Pular para o conteúdo principal

Além do Espelho - quarta parte (final)

Além do Espelho

Bruno Leandro

Parte 4 e final

Corri como um desesperado, mas, quando me faltavam apenas vinte metros, ela chegou a seu destino. A bruxa conseguiu chegar até o portal e, sem ter o que a impedisse, preparou-se para voltar ao mundo real. Eu estava perdido. Ainda assim, corri, apenas para vê-la colocar um pé para fora daquele mundo. Ou assim Ana e eu pensávamos, não fosse por Dumas.

Meu fiel Dumas surgiu das sombras, segurando Ana e a puxando para dentro daquele mundo novamente. Ele havia nos seguido pelo portal e, por alguma estranha mágica daquele lugar, havia ficado sólido. Ele conseguiu conter a bruxa pelos segundos que eu precisava para chegar perto dela. De costas para mim, ela se debateu e, sem saber que eu me aproximava, disparou uma magia contra Dumas. Cheguei no momento exato em que isso aconteceu e, graças a meus amuletos, a onda de choque se voltou contra ela. Derrubada por sua própria magia, a bruxa não era mais um perigo imediato. Vasculhei suas vestes e encontrei o que procurava: meu diário, ainda lacrado e com meus segredos contidos em seu interior. A capa estava manchada de sangue, mas não achei que isso tivesse danificado seu conteúdo.

Dumas e eu atravessamos para o outro lado. Deixei Ana dentro daquela estranha dimensão e, para garantir que ela não pudesse sair, quebrei o espelho assim que passei por ele. Encontrei os espectros ainda em batalha contra meus antepassados, mas, com ajuda de meus amuletos, conseguimos derrotá-los. Não foi fácil, mas foi feito.

Voltei para o castelo e, após verificar se todos estavam bem, retornei para meu quarto secreto. Tudo estava certo e, para registrar o que havia acontecido, abri o diário uma última vez naquele dia. Foi quando notei algo terrível. Uma de suas páginas fora arrancada! Mas, como? Como foi que Ana conseguira poder suficiente para abri-lo? Senti uma forte ardência no rosto e percebi o que tinha acontecido. Meu sangue!

Percebi que Ana havia feito tudo de propósito. A bruxa havia orquestrado tudo de forma a me fazer persegui-la. Ela queria que eu a seguisse, pois só assim poderia me atacar e usar meu sangue para abrir o diário. E eu, tolo, caí em sua armadilha.


As gargalhadas daquela mulher pareceram ecoar pelo castelo. Será que foi impressão minha? Isso é o que menos importa agora. Tenho um grande temor, pois não sei que página ela arrancou. Qualquer uma já seria desastrosa. No entanto, se ela sabia o que procurava, e nada me faz crer o contrário, precisamos nos preparar para o fim de uma era.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

Como melhorar na escrita?

(You should work, work, work, work, work.) Escrever sobre escrever, por mais que pareça bobo, é algo que me anima. E digo isso pelo simples fato de que eu relaxo ao poder colocar minhas dúvidas e anseios fora da minha própria mente. Este espaço não se pretende nada mais do que um lugar de questionamentos e desabafos, sem respostas prontas e sem obrigatoriedade de respostas ao final da postagem. E, por conta disso, o assunto que eu quero abordar hoje é como melhorar na escrita. Escrever é algo difícil, mesmo para quem tem rompantes criativos, um português impecável e nasceu com um tablet na mão. Apesar de ser criativo e ter um nível muito bom de português, estou longe de ser perfeito e podem ter certeza de que não nasci com nenhum aplicativo de escrita a meu alcance. Sou da época (na minha época…) em que a internet estava começando. Eu posso, inclusive, dizer que cresci junto com ela, que nos desenvolvemos juntos e fomos aprendendo a lidar um com o outro. A tecnologia também evol...

O Artesão das Imagens e Palavras

Hoje resolvi ambientar minha história em um mundo de fantasia que ainda irei criar. Como assim? Bem, este texto é sobre um ser que criei há algum tempo e que dá título ao conto de hoje. Aliás, é errado dizer que escrevi um conto, o que fiz foi apresentar este personagem e pedir a ele que falasse brevemente sobre sua história. Então, em vez de "conto", vamos dizer que meu personagem escreveu uma espécie de mini-autobiografia. Um pequena observação: esta não é a primeira aparição do personagem no blog, ele pode ser visto aqui e a cidade de Leandor também já existe, mas não um mundo onde eu possa colocá-la, ainda. Quem sabe eu a coloque em algum mundo já criado? Bom, ainda vou decidir isso. Questão de tempo. Por enquanto, fiquem com a biografia de: O Artesão das Imagens e Palavras. Bruno Leandro Não me tornei o Artesão das Imagens e Palavras à toa. Eu o fiz porque tinha um sonho. E um dom. Eu o fiz porque tive quem acreditasse em meu sonho. E em meu dom. Nasc...

Ser Homem

O que é ser homem? Muito se discute sobre isso e, além de algumas ideias pré-concebidas e estereotipadas, não existe uma definição oficial. Eu resolvi pensar sobre isso e cheguei à seguinte conclusão: Os Sofrimentos de um Homem Bruno Leandro Homem sofre. Não, não estou falando isso de brincadeira. É verdade, sim. As mulheres pensam que são as únicas afetadas pelos padrões da sociedade atual, mas estão enganadas. Querem um exemplo? Meninos não choram, homens não choram. Se um homem se sente triste, vamos beber pra espantar a tristeza. Se chora, é “sensível” (leia-se gay , no sentido pejorativo e preconceituoso da palavra). Ai do homem que soltar uma lágrima no lugar de um palavrão. Os que não forem próximos a ele vão debochar de seu sofrimento o quanto puderem. Na verdade, até alguns dos que não são tão próximos. Aliás, isso me leva a outro ponto: homem tem que ser macho! Homem não leva desaforo para casa, tem que falar grosso, coçar o saco, cuspir no chão (se for um e...