meu e que sua faca não havia tido a oportunidade de me alcançar. Então ele olhou para o próprio peito e viu ali outra lâmina, que eu mesma tinha escondida comigo ao pegá-la da mesa, enterrada em seu peito e drenando sua vida gota a gota de sangue. Finalmente seu cérebro pareceu entender o que havia acontecido e sua faca caiu-lhe das mãos, enquanto ele mesmo desabava ao chão.
Naquele momento, eu chorei mais ainda, em um misto de dor, desespero e certa alegria advinda do alívio de ter quebrado as amarras e dado um final diferente à história. Desta vez o Lobo não havia devorado Chapeuzinho. Desta vez o lenhador não a havia salvado. Desta vez, pelo menos desta vez, Chapeuzinho tinha matado o Lobo Mau.

domingo, 14 de agosto de 2011

Dia dos Pais

Bem, hoje é dia dos pais. Acaba que eu não tinha preparado nada para a data, mas resolvi escrever um texto curto, um conto, meio à pressas, para falar um pouquinho desta data especial para muitos de nós. Tanto para os que são filhos, quanto para os que já são pais. Até mesmo para aqueles que serão.
Espero que este texto sirva para relembrar-nos o verdadeiro significado de todas as datas comemorativas.
Sem mais:


Feliz Dia dos Pais
Bruno Leandro
Afonso corria desesperado pela rua. Todas as lojas já estavam fechadas, já que passava da meia-noite de sábado para domingo. Como ele pudera ser tão insensível com uma data tão especial?
Era dia dos pais, o primeiro que passaria com o seu depois de três longos anos em que não se viram e Afonso queria fazer algo que impressionasse seu pai. Mas como impressionar alguém que você não vê há tanto tempo? O que dar? O que dizer? Afonso desejava o melhor para seu pai e precisava demonstrar isso. Afinal, não tinha sido ele que cuidara de suas febres e doenças de criança? Não havia sido seu pai a pessoa que cuidara para que ele crescesse forte e saudável. Não fora o pai que, na ausência de sua mãe falecida após um ano de seu nascimento, cuidara de tudo, rejeitando empregos que pagassem mais e que diminuíssem seu tempo apenas para cuidar de seu filho? Não fora, enfim, ele que arranjara aquele intercâmbio em outro país para que Afonso conseguisse a melhor formação profissional de sua vida? Como uma pessoa assim poderia ser esquecida?
Afonso sabia que ter chegado há pouco mais de duas horas no país não era desculpa. Poderia muito bem ter comprado algo no aeroporto, já que a bagagem com os presentes havia sido extraviada. Mas, deixar o dia passar em branco? De jeito nenhum!
O rapaz estava seriamente abalado e percorria vários bairros da cidade à procura de algo que valesse à pena. Finalmente, em uma loja ainda aberta, ele viu o que queria, a coisa de que seu pai mais gostava no mundo: um relógio cuco, antigo, mas muito bonito. Seu pai colecionava essas quinquilharias desde sempre e Afonso sabia que seria o presente ideal. Não seria barato, mas valeria o gasto.
Depois de comprar o presente, o rapaz voltou em direção à casa, mas um infortúnio aconteceu: quando descia do ônibus, um ladrão arrancou o relógio de suas mãos, sem saber exatamente o que era, e saiu correndo. Ele tentou persegui-lo, mas em vão. O bandido levou a melhor. E isso não foi o pior, Afonso viu de longe quando o bandido percebeu o que havia roubado. Ao ver o relógio, o bandido, com raiva, atirou-o sem dó no chão, quebrando em mil pedaços o objeto.
Triste pelo ocorrido, Afonso voltou para casa, derrotado. Sabia que a culpa era sua, por não ter comprado o presente antes, como também por não ter prestado atenção aos perigos do Brasil. O tempo passado fora o tinha deixado mole. Cabisbaixo, ele abriu a porta da casa de seu pai e entrou, pronto a pedir perdão por não ter trazido nenhuma lembrança que provasse a seu pai o quanto o amava. Ao ouvir o barulho, o homem gritou da sala:
– É você, meu filho? Eu estava aqui, vendo algumas coisinhas. – as “coisinhas” a que o pai de Afonso se referia eram objetos toscos, mal-feitos e muito velhos: um porta-retratos feito de macarrão, um álbum de fotos feito de papelão reciclado, uma caneca torta feita de barro, uma gravata feita de pano de limpeza... e um desenho de criança, tosco, feito de lápis de cor e giz de cera, onde se via os dois, pai e filho, de mãos dadas e emboladas em seus rabiscos de cinco anos de idade, no qual estava escrito acima dos dois nas letras infantis de Afonso: “Felis DIA dOZ Pais! – Ti amu muitão!”
Ao ver seu pai ali, observando aquela velharia, o nó na garganta e o aperto no coração de Afonso se desfizeram e ele chegou perto de seu pai com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso enorme nos lábios. Afonso relembrou-se de algo que havia esquecido ao longo de sua vida: não importam os presentes mais caros. Eles são bons, mas não são para sempre e podem se quebrar em um segundo. O que importa, o que verdadeiramente importa, é o sentimento maior do que todos: o amor que você sente por alguém e sua capacidade de dizer isso.
– Feliz dia dos pais, meu paizão! – disse o rapaz, enquanto abraçava fortemente seu pai. – Feliz Dia dos Pais! Eu te amo muito! – repetiu, entre lágrimas de felicidade.
Pego de surpresa, o homem esboçou um sorriso carinhoso e apertou seu filho mais junto de si ainda.
– Muito obrigado, meu filho. – disse o homem, feliz porque o seu menino havia voltado para casa. Aquele seria o melhor Dia dos Pais de todos, pois o passaria com sua razão de existir e de ser pai: seu filho.

