domingo, 14 de agosto de 2011

Dia dos Pais

Bem, hoje é dia dos pais. Acaba que eu não tinha preparado nada para a data, mas resolvi escrever um texto curto, um conto, meio à pressas, para falar um pouquinho desta data especial para muitos de nós. Tanto para os que são filhos, quanto para os que já são pais. Até mesmo para aqueles que serão.
Espero que este texto sirva para relembrar-nos o verdadeiro significado de todas as datas comemorativas.
Sem mais:


Feliz Dia dos Pais
Bruno Leandro
Afonso corria desesperado pela rua. Todas as lojas já estavam fechadas, já que passava da meia-noite de sábado para domingo. Como ele pudera ser tão insensível com uma data tão especial?
Era dia dos pais, o primeiro que passaria com o seu depois de três longos anos em que não se viram e Afonso queria fazer algo que impressionasse seu pai. Mas como impressionar alguém que você não vê há tanto tempo? O que dar? O que dizer? Afonso desejava o melhor para seu pai e precisava demonstrar isso. Afinal, não tinha sido ele que cuidara de suas febres e doenças de criança? Não havia sido seu pai a pessoa que cuidara para que ele crescesse forte e saudável. Não fora o pai que, na ausência de sua mãe falecida após um ano de seu nascimento, cuidara de tudo, rejeitando empregos que pagassem mais e que diminuíssem seu tempo apenas para cuidar de seu filho? Não fora, enfim, ele que arranjara aquele intercâmbio em outro país para que Afonso conseguisse a melhor formação profissional de sua vida? Como uma pessoa assim poderia ser esquecida?
Afonso sabia que ter chegado há pouco mais de duas horas no país não era desculpa. Poderia muito bem ter comprado algo no aeroporto, já que a bagagem com os presentes havia sido extraviada. Mas, deixar o dia passar em branco? De jeito nenhum!
O rapaz estava seriamente abalado e percorria vários bairros da cidade à procura de algo que valesse à pena. Finalmente, em uma loja ainda aberta, ele viu o que queria, a coisa de que seu pai mais gostava no mundo: um relógio cuco, antigo, mas muito bonito. Seu pai colecionava essas quinquilharias desde sempre e Afonso sabia que seria o presente ideal. Não seria barato, mas valeria o gasto.
Depois de comprar o presente, o rapaz voltou em direção à casa, mas um infortúnio aconteceu: quando descia do ônibus, um ladrão arrancou o relógio de suas mãos, sem saber exatamente o que era, e saiu correndo. Ele tentou persegui-lo, mas em vão. O bandido levou a melhor. E isso não foi o pior, Afonso viu de longe quando o bandido percebeu o que havia roubado. Ao ver o relógio, o bandido, com raiva, atirou-o sem dó no chão, quebrando em mil pedaços o objeto.
Triste pelo ocorrido, Afonso voltou para casa, derrotado. Sabia que a culpa era sua, por não ter comprado o presente antes, como também por não ter prestado atenção aos perigos do Brasil. O tempo passado fora o tinha deixado mole. Cabisbaixo, ele abriu a porta da casa de seu pai e entrou, pronto a pedir perdão por não ter trazido nenhuma lembrança que provasse a seu pai o quanto o amava. Ao ouvir o barulho, o homem gritou da sala:
– É você, meu filho? Eu estava aqui, vendo algumas coisinhas. – as “coisinhas” a que o pai de Afonso se referia eram objetos toscos, mal-feitos e muito velhos: um porta-retratos feito de macarrão, um álbum de fotos feito de papelão reciclado, uma caneca torta feita de barro, uma gravata feita de pano de limpeza... e um desenho de criança, tosco, feito de lápis de cor e giz de cera, onde se via os dois, pai e filho, de mãos dadas e emboladas em seus rabiscos de cinco anos de idade, no qual estava escrito acima dos dois nas letras infantis de Afonso: “Felis DIA dOZ Pais! – Ti amu muitão!”
Ao ver seu pai ali, observando aquela velharia, o nó na garganta e o aperto no coração de Afonso se desfizeram e ele chegou perto de seu pai com lágrimas nos olhos, mas com um sorriso enorme nos lábios. Afonso relembrou-se de algo que havia esquecido ao longo de sua vida: não importam os presentes mais caros. Eles são bons, mas não são para sempre e podem se quebrar em um segundo. O que importa, o que verdadeiramente importa, é o sentimento maior do que todos: o amor que você sente por alguém e sua capacidade de dizer isso.
– Feliz dia dos pais, meu paizão! – disse o rapaz, enquanto abraçava fortemente seu pai. – Feliz Dia dos Pais! Eu te amo muito! – repetiu, entre lágrimas de felicidade.
Pego de surpresa, o homem esboçou um sorriso carinhoso e apertou seu filho mais junto de si ainda.
– Muito obrigado, meu filho. – disse o homem, feliz porque o seu menino havia voltado para casa. Aquele seria o melhor Dia dos Pais de todos, pois o passaria com sua razão de existir e de ser pai: seu filho.

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