quarta-feira, 28 de setembro de 2011

Devaneios de uma mente já idosa

Sim, às vezes eu divago, como se outra pessoa fosse e vou para um mundo que não reconheço como meu...
Neste texto, não sou eu, o Bruno Leandro, mas uma outra pessoa quem fala. Se suas palavras não possuem sempre sentido, perdoem-no. Não pela idade, mas pelo que já viveu e pela saudade dos tempos idos...


Divagações
Bruno Leandro

É um dia de verão tão quente que derrete os ossos dos animais largados na sarjeta.  O lixo apodrece nas calçadas onde os homens os haviam jogado. O cheiro do azedo se espalha pelo ar mais rápido do que qualquer um seja capaz de fugir. No meio daquilo tudo, um homem.
Não era baixo, mas não era alto. Não era bonito nem feio. Magro, não era, mas estava longe de ser gordo. Não tinha músculos, mas não se podia dizer que era fraco. Não tinha aparência de inteligente, mas não acho que fosse burro. Era, enfim, mediano. Acho que era o homem mais mediano que já se teria visto.
Não cheguei a reparar se era negro, branco, vermelho ou amarelo. Era brasileiro, isso eu sei. Caminhava apressado pela orla da praia, como se estivesse atrasado, ou como se estivesse fugindo de algo. Da polícia eu sei que não era, pois nenhum deles o parou quando passou por seu carro. Talvez fosse apenas pressa...
Aquilo me lembra de mim mesmo e começo a divagar. Lembro que eu costumava correr com aquela mesma pressa, atrasado para os encontros ou para o trabalho, nunca para os estudos. Lembro que ninguém reparava muito em mim, todos corriam como eu.  Percebo que o lixo não melhorou o cheiro nos últimos anos, nem as pessoas melhoraram sua educação. E também percebo que os animais continuam abandonados à própria sorte, uma sorte cruel que o ser humano não sabe como nem deseja mudar. E pensar que já fui como eles...
Hoje sou diferente, hoje tudo é diferente para mim. A vida muda quando você amadurece. Pena que só amadurecemos tarde demais...
É, a idade me pegou e eu agora olho para trás com saudade da minha juventude, mas sem saudade da pessoa que eu era. Aliás, me envergonho de ter sido mais um como todo mundo.
Hoje a vida passa devagar, mas tenho pressa de viver. Quero que tudo dure ao máximo, mas não corro, eu mal consigo andar direito. Maldito corpo que não acompanha meu desejo de vida! É triste saber que estou decadente apenas porque esta estrutura de carne que aprisiona meu espírito se recusa a funcionar direito. Quero ser livre! Quero correr por onde eu puder, quero pular e dançar, mas sei que tudo isso é impossível.
Queria ser aquele homem que vi há pouco, quando olhei pela janela do hospital. Queria ter sua liberdade e até sua pressa. Queria me mover como ele...

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