quinta-feira, 11 de agosto de 2011

Fugindo do Assunto de Novo

Acho que vou acabar fazendo uma sessão aqui no blog chamada "Fugindo do Assunto", porque é o que eu mais faço, rs.
Nas minhas andanças pela net, acabei vendo este vídeo que fala sobre preconceito e, como eu já postei um texto recentemente sobre o tema, achei legal pôr aqui o vídeo, muito benfeito, por sinal.
Nem vou falar muito, mas peço que prestem atenção à genialidade da coisa. Espero que curtam!



Bem, enquanto estava fechando o blog, acabou aparecendo este outro vídeo que há tempos eu procurava e que trata de racismo com essa mesma óptica de inversão. O vídeo é longo, na verdade um curta, e tem 22 min. Mas acho que foi muito bem-produzido e levantou vários questionamentos. Se tiverem tempo e paciência, aproveitem e vejam também:

quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Conto de Bruxa

Faz já um tempo que não posto nada sangrento por aqui. Que tal misturarmos sangue e fantasia?
Bruxas povoam nossa imaginação desde pequenos. Nossas mães nos contam histórias onde as bruxas tentam matar princesas e devorar criancinhas e nós acreditamos e choramos de medo. Mas crescemos e descobrimos que bruxas não são reais. Neste mundo. E em outros mundos, será que são?


A Rainha-Bruxa
Bruno Leandro

A rainha-bruxa foi traída. Entregue por seus vassalos, ficou decidido que ela seria queimada na fogueira. A rainha-bruxa está morta. Longa vida à rainha!
Mas,... um ano depois...
O capitão da guarda estava preocupado. Muitas servas estavam desaparecendo misteriosamente. Pouco depois, elas eram encontradas mortas, dilaceradas como se devoradas por algum animal, ou sem sangue pelo corpo ou, mesmo, sem carne alguma em seus ossos, sobrando apenas roupas e acessórios para sua identificação.
Uma busca minuciosa foi feita pelos arredores do palácio, bem como dentro do próprio palácio real. Nada, em lugar algum, foi encontrado. As mulheres tinham medo e todas as que serviam à nova rainha, o faziam apenas obrigadas, como se fossem prisioneiras daquele lugar, do qual eram proibidas de fugir e do qual era impossível escapar. O medo se espalhava com maior velocidade do que os corpos se multiplicavam. Mas, ainda assim, não encontravam culpados.
A nova rainha, porém, não era má. Era justa e tratava a todos com retidão e a bondade que se espera de um monarca. Quando os ataques começaram, foi a primeira a oferecer que a vigiassem noite e dia, para evitar suspeitas sobre si mesma e para que todos tivessem a certeza de que ela não seguira as inclinações de sua antecessora. Durante todo o tempo em que fora vigiada, os ataques não cessaram e as mortes continuaram, cruéis como sempre.
Semanas se arrastaram e a contagem de corpos só fez aumentar. Pais, esposos, irmãos e filhos, todos temiam pelas mulheres de suas vidas. Temiam o que aconteceria a elas e temiam nunca mais vê-las. E muitos tinham seus temores realizados. O reino sofria. E não parecia que uma solução viria a surgir.
Foi uma serva do palácio, uma das que estavam lá desde sempre, e uma das poucas que não haviam sido mortas, que veio com uma possível solução:
Havia uma caverna no subsolo onde a rainha anterior fazia rituais malignos e devorava suas vítimas. Sim, a rainha também era canibal e não era nenhum animal ou outro monstro, senão ela mesma, que sugava até mesmo o tutano dos ossos das pobres moças. Parece que ela o fazia para manter sua magia ativa, pois ser uma bruxa gastava energia vital, que só poderia ser reposta através de sacrifício e abuso de outro ser humano. O ideal seria que fizessem uma armadilha naquele local. Se, como era claro a todos, existisse uma nova bruxa, ela seria atraída para lá, onde poderia, enfim e com a graça dos deuses, ser finalmente eliminada.
Houve agitação e burburinhos, mas todos acabaram concordando. Nada foi comentado com a nova rainha, pois ainda não confiavam nela, mesmo depois de provada a suposta inocência.
Trabalhando nas sombras, uma rede de informações vigiava atentamente o local da armadilha, de forma a verificar se espontaneamente haveria sinais de movimentação. Enquanto isso acontecia, curiosamente os assassinatos ficaram em suspenso. Todos se perguntavam se a bruxa teria, de alguma forma, descoberto seus planos, mas perseveravam, pois não aceitavam que a tragédia se repetisse indefinidamente.
Até o dia em que a armadilha ficou pronta. Apenas uma coisa era necessária: uma isca. A mesma senhora que os havia avisado sobre o local resolveu, heroicamente, que seria ela a isca. Todas as outras servas respiraram aliviadas e ficaram felizes por não serem elas as escolhidas.
Lá estava a velha serva, fingindo estar aparentemente perdida naquele local, com vários homens e mulheres escondidos ao redor.  Assim que a bruxa se aproximasse, a prenderiam e matariam, livrando, assim esperavam, a todos do grande mal.
Não tiveram de esperar muito, porém. Pouco depois de tudo pronto, passos foram ouvidos descendo a escada de pedra e, em um prender a respiração coletivo, todos aguardaram. Então perceberam que suas suspeitas estavam corretas.
Descendo a escada, em estranhos trajes que não eram os seus, a nova rainha surgiu à luz dos archotes, com passos incertos, como se não soubesse o que estava fazendo ali. Nenhum dos presentes percebeu isso, mas ela parecia estar em transe. Seus passos e trajes, lembraram alguns dos que ali estavam, eram parecidos com os mesmos trajes que a antiga rainha-bruxa usara quando fora capturada no ano anterior, em situação bastante semelhante. O jeito de andar, a aparência, tudo. Era como se fossem a mesma pessoa.
Neste momento, o grupo temeu. Seria a bruxa imortal? Teria ela ressuscitado e mudado de forma? E, se fosse o caso, como poderiam matá-la?
Porém, se armando de coragem, o capitão deu um passo à frente e, convocando seus soldados e os homens do castelo, cercou a bruxa quando esta se achegou à anciã, que, apesar da situação, não parecia ter medo, dada a serenidade em seu rosto.
A rainha, ao se ver cercada, olhou em volta. Seu rosto, antes com a aparência indiferente do transe, pareceu acordar e ela, como se só naquele momento se desse conta de onde estava, olhou em volta, assustada.
– Capitão? Que lugar é este? Onde eu estou? – o medo na voz da mulher era patente.
– Você não nos enganará mais, bruxa! Teu reino de terror acaba aqui! Desta vez te mataremos aqui mesmo e separaremos tua cabeça para enterrá-la em solo sagrado e queimaremos teu corpo, pois assim não poderás tornar a viver! – Dito isso, o homem avançou já com a espada em riste, seguido por seus comandados.
De repente, uma risada de escárnio se fez ouvir, vinda de todos os lugares e de lugar nenhum. Todos olharam para a rainha, mas seu rosto amedrontado não esboçava reação. Não era ela quem debochava de todos.
Súbito, uma forte ventania se manifestou naquele lugar fechado, vinda talvez das profundezas do inferno e escurecendo o mundo em volta ao apagar todas as tochas e deixando apenas os lampiões intactos.  Em seguida à escuridão, ouviram-se os gritos de desespero. Ora de homens, ora de mulheres, eram ouvidos no meio da multidão, enquanto seus donos iam, aos poucos, sendo dizimados por forças invisíveis. O chão logo ficou escorregadio e o capitão se viu patinando em algo viscoso que, à luz de um dos lampiões derrubados das mãos de uma das vítimas, percebeu que era vermelho e cheirava a ferro. Era sangue.
Horrorizado, o homem tentou ajudar as vítimas, mas se viu lutando contra fantasmas, pois o padrão de ataque era aleatório e não havia como saber quem seria atacado a seguir. Ele correu, sem rumo, em uma direção qualquer, vendo o que poderia fazer para ajudar a todos. Foi então que ele viu a bruxa.
A rainha estava ali, à sua frente. Ele percebeu o quanto havia sido burro no momento em que a viu.
Sem poder gritar, pois suas cortas vocais haviam sido arrancadas pelas dentadas em seu pescoço, a rainha sufocava em seu próprio sangue, desesperada com uma dor que não podia extravasar, enquanto, abaixada sobre seu ventre, a velha serva devorava suas tripas. A mulher olhou para o capitão com um brilho sarcástico em seus olhos e, dando fim ao sofrimento da rainha, atravessou seu peito e arrancou seu coração, engolindo-o quase inteiro em seguida.
O homem enfim percebeu: a armadilha não havia sido para a bruxa, mas para eles. Em um movimento corajoso, ele levou a mão à espada e disparou em direção à bruxa, gritando. Não foi o suficiente.
Com apenas uma das mãos, a velha, que agora começava a rejuvenescer diante dos olhos do homem, segurou seu pescoço e o elevou no ar, enquanto o sufocava. Ele teve ainda forças para dizer:
– Você...!
– Sim, eu! – falou a bruxa, limpando a boca sangrenta com a outra mão para, em seguida, limpar a mão no vestido que usava. – Todo este tempo fui eu que pratiquei os rituais. Eu que devorei todas aquelas pobres criadas. Se vocês não tivessem me incomodado não teriam perdido a sua primeira rainha, nem a segunda. – Completou ela, com ironia.
– Mas... por que... você fez... isso? – Perguntou ele, em agonia, quase sem respiração.
– Tolo! A resposta está diante de seus olhos! Ou não percebe que estou rejuvenescendo enquanto desperdiço meu tempo falando contigo? Sangue e carne de virgens e puras é melhor. Até sangue de mulheres velhas é melhor, mas o de homens também serve para que eu recupere minha juventude.
– Mas... apenas uma bruxa precisava fazer isso para sobreviver. E ela viveu muito tempo atrás. A não ser que... Não! Não pode ser!
– Hahahaha! Sim, eu sou Selina – a Rainha-Bruxa! E estou aqui viva durante todos estes milênios por devorar vocês. A rainha-bruxa está viva! Longa vida à rainha-bruxa!
Gritos foram ouvidos. E nada mais, nunca mais.


quinta-feira, 4 de agosto de 2011

Poesia de Quinta

E aqui estou eu com uma nova "Poesia de Quinta".
Resolvi apelar e ser mais erótico desta vez.
Será que agrado?
Não deixem de me dizer.



A Língua
Bruno Leandro

A língua lambia. Dava voltas e mais voltas. Explorava todos os recônditos. Deslizava pelas maciezes morenas, rosadas, amarelas.

A língua em chamas passeava, ora lenta, ora inadvertidamente rápida, como um turbilhão giratório.

A língua se movia por todos os recantos e nuances, seguia todos os contornos, sentia o sabor doce e azedo. Lambia a fenda gelada. Sugava o néctar que escorria.

A língua fazia parte de uma boca. Uma boca que mordia com força. Mordia com prazer. Mordia de arrancar pedaços. Mordia gulosamente até reduzir a nada.

A língua lambia os dedos melados. E do sorvete não sobrava sequer a casquinha.

quarta-feira, 3 de agosto de 2011

Aprendendo um pouco sobre fadas e duendes.

Fadas e duendes... existe algo mais bonito e mais puro? Existe algo mais inocente?
Porém, engana-se quem acha que fadas e duendes são puros e inocentes. Quem já leu "Sonhos de Uma Noite de Verão" sabe bem do que estou falando.
Duendes e fadas podem ser terríveis, se necessário.


Sobre Fadas e Duendes
Bruno Leandro

Era meia-noite e a clareira estaria normalmente deserta, não fossem as pequenas luminescências que indicavam a presença de uma comitiva de fadas. Com elas, encontravam-se naquele momento os duendes e todos decidiam o destino do seu mundo.
– Com que então as bruxas resolveram nos atacar? – quem falava era a rainha das fadas, Titânia, esposa do rei da floresta e dos duendes, Oberon.
– Ouvi dizer que elas estão esperando apenas a próxima ocasião de seu Sabá, quando, então, terão força total para o enfrentamento – o emissário do rei duende, que estava acamado pela última batalha contra as bruxas, tomou momentaneamente a palavra.
– Mas, minha rainha, será verdade? Afinal, estas florestas são protegidas. E há muitos de nós. Tantos, que as bruxas seriam destruídas todas antes mesmo de pisarem em nosso solo sagrado.
– Essa é a informação que nós, do povo duende, temos. Pelo que parece, o poder de uma bruxa aumenta imensamente após um Sabá. Com isso, não sabemos o quão poderosas essas criaturas malignas ficariam e nem que novos poderes e sortilégios teriam à sua disposição.
– Entendo... creio, então, que não me deixe outra escolha, caro emissário. Diga a meu rei que sim, que estarei pronta a unir-me a ele em batalha durante o Sabá, para que nossas terras sejam protegidas do mal crescente desses seres odiosos.
– Perfeitamente, rainha Titânia – falou o duende, pouco antes de se retirar com sua própria comitiva, deixando a rainha e seu cortejo na clareira.
As fadas, então, organizaram a defesa de sua parte da floresta e, com a ajuda dos duendes, ampliaram a força do escudo sagrado, bem como instalaram novas defesas mágicas por todo o local. Todos os pedaços da floresta foram purificados, desde a mais singela gota d’água à maior e mais imponente árvore que houvesse. Todos os animais foram protegidos por selos contra o mal, de forma a que nada de ruim os atingisse, nem nenhuma maldição os tocasse.
Oberon continuava de cama, suas feridas incapazes de serem curadas, como se algo de maligno ocupasse suas cicatrizes, impedindo-o de melhorar. Seus súditos lamentavam sua sina, mas poucos se detinham em seu leito, pois o principal era defender a floresta.
Pouco antes do Sabá, a floresta estava quase toda protegida. Apenas o pântano, que não aceitava muita interferência, permaneceu intocado pela magia da luz. Foi por esse ponto que as bruxas entraram.
Começou ao crepúsculo, a hora da feitiçaria. Os guardas que tomavam conta do pântano, não obstante sua dedicação, foram atacados de surpresa quando os seres odientos saíram de dentro do pântano. De alguma forma, as bruxas conseguiram sair pelo lodo e explodiram duendes e fadas que estavam de guarda naquele local. Nenhum sobreviveu.
Daí por diante, tudo virou um inferno. Cobertas de lodo e um musgo nojento, as bruxas avançaram com suas varinhas em mãos e começaram a despejar tudo o que havia dentro de seus podres corações em forma de feitiços e sortilégios malignos. Maldições explodiam, venenos eram projetados, ácidos eram atirados. Todos em seu raio de ação eram rapidamente postos fora de combate. Enquanto isso, as bruxas riam-se e gargalhavam-se insanamente, debochando da dor de suas vítimas, agora totalmente desnorteadas e quase incapazes de reagir.
Quando se pensava que nada mais poderia piorar, eis que surge a rainha das trevas e das bruxas: Baba Yaga, o demônio-mulher. Baba era a mais terrível de todas as bruxas e sua aparência era tão desagradável que horrorizava e fazia entrar em desespero qualquer um que a vislumbrasse, mesmo que rapidamente. Com sua entrada, o caos estava completo.
– Terminem por aqui! – ordenou ela às suas servas – Eu desejo a cabeça do rei e da rainha da floresta e os tomarei pessoalmente. Não sujarei minhas mãos tocando nesses serezinhos insignificantes que os protegem! –assim que terminou de falar, a bruxa caminhou, resoluta, para o coração da floresta, onde Titânia protegia seu esposo.
A seus olhos a cena era patética: a fada que nunca visitava o marido, que até mesmo o desprezava, estava a seu lado, apertando suas mãos, enquanto cantava cantigas doces, como se não houvesse uma guerra ocorrendo do lado de fora e como se seus súditos não estivessem sendo destruídos aos montes enquanto ela perdia tempo ao lado do moribundo. Sim, moribundo, pois Baba Yaga sabia o que o afligia, já que ela mesma era a responsável pelo mal que o dominava. Era ela, a mãe profana, que comandava a doença e o veneno que corroíam o corpo do miserável duende. Com o objetivo de escarnecer dele, a criatura maligna revelou o fato:
– Sentindo-se fraco, reizinho? Sentindo-se mal, miserável duende? Saiba, antes que eu destrua a você e à sua querida esposa, que é graças a mim e que você está dessa maneira, assim como o é graças a você que meu Sabá se fortaleceu tanto.
– Do que fala, demônio perverso? – protestou Titânia.
– Muito simples, meretriz feérica! – debochou a bruxa – lembra-se da última batalha dos duendes? Ah, é verdade! Como pode se lembrar, já que se estavas longe de seu querido amor, quando ele enfrentou a mim e às minhas vassalas, não é mesmo? Pois, como não sabe, devo eu dizer: fui eu que tirei o sangue de seu rei. Fui eu, com minhas próprias e pútridas garras que provoquei as feridas que percorrem o corpo dele. Mas não pense que é apenas por isso que ele se encontra, hoje, à beira da morte. É graças ao próprio sangue dele que sua situação está assim.
– Que tipo de ignomínias fala, monstro?
– É a mais pura verdade! Com o sangue que vazava abundantemente dele, eu consegui encher quase um cântaro, o que foi mais do que suficiente para meus dois objetivos: com uma parte do sangue, manipulei uma maldição terrível, que impediu a cura e que fez adoecer cada vez mais o corpo. Com o líquido restante, abri os portões do pântano, a parte menos sagrada de sua floresta, ao mesmo tempo em que tornava minhas feiticeiras mais fortes, imunes aos encantos de suas fadinhas! Eu mesma bebi boa parte do sangue e sinto-me praticamente invencível!
– Como pôde? Ser cruel! Sem coração! Demônio! – as palavras fluíam pela boca da rainha-fada, enquanto ela gritava, com raiva, amaldiçoando a bruxa à sua frente.
– Não adianta elogiar! Isso não poupará suas vidas, criaturinha! E agora chega! – com um safanão, a bruxa empurrou a fada para longe, lançando-a em direção a uma árvore, para, logo em seguida, puxar do cobertor de folhas que escondia o corpo do rei-duende, de quem ela pretendia arrancar o coração, puxando-o com suas garras para fora do peito. Qual não foi a surpresa da bruxa, quando o corpo de Oberon se revelou?
– Mas o que...?! – começou ela, sendo imediatamente interrompida pelo próprio Oberon:
– Então era por isso? Esse era o motivo de minha fraqueza? Como é baixa, Baba Yaga! Mais baixa que os mais baixos! Mas pagará o seu pecado!
– Você está recuperado? Mas, como? isso é impossível!
– A floresta é viçosa e não sou apenas seu rei, como também seu pai. Eu sou a vida que corre por ela e ela é a vida que corre por mim. É verdade que fiquei muito doente, mas consegui me recobrar. Com o empréstimo da seiva das árvores e das águas dos rios, eu me recupero e volto a ser quem eu era! – a voz era imponente, majestosa, sem um sinal sequer da dor ou fraqueza que a bruxa esperava. Horrorizada, Baba Yaga percebeu seu engano tarde demais.
– Você é o mal e nos trouxe o mal! Isso não ficará impune e as vidas de meus súditos serão cobradas! Beberam do meu sangue, você e os seus, você disse? Que esse sangue seja a sua ruína! O preço será pago através do meu sangue, que é como o sangue da floresta!
A um comando invisível, as bruxas todas gritaram em uníssono, enquanto a pele se lhes enrijecia, enquanto o sangue adquiria viscosidade em suas veias e enquanto seu corpo se imobilizava para sempre. Seus braços se suspenderam e suas pernas se afastaram. Horrorizada, Baba Yaga percebeu, tarde demais, o que acontecia. Mas não pôde gritar, pois não houve tempo. Nenhuma delas pôde. Os corpos das bruxas se tornaram árvores. Lindas e frondosas árvores, prontas a continuarem o ciclo da vida. Dessas árvores sairiam futuramente novas fadas e duendes, tão puros quanto malignas eram as bruxas que lhes deram origem. A justiça estava feita.
Ao despertar, Titânia percebeu o que Oberon havia feito e, sabiamente, concordou. As novas árvores foram transportadas sem demora para o pântano: o lugar menos sagrado da floresta, mas ainda um lugar sagrado. Com isso, a passagem aberta pelas águas lodaçais foi novamente selada e nenhum outro ser maligno poderia por ali passar novamente. Assim, a paz voltou aos domínios da floresta, para nunca mais deles sair.
Sobre fadas e duendes, entenda apenas uma coisa: eles amam suas florestas. Muito. Nunca tente tomar a floresta de uma fada ou de um duende, ou você poderá fazer parte dela. Permanentemente.