(Com H maiúsculo!)
Tenho lido ultimamente muitos blogs e sites que falam sobre diversidade. Aliás, estou achando cada pérola mais brilhante do que a outra. São sites ótimos, que falam sobre a diversidade em histórias que se passam nos dias atuais e alguns também tratam da diversidade em histórias ficcionais do passado, como a Idade Média, Era Vitoriana, etc. (a maioria dos sites é em inglês ou fala sobre literatura estrangeira). Porém, uma coisa que me incomoda em alguns desses sites são os comentários. Eventualmente, alguém surge e diz: “mas não havia negros na Europa nessa época”, “o mundo está muito chato com esse politicamente correto”, “guerreiros da justiça social (social justice warriors)”, blábláblá. O que essas pessoas querem dizer é: Tire suas mãos sujas da minha História. No entanto, será que essas pessoas conhecem mesmo a História? E digo mais, será que essas pessoas estão mesmo interessadas em fidelidade histórica, ou apenas no que elas entendem por isso?
Precisamos lembrar que não estou falando de história europeia, mas de mundos ficcionais baseados nela, quando muito. A quantidade de livros de contos, novelas, romances e afins que retratam o passado europeu é bem vasta. Em alguns casos, a história tenta se aproximar o máximo possível das condições de vida à época, o que acho bastante louvável. Em outros, vemos dragões, sapos falantes, unicórnios e até seres que não pertencem às lendas europeias vagando por um vasto mundo ficcional. Sim, até mesmo em histórias steampunk — geralmente ambientadas na era vitoriana — somos capazes de encontrar materiais de mitos e lendas. E isso não é ruim. Porém, em meio a dragões, unicórnios, grifos, sereias e pégasos, há gente que reclame de fidelidade histórica quando colocamos mulheres com mais falas e “tempo de tela”, que reclame quando colocamos mais personagens negros, asiáticos e até, talvez, indígenas, na história. Se um desses personagens for protagonista, então, Deus me livre e guarde de todo o mal, amém! Afinal, um mundo de fantasia europeu não pode ter personagens etnicamente diversos, uma vez que eles sequer existiam à época, não? Sabe como é, pessoas negras, asiáticas, indígenas e afins só surgiram quando o homem branco colonizou suas terras e não havia contato entre diferentes culturas antes disso. Antes? Todos eram brancos.
A História nos diz que haviam romanos negros (não se nascia romano apenas, as pessoas podiam se tornar), que os mouros tinham contato com europeus (Shakespeare não inventou a raça negra) e que, antes da neocolonização, já havia trocas e comércio entre europeus e asiáticos. Assim sendo, não é como se os mesmos fossem desconhecidos. E, se for verdade que os vikings vieram para a América, até os indígenas já eram conhecidos há séculos. Claro, alguém vai insistir no argumento histórico, dizendo que a Europa não era tão diversa antigamente quanto é hoje em dia. Concordo, não era tão diversa, mas havia diversidade. Porém, me apego ao seguinte fato: a fidelidade histórica só surge quando convém. As pessoas só querem fidelidade na hora de representações raciais e étnicas (ainda assim, vemos loiros, morenos e ruivos em ambientes onde às vezes não se tinha essa mistura toda, mas, como têm todos o mesmo tom de pele…), contudo, quando se trata de dar vida a criaturas que sequer existiram, o argumento de manter a História intacta cai por terra. Alguém pode dizer: mas são lendas europeias! Eu digo: A Terra Média não fica na Europa, Westeros também não e Nárnia nem se fala. E notem que não estou acusando seus autores de não escreverem visando a diversidade, estou apenas dizendo que não faz sentido clamar por respeito ao “passado” quando nenhuma dessas histórias aconteceu em nosso mundo.
Para concluir, quero apenas dizer que, quando alguém clama respeito à História, geralmente está apenas dizendo que a sua visão de mundo tem que prevalecer sobre a dos outros. E que a sua visão, infelizmente, não leva em conta a diversidade por ser mais conveniente não se tocar no assunto.
